TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Intituto nacional da seguridade social

Por:   •  4/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  5.426 Palavras (22 Páginas)  •  380 Visualizações

Página 1 de 22

“RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA”: UMA OBRA

COMO OBJETO DE DENÚNCIA

Bianca Meira Lopes (graduanda) - (UEPG)

Resumo: O presente estudo tem como objetivo analisar a obra literária de estreia “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” do autor Afonso Henriques de Lima Barreto. A análise será realizada pelo viés da vida e obra do autor, e a partir disto, será vista como recurso usado por Lima Barreto para denunciar mazelas sociais como a corrupção e a descriminação que ele próprio vivenciou, a partir de narrativas dos bastidores da imprensa na virada do século XX. Localizando a obra dentro da chamada literatura negra, ela será analisada como uma produção literária em que a voz negra aparece fortalecendo sentidos sobre sua própria condição social, partindo do pressuposto de que ao narrar a vida do personagem Isaías Caminha, Lima Barreto parece estar contando sua própria história, causando no leitor um reconhecimento do autor em seu personagem. Em outra perspectiva teórica, será abordada a crítica em relação à recepção do referido romance, bem como seu controverso caráter autobiográfico. Futuramente, a análise subsidiará a elaboração de proposição didática para o trabalho com literatura no Ensino Médio, considerando a Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica.

Palavras chave: Literatura negra. Literatura Autobiográfica. Denúncia.

Introdução:

A obra “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” é o romance de estreia do autor Lima Barreto, publicado pela primeira vez em folhetim e só depois em volume, em 1909, em Portugal, devido à dificuldade de publicação no Brasil.

O romance mostra a realidade da sociedade brasileira na virada do século XX. É uma obra cercada de críticas à sociedade corrupta e preconceituosa, à política, à imprensa da época, aos literatos que frequentavam a boemia carioca e ao racismo.

Na obra estão presentes vários traços semelhantes entre o autor e seu personagem protagonista, o que acarreta um tom autobiográfico ao texto. Sobre isso Florencio diz o seguinte: “Ao reconhecer na história de vida do protagonista da narrativa dados diversos da biografia do autor, o leitor vê-se diante de um romance de conteúdo autobiográfico que se mescla a mais livre invenção romanesca.” (FLORENCIO, 2010, p.136).

Portanto, serão analisados traços autobiográficos que nos remetem a crer que a obra é de conteúdo autobiográfico. Além disto, a obra também será localizada dentro da chamada literatura negra, através de características que a incluem dentro do contexto teórico.

Vida de Lima Barreto

Segundo a biografia de Lima Barreto, contida na própria obra “Recordações do Escrivão Isaías Caminha, o autor era filho de mulatos e nasceu no dia 13 de maio de 1881 no Rio de Janeiro. Sua mãe morreu precocemente, quando Barreto tinha apenas 6 anos de idade.

Aos 16 anos, Barreto começa a frequentar a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, a fim de cursar engenharia civil, e é a partir desse momento, que ele começa a conhecer e a conviver de fato com o racismo.

Mas sua grande paixão não era o que cursava, e sim as letras, a literatura, tanto que em 1900 começou a dar seus primeiros passos como escritor, ano em que iniciou os registros de Diário Íntimo. Em 1903 abandona o curso de engenharia e em 1905 começa a escrever reportagens que são publicadas no jornal Correio da manhã. Na mesma época começa a escrever o romance Clara dos Anjos. Em 1907 é publicado em folhetim Recordações do Escrivão Isaías Caminha.

Além dos livros Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, Triste fim de Policarpo Quaresma, Os Bruzudangas e as obras já citadas acima, que são as mais conhecidas, o autor também se dedicou a escrever contos e crônicas.

Apesar de seu talento, as coisas sempre foram difíceis para o autor. Ele sabia que não seria fácil publicar suas obras e ser reconhecido. Ele escrevia uma boa parte, depois parava, após um tempo retornava a escrever, e assim concluía suas obras, que muitas vezes eram cercadas de um desânimo. “Depois de três meses de interrupção, deu-me vontade de escrever, ou continuar a escrever meu livro. Publicá-lo-ei? Terá mérito? Em avant.” (BARRETO, SD, p. 45).

Com as dificuldades de publicação de seus livros e tantos outros obstáculos que apareciam sempre à sua frente, Barreto afogava as mágoas com a bebida, e em 1914 foi internado em um hospício, por estar tendo alucinações alcoólicas, onde ficou por dois meses. Em 1919, andava pelas ruas em delírios e é recolhido novamente ao hospício, de onde só sai no ano seguinte. Em 1 de novembro de 1922, Lima Barreto falece, vítima de um colapso cardíaco.

Recordações do Escrivão Isaías Caminha

A obra está narrada em primeira pessoa pelo protagonista Isaías Caminha, que conta sua trajetória desde seus 19 anos de idade.

Isaías é um garoto mulato, que vivia no interior do Rio de Janeiro. Ele tinha uma imensa admiração pela inteligência do pai e pela simplicidade de sua mãe. O menino pobre fugia dos brinquedos e de grandes grupos de crianças, no entanto, tinha uma enorme energia para com os estudos. Uma de suas professoras o admirava por isso, o que fomentava ainda mais sua vontade de estudar. Ele sentia a necessidade de ser alguém diferente, que para ele, seria se tornar doutor. Para realizar seu sonho, Isaías precisaria se mudar para o Rio de Janeiro, onde teria mais oportunidades.

O jovem decidiu partir para a capital, e seu tio Valentim foi quem o incentivou nessa decisão, indo imediatamente com seu sobrinho à casa do Coronel Belmiro para pedir a este, que escrevesse uma carta recomendando o sobrinho ao doutor Castro, uma pessoa que Valentim já conhecia e que poderia ajudar Isaías no Rio.

Com a carta Isaías partiu para o Rio de Janeiro, com o intuito de estudar medicina. Seus primeiros dias na cidade foram cercados de preocupações. Sem conseguir falar com o Dr. Castro, ele preocupava-se com o dinheiro que logo mais faltaria. Alguns dias depois, consegue falar com o Dr. Castro, mas no fim, descobre que ele não quis fazer nada para ajudá-lo. Mais uma vez, Isaías se preocupa com a miséria que pensava estar esperando por ele.

Sem dinheiro, Caminha começa a passar por dificuldades. É obrigado a vender seus livros e suas melhores roupas para pagar as diárias de um cômodo onde estava hospedado e se alimentar. Ao escrever à sua mãe, conseguiu que ela o mandasse algum dinheiro, porém, após algum tempo, ela acaba se adoentando e vem a falecer. Isaías recebe a notícia da morte de sua mãe e tem apenas uma leve e passageira dor.

Além de estar na miséria, Isaías Caminha também passa por muitas humilhações, chegando a ser acusado de um roubo no hotel em que estava hospedado.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (33.3 Kb)   pdf (294.5 Kb)   docx (24.4 Kb)  
Continuar por mais 21 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com