O Crime do padre Amaro
Por: Francineide Sampaio • 2/6/2018 • Trabalho acadêmico • 2.317 Palavras (10 Páginas) • 958 Visualizações
DATA:23/11/2015 |
PROFESSORA: JULIE RODRIGUES ALVES |
DISCIPLINA: CRIMINOLOGIA |
RESPOSTAS
Questão 1 Qual a História da Obra? R: A História da obra de Eça de Queiróz, escritor Português, foi publicada pela primeira vez em 1875. Nesse romance, em sua fase mais influenciada pelo Realismo-Naturalismo, o autor ataca a corrupção do clero – a qual manipulava a população em favor da elite – e expõe a hipocrisia da burguesia portuguesa. Em terceira pessoa, ele busca fazer com que o leitor da época possa deslumbrar os valores morais da sociedade de seu tempo. Em sua obra Eça de Queiróz cria um retrato da época do coloquialismo português. O Romance se passa na cidade de Leiria, interior de Portugal, abrange o ambiente da sagrada igreja, da sacristia e a casas de beatas. Eça ataca ferrenhamente os problemas endêmicos que abalam a sociedade. Seus personagens recebem críticas ferozes sem exceções, tanto no meio eclesiástico quanto no ciclo social que rodeia os padres. Quase todas as personagens são apresentadas de forma cínica, debochada e crítica, com raras exceções. O crime do Padre Amaro, desnuda todos os jogos de fachadas e o falso moralismo de que costumava se revestir certos dogmas e costumes religiosos. Explanado o tema central abordado no romance. Podemos também revisitar os temas adjuntos ao central, nos quais percorrem a obra como o paradoxo que existe entre o que é pregado pelos lideres religiosos e o que eles vivem na pratica. Outra denúncia que se faz é de ordem socioeconômica, é o contraste da pobreza da população em geral e a vida abonada do clero. No entanto o ultraje, a abelhudice, a banalidade, a futilidade, a superficialidade, a dissimulação, o oco interior das pessoas, o desejo de ascensão ao poder através da religião, a utilização da religião como instrumento político e o repudio ao culto da superficialidade das aparências e da convenção também permeiam a toda trama romântica da obra de Eça de Queiróz. |
Questão 2 Qual a Relação com a Criminologia? R: Após a leitura da obra, nota-se que a conduta criminosa do Padre Amaro – assim como a de outros criminosos – foi influenciada por fatores: a) Endógenos: como a ausência de vocação e de interesse do jovem, que, desde cedo, possuía uma índole libidinosa. Amaro entrou para o seminário por imposição da marquesa de Alegros – para quem os pais dele trabalhavam antes de falecerem, ela o criou para o sacerdócio. Isso acaba se efetivando, apesar de triste e resignado Amaro se ordena padre, sempre tentando conter os fortes impulsos sexuais. Mesmo sendo devoto, ele detesta a vida eclesiástica. b) Exógeno: o que lhe dá liberdade de ir à conquista de Amélia foi descobrir o caso entre o Cônego Dias e a mãe dela. A partir desta descoberta, Amaro se deixa levar pela atração sexual satisfazendo os seus impulsos, seguindo o exemplo de seu antigo mestre. Eça de Queiroz escreveu três finais diferentes, sendo dois relevantes para finalidade deste trabalho. Em todos os finais Amélia engravida, o que leva Amaro ao desespero. A história continua com Amaro buscando um meio para resolver o problema. Após tentativa frustrada de casar Amélia com João Eduardo (seu ex-noivo) Amaro soluciona o caso:
Amélia é mandada para passar uma temporada na praia com a irmã do cônego para esconder a gravidez. Como o momento do parto se aproxima, Amaro é aconselhado a enviar o bebê a uma “tecedeira de anjos”, mulher que mata recém-nascidos indesejados. Nasce a criança, que ele leva à ama encarregada de fazer com que desapareça, em troca de pagamento. Quando Amélia pede para ver a criança ninguém à entrega, ela não resiste e, pouco tempo depois, sofre de convulsões e morre. O padre tenta recuperar seu bebê por remorso, mas é tarde. A criança já havia sido morta. Depois da tragédia, ele pede para ser transferido. Reencontra o cônego Dias, em Lisboa. Ambos concluem que a dor sentida pelo caso havia sido superada. No desfecho em analise o padre cometeu o crime de abandono de incapaz pelo ordenamento jurídico brasileiro atual. Previsto no Art. 133 do Código Penal.
Padre Amaro convence Amélia a fazer um aborto em uma clinica clandestina e insalubre e esta vem a morrer em decorrência de uma hemorragia. Nota-se total distorção de valores clericais pelo Padre, pois a igreja católica defende a vida em todas as etapas. Ele como seu representante deveria ser o principal defensor da vida no ventre de Amélia. Neste caso o Padre cometeu um crime preterdoloso, ele responderia pelo crime com base no Art 29 do atual Código Penal que diz que quem de qualquer modo (doloso ou culposo), concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Portanto, o fato de não ser o induzimento tipificado não quer dizer que o padre Amaro que influenciou Amélia a fazer o aborto, não possa ser enquadrado pelo artigo 126, ainda que se entenda que o provocar o aborto seja agir fisicamente para que o aborto ocorra, seja por meio de uma operação ou por meio de remédio abortivo. Quem induz responde em coautoria com a gestante. Amaro também responderia pela forma qualificadora prevista no Art. 127 do C.P., visto que, em consequência do aborto a gestante veio a óbito – tendo como base o mesmo artigo. Pois, sua participação foi essencial para existência do crime. É importante ressalta que há dolo no fato do aborto e culpa na morte dela. Todavia como não veio a publico e muito menos a julgamento o Padre Amaro continuou vivendo a sua vida de falso moralista e religiosidade. |
Questão 3 Qual a Vinculação com o Direito? R: Na obra, Eça de Queiroz ressaltou uma verdade crua, e sua obra tornou-se um espelho da sociedade da época denunciando a corrupção no meio eclesiástico. A lei do Celibato pode ser um fato que leva muitos padres a cometer crimes sexuais, porém, de acordo com a Lei Canônica, o voto do celibato é quebrado quando o padre se casa, mas nem sempre quando eles têm relações sexuais. A lei impede que eles se casem, mas não interfere na vida particular deles. Amélia foi apenas mais uma vitima, no qual o castigo caiu por cima dela, com sua morte e o assassinato de seu filho. Após isso Amaro partiu para Lisboa como se estivesse apagando o seu passado. Essa é a vinculação com o direito, porque os padres não podem se casar, mas podem ter relações sexuais com as mulheres, sem ao menos se importar com as consequências e punições (que podem ou não acontecer), e quando as mesmas acontecem, a mulheres que pagam o castigo, para que assim os “escândalos sexuais” dos padres não venham à tona. Porque no momento em que a criança nasceu, ele a tirou de Amélia e o levou para a tal senhora “fazedora de anjos”, e o direito dessa mãe de ter o seu filho? Ele fez isso sem o seu consentimento. Ao invés de criar o seu filho ele o entregou para outra pessoa que acabou tirando a sua vida, e em nenhum momento foi punido por isso. E o direito da criança de viver? O crime do padre Amaro desnuda todos os jogos de fachadas e o falso moralismo de que costumava se revestir certos dogmas e costumes religiosos ofendendo a ética e a moral dos bons costumes pela a corrupção dos pecados da carne e pelos prazeres mundanos. |
Questão 4 É possível identificar o comportamento dos “possíveis” criminosos da obra? R: Sim, é possível identificar o comportamento do padre Amaro Vieira, na verdade é bem nítido, até porque o narrador é onisciente e sabemos quase tudo o que se passa na cabeça do padre, o que ele pensa fazer e o que faz. À medida que vamos descobrindo os pensamentos de Amaro percebemos que ele é uma pessoa emocionalmente instável, num momento pode amar uma pessoa e no momento seguinte odiá-la com a mesma intensidade, e ele se enraivece rapidamente por coisas pequenas e que ás vezes estão só na mente dele. Esse forte temperamento se deve a sua infância e adolescência, ele ficou órfão ainda muito jovem e passou para os cuidados de uma marquesa, que ordena que Amaro vá para o seminário e posteriormente se torne padre, sem que ele tenha a mínima vocação para essa vida. O padre também é bastante egoísta, usa e manipula várias pessoas para o seu próprio proveito, ele faz de tudo para resolver seus problemas e as pessoas são meros obstáculos e instrumentos para que seus objetivos sejam concretizados. O crime que ele comete, de ordenar o assassinato do seu próprio filho, é motivado por seu egoísmo, desde o momento que ele descobre que Amélia está grávida ele só pensa em como aquilo vai prejudicá-lo se este fato for levado ao conhecimento de todos, em como ele vai perder toda a sua credibilidade, seu cargo de pároco e consequentemente sua boa vida. Para ele matar um bebê é algo totalmente plausível, já que esse bebê só vai trazer problemas a ele. |
Questão5 Qual a perspectiva e influência para a sociedade da época? R:A obra busca retratar a realidade de forma objetiva, a moral, a santidade, os costumes e as praticas cotidianas são reveladas sem nenhum idealismo. A situação descrita é a mais semelhante possível da realidade. Eça de Queiroz combateu a igreja católica, e mostrou a verdade sobre o que os padres pregavam e o que realmente faziam, denunciando assim a hipocrisia religiosa. |
Questão 6 Qual o paralelo da História com a sociedade atual? R: A obra revela uma sociedade conservadora que busca preservar as aparências e esconder sucessivas condutas que no âmbito da opinião social tornam-se reprováveis por questões morais e de bons costumes. A Figura da mulher retratada na obra é de uma pessoa que constantemente é julgada na sociedade e, que por isso, tem a preocupação em preservar sua honra. Hoje, apesar de todas as mudanças no corpo social, ainda é possível observar uma pequena parcela dessa preocupação com a honra. A obra também mostra o quanto a figura do padre pode ser mistificada, estando acima de qualquer suspeita de crime, em outras palavras, um ser incapaz de praticar condutas criminosas. Ainda hoje é possível observar uma certa surpresa da população quando se fala de um crime cometido por um padre. Na obra também é possível notar a influência da moral na sociedade, sendo uma punição moral mais abrangente e surtindo maiores efeitos que a própria lei em si. Dessa forma é possível estabelecer um paralelo entre a sociedade atual, que apesar de ter sofrido algumas alterações no decorrer do tempo ainda preservam uma parcela do conservadorismo e principalmente da moral, que se mostra ainda mais tendente a produzir efeitos que o direito positivado. |
Questão 7 Qual a relação da obra com as Escolas Criminológicas? R: O enredo do livro O Crime do Padre Amaro pode ser classificado de maneira sucinta dentro da Escola Criminológica Clássica, visto que contém muitos aspectos distintos que são apresentados no decorrer da história e que por ventura se desenvolvem em uma época que ainda contem resquícios da influencia monárquica. A legislação é praticamente toda baseada nos moldes religiosos, segundo as normas da Igreja Católica Apostólica Romana, a qual tem como principio fundamentais os mandamentos bíblicos e o entendimento dos Concílios Ecumênicos do Vaticano, os quais a dita Teoria Clássica pode ser subentendida de maneira clara por conta da semelhança e inspiração cristã. A Escola Clássica tem como uma de suas características principais a ideia de que o delinquente é um pecador que optou pelo mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei e as normas de Deus. Como o protagonista Padre Amaro tinha o dever de respeitar as normas do celibato e assim não o fez, tende-se a entender que ele já havia sido corrompido desde sua concepção, pois não se inclinou ao caminho correto nascendo no mal e permanecendo-se no mal. Em vários momentos do livro podemos perceber que Amaro já tinha vestígios de suas características libidinosas desde muito jovem e antes mesmo do contato com o sacerdócio e que essas características apenas evoluíram com o passar dos anos, mas de maneira repreendida pelos dogmas, e foram a razão de seus delitos diante da Igreja e da sociedade. Segundo os próprios classicistas pioneiros, o crime possui suas raízes em um profundo mistério ou enigma oculto, que vai muito além da concepção do ente humano e sempre trazem consigo a ideia do sobrenatural ligada a imagem do pecado e do corrompimento, assim como a ideologia da Igreja naqueles tempos longínquos. |
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