O Público e o privado: A violência contra a mulher e a criança
Por: Ariany Esteves • 5/6/2018 • Artigo • 4.251 Palavras (18 Páginas) • 160 Visualizações
O público e o privado: a violência contra a mulher e a criança
A luta a favor da mulher e da criança possui poucos anos de história e seu processo está gradativamente elevando-se. Mulheres de todas as etnias, de todos os países e cidades vão garantindo direitos ao longo da jornada humana. No entanto, é valido ressaltar que esse “despertar de olhos” só ocorreu parcialmente durante a Primeira Guerra e se completou no pós Segunda Guerra Mundial quando a figura feminina “surgiu” e conquistou posições importantes no setor industrial, político, econômico e social, expandindo desse modo, sua liberdade de escolha e ideais.
Já durante a Primeira Grande Guerra as mulheres tinham ingressado maciçamente no mundo do trabalho para substituir os homens, que estavam na frente de batalha. Numa França mais rural e mais tradicional, elas eram 363 mil, ou seja, 25% do total de trabalhadores em fábricas[1].
O mesmo ocorreu na Segunda Guerra mundial, onde o crescente número de mortos no front de alguns países como Alemanha, Polônia e Rússia, levaram as mulheres a arregaçavam as mangas e substituírem o avental da cozinha por uniforme de indústria para manter o sustento de sua casa e de seus filhos. Além disso, milhares de crianças trocaram as bonecas, bolas e carrinhos de madeira por graxa e maquinário, recebendo alguns Reichsmark, Zlotys e Rublo, um trabalho forçado e necessário para a sobrevivência na época que acabou dizimando alegrias e brincadeiras infantis.
Esses humanos, considerados minorias, muitas vezes foram jogados nas estradas e passaram a viver nas ruínas, resultado de intensivos bombardeios regionais. Números tão expressivos não devem fazer esquecer que se trata de outros tantos destinos, outras tantas histórias diferentes, sempre rocambolescas, por vezes trágicas.
Além do mais, houve uma explosão de casos de estupros na década de 40 diante da “demanda” dos exércitos. O caso mais famoso foi o Massacre de Nanquim, episódio em que ocorreram assassinatos e estupros em massa cometidos por tropas do Império do Japão contra a cidade de Nanquim, na China. Soldados japoneses arrastaram mães, solteiras e adolescentes para caminhões para transformá-las em escravas sexuais. Muitas delas, que os japoneses chamavam de “mulheres de conforto”, foram exportadas como escravas para os 2 mil bordéis militares que o Japão havia espalhado pelo continente asiático. Outro acontecimento importante e nefasto foi a aniquilação dos civis que se efetivou em um intervalo de dois dias. A “Rua da Morte”, assim batizada, ganhou esse nome pela quantidade de cadáveres que cobriam as duas ruas principais da cidade. Esse evento lamentável continua a ser uma questão política controversa que interfere nas relações entre os dois países, pois a problematização em si não se baseia apenas no âmbito diplomático, possui proporção maior, já que se consolidou uma nova geração de indivíduos, frutos desses 20 mil estupros e perturbou o psicológico de milhares de cidadãos chineses[2].
Contudo o governo alemão, averiguando a ascensão de casos de estupros em seu Estado, investe na profissão mais antiga do mundo, a prostituição. Heinrich Himmler (um dos principais líderes do Partido Nazista Alemão) é a favor da multiplicação dos bordéis policiais e medicamentos controlados a fim de fornecer aos seus homens condições dignas para ter suas relações sexuais, caso contrário milhares de trabalhadores estrangeiros se lançariam sobre as mulheres e jovens alemãs. Assim, se Himmler não aprova evidentemente os impulsos sexuais de seus soldados alemães, ele mantém os bordéis para maior segurança e também para um rendimento melhor da tropa[3].
para um rendimento melhor da tropa A violência, portanto, não está limitada apenas na agressão física ou verbal, ela é maior que isso, ultrapassa fronteiras e está, mesmo que de modo invisível, instalada nas sociedades e tempos. Entre elas, a violência psicológica é a mais perturbadora e angustiante, mantém-se enraizada nas entranhas do pensamento e deixa rastros trágicos durante a vida de uma pessoa.
Atualmente, tem-se como exemplo a criança pedindo esmolas na rua, um reflexo de uma violência contra a sua dignidade, contra os seus direitos de obter uma moradia, educação de qualidade e alimentação saudável. Uma mãe solteira muitas vezes sofre agressão ao ser tachada de irresponsável, imatura e promiscua.
Vistos como símbolos de inferioridade, fraqueza e incompetência, a mulher e a criança são diariamente vítimas de exploração, opressão, maus tratos e desrespeito. Com um leque na
mão são capazes de apontar as diversas formas de violência que sofreram durante a sua vida, por aqueles que os consideram irrelevantes.
Muitos são aqueles que pensam que a violência está limitada nos grandes centros urbanos como a cidade do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. É uma linha de raciocínio errado e alienante, fortalecida muitas vezes pela própria mídia local que evita noticiar fatos que fogem das fronteiras metropolitanas. Isso dificulta drasticamente o acesso à informação ligada à violência em determinadas áreas do país, uma cegueira capaz de impedir a erradicação dos crimes em nível nacional, transformando em esquecidos àqueles que são vitimas de atrocidades e necessitam de auxílio.
A violência está impregnada em todas as regiões do território brasileiro, desde a Serra da Saudade (menor cidade do país, localizada em Minas Gerais), até a maior capital, São Paulo. O que essas cidades possuem em comum, nada mais é do que a sua composição fundamental: homens, mulheres e crianças. Estes, em qualquer lugar que habitam são os mesmos em sua essência, ou seja, um indivíduo é igual ao outro, carece de proteção, respeito, direitos e deveres, e por esse motivo não deve ser esquivado. O que se modifica de um ser para o outro é a sua identidade pessoal, sua cultura, seu regionalismo e suas demais adversidades. No entanto, é responsabilidade do Governo como autoridade máxima e dos cidadãos éticos, atentar-se para os quatro cantos do Brasil e enxergar de maneira eficaz a violência que nele está oculta.
É complexo imaginar que em nosso país haja casos de violência contra a criança e a mulher em pequenas comunidades. Mas eles existem e são mantidos às escuras. Em Bastos, uma pequena cidade do interior paulista com população limitada em torno dos seus 21 mil habitantes, esbanja a beleza da cultura dos seus colonizadores japoneses na arquitetura e festividades locais. O carisma e a simpatia rodeiam essa simples comunidade e o contato entre os cidadãos é excessivamente alto. As famílias se conhecem de gerações passadas e é praticamente inevitável sair pelas ruas sem se deparar com algum amigo ou conhecido. Mas como aceitar que nesse local, habitavelmente pacífico, possa existir vestígios de violências? E como entender que com tamanho contato humano essas agressões são mantidas e caladas?
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