Resenha - Na Colônia Penal

KAFKA, Franz. Na Colônia Penal. trad. Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

A obra “Na colônia penal” é uma novela escrita por Franz Kafka, que retrata a visita de um explorador a uma determinada cidade.

O autor Franz Kafka nasceu em 1883, em Praga. Era filho de um comerciante judeu muito abastado e cresceu sob as influências de três culturas: a judia, a tcheca e a alemã.

Na adolescência, declarou-se socialista e ateu e participa de reuniões com grupos anarquistas. Cursou Direito em Praga, formando-se em 1906. Trabalhou em companhias de seguros e, em paralelo, dedicou-se à Literatura. Em 1917, é obrigado a afastar-se do trabalho devido à tuberculose. A maior parte das suas obras foram publicadas postumamente.

Fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo. É considerado um dos principais escritores de literatura moderna. O estilo de escrita do autor é marcado pela crueza e pelo detalhamento com que descreve situações incomuns, como é o romance “Na colônia penal”. Basicamente suas obras retratam as ansiedades e a alienação do homem do século XX, sempre demonstrando o confronto entre os personagens e o poder das instituições, bem como a impotência e a fragilidade do ser humano. O autor morreu em 1924.

A história tem como personagens um explorador, dois comandantes, um antigo e o atual, um oficial, um soldado e um condenado, também soldado e se passa em apenas um cenário, um lugar com um pequeno vale aberto, exposto a um sol muito forte, que, conforme descreve o autor ‘que dificultava até a junção dos pensamentos’. Ademais, no local, havia um fosso, o aparelho para a execução e um talude.

O explorador é recepcionado pelo oficial do local, porque foi convidado para assistir à execução de um soldado pelos crimes de desobediência e insulto ao seu superior.

Importante salientar que o autor descreve o aparelho que servirá para a execução do condenado de forma bastante rica em detalhes, descrevendo que o aparelho é composto por três partes e para que serve cada parte.

A máquina, mediante agulhas de vidro, escreve sobre o corpo do condenado a disposição de norma que foi violada por ele. O procedimento é lento e o executado pode passar até 12 horas sob tortura.

Nota-se que o maquinário tem para o oficial, bem como tinha para a sociedade anteriormente, papel fundamental no consciente coletivo daquela colônia, onde todos sabiam das consequências caso quebrassem as leis, especialmente os militares ali lotados.

Assim, o oficial do maquinário, composto pela cama, desenhador e rastelo, demonstra total afinco pelo seu cumprimento legal, onde relata que, desde algum tempo, está envolvido com essa atividade, desde quando um antigo comandante exercia o poder legal. Neste caso, demonstra ainda raízes difíceis de serem modificadas, uma vez que acredita fielmente que aquele modelo de processamento judicial é o mais eficaz, sendo um modelo composto basicamente de punição arbitrária e direta, sem sequer prestar informações e/ou os comandos da sentença a ser cumprida.

Ademais, durante a ficção, o autor demonstra a mudança de comportamento dos personagens, na medida em que, no início, tanto o explorador quanto o soldado não se interessavam com o que acontecia ao redor deles, enquanto que o oficial era o único interessado na máquina e nas suas consequências. Já o condenado, no início, com perseverança, procurava entender o que o oficial tanto explicava, bem como o que estava se passando ao redor. Apenas mais no final da trama é que o condenado mostra interesse pela máquina. Também, na medida em que o oficial explica para o explorador sobre as funções do aparelho, este se mostra mais interessado, o que faz com que o oficial detenha mais respeito por ele.

Um ponto importante da história é quando o oficial revela ao explorador que cada tipo de sentença é, na verdade, um desenho feito à mão pelo antigo comandante, que será gravado no corpo do condenado. Ainda, o oficial anuncia que nem mesmo o próprio condenado sabe o porquê está sendo condenado, que é desnecessário dizer para ele, uma vez que ele vai sentir na pele.

Não há, neste momento, a ampla defesa tampouco contraditório, apenas o órgão julgador, representado pelo oficial, que rege pela máxima de que a culpa sempre é indiscutível.

O oficial considerava que se chamasse o acusado e o interrogasse, apenas surgiriam complicações, dessa forma, optava pela inexistência de defesa.

Todo esse método é herança do antigo comandante, porém, o comandante atual demonstra desejo em modificar este sistema punitivo.

Na história, o condenado foi denunciado por um capitão, que relatou que o trabalho do condenado era bater continência diante da porta do capitão a cada hora, mas que, na madrugada, o capitão abriu a porta do quarto e viu o soldado dormindo. Então, o capitão pegou o chicote e golpeou o rosto do soldado. Em vez do soldado pedir desculpas, ele teria segurado as pernas do capitão e dito para o capitão soltar o chicote, se não o soldado o engoliria vivo.

Aos poucos, o explorador começou a pensar naquele sistema, começou a pensar se aquele procedimento era mesmo válido ou não, pois estava vendo por fora, por ser estrangeiro. Primeiro se viu justificando aquele sistema, pois, por ser uma colônia penal, justificaria a medida excepcional. Após, começava a crer que o novo comandante mudaria o sistema e que não precisaria mais de penas tão severas. Assim, o explorador começa a prestar atenção no condenado e se importar com ele.

O condenado então foi colocado na máquina, para que então começasse o procedimento, enquanto que o oficial explicava a diferença entre o antigo e novo comandante, de modo que, na época do antigo comandante, os recursos para o funcionamento da máquina eram facilmente acessados, enquanto que com o novo comandante, era mais difícil.

Interessante notar como a população reagiu ao longo do tempo com a execução feita