O Caso dos Exploradores de Cavernas

O Caso dos Exploradores de Cavernas

Lon L. Fuller

Relatório :

Este caso aconteceu no início do mês de Maio do ano 4299, quando um grupo de exploradores, membros de uma sociedade amadorística Espeleonlógica que em companhia de Roger Whetmore, também membro de tal sociedade, resolveram explorar uma caverna no planalto central de Commonwealth.

Tudo pronto, embrenharam à Caverna com algumas provisões, rádio comunicador; como mais tarde confirmou-se pela sociedade.

Quando já estavam bastante distantes da entrada da Caverna, ocorreu um desmoronamento que obstruiu sua passagem para a superfície e foi nesse momento que algumas decisões foram tomadas, primeiramente no sentido de se manterem próximo à saída para que no caso do resgate fôssem fácilmente encontrados pela equipe de auxílio que certamente se formaria para o salvamento.

Após a descoberta do não retorno dos exploradores às suas casas, formou-se uma equipe de resgate no Condado de Stowfield, pois antes de sua saída os mesmos informaram onde estariam em excursão.

Devido as dificuldades encontradas, principalmente pela distância do Condado à Caverna, vários acréscimos de homens e máquinas foram acontecendo durante os trabalhos de resgate.

Muitas vezes os trabalhos foram interrompidos por novos deslizamentos acontecendo inclusive em um deles, acidente com morte de dez operários da frente de resgate.

Para este fim a Sociedade angariou algo em torno de 800.000 frelares, mas que em função das condições de trabalho foram  esgotados mesmo antes do resgate dos exploradores.

Estabeleceu-se então comunicação entre a equipe de resgate e os exploradores, pois decorridos tanto tempo e após muitas tentativas de salvamento, percebeu-se que o volume de provisões já era escasso e a vida dos exploradores estaria em risco.  

Nesse ínterim, Whetmore aventou a possibilidade de sobrevivência por mais dez dias desde que o grupo se alimentasse com a carne do sacrifício de um deles.

O presidente da comissão assentiu muito a contra gosto que a possibilidade era em fato real.

Só que antes da decisão ser tomada, Whetmore queria a anuência de um juiz, ou alguma autoridade governamental ou até um sacerdote que endossasse sua alusão à possibilidade drástica de sobrevivência. Após estes contatos o rádio-comunicador dos exploradores  silenciou-se por causa das baterias ou porquê o grupo o fêz propositadamente, pois Whetmore aparentemente havia renunciado à idéia do sacrifício e optaria pelo risco da sobrevivência sem alimento.

Ocorre que ao 33º dia após sua entrada à Caverna os exploradores foram resgatados e Whetmore havia sido morto e servido de alimento para o grupo.

Após o fato, instaurou-se inquérito seguido de processo e condenação do grupo à pena de morte no ano de 4300.

Fundamentação :

Ora, a situação dos exploradores era crítica e mortal, sem provisões, sem contato com o grupo de resgate e sem saber exatamente quanto tempo ainda iriam ficar dentro da caverna, nada mais lhes restava que tentarem uma saída, mesmo que drástica, mas uma saída que salvasse a maior parte do grupo em detrimento de uma ou mais vidas.

Independente da "quem quer que intencionalmente prive a outrem da vida, que seja condenado à morte pelo fato"; a situação dentro da Caverna havia tomado rumos conflitantes com relação a aplicação do D. Positivo.

Perante essa situação, o D.Positivo, o D. Natural e o direito à vida, já transparecia que o acordo mais eminente entre  os exploradores seria que com algum sacrifício a possibilidade de vida se estabelecesse para maior parte do grupo.

A controvérsia entre o D. Positivo e D. Natural neste momento já era questionável, pois naquela situação, as necessidades e os costumes se conflitavam, criando-se então uma nova situação : "o D. da Sobrevivência".