A DÉCADA DE 1990 E A REESTRUTURAÇÃO DO MERCADO VAREJISTA DE SALVADOR: o fim de um monopólio.
Por: MoisesOliveira • 8/5/2015 • Artigo • 6.920 Palavras (28 Páginas) • 908 Visualizações
A DÉCADA DE 1990 E A REESTRUTURAÇÃO DO MERCADO VAREJISTA DE SALVADOR: o fim de um monopólio.
Moisés Dias de Oliveira[1]
Maria Menezes do Amaral[2]
Resumo
Este artigo foi elaborado com o intuito de trazer ao leitor um exemplo prático da dinâmica, dos modelos e conceitos principais no que diz respeito às estruturas de mercado de concorrência imperfeita mais comuns, trazendo como exemplo a mudança estrutural no modelo de mercado dominante, que ocorria no setor supermercadista na cidade de Salvador, Bahia, entre as décadas de 1980 e meados de 1990, onde na rede varejista de supermercados ocorreu uma ruptura do monopólio que propiciou aos consumidores dispor de outras possibilidades de adquirirem as mercadorias de sua cesta de compras.
Palavras-chave: Estrutura de mercado; Monopólio; Oligopólio; Flexibilidade; Especialização Flexível.
Abstract
This article was prepared with the intention of bringing to the reader a practical example of the more commons dynamic, models and key concepts in terms of market structures of imperfect competition, bringing as an example the dominant market structural change occurred between the 1980s and mid-1990, in the Salvador city, Bahia, where the supermarket retailer had a monopoly breakdown which provided that consumers had others ways of acquiring the goods in their shopping basket.
Keywords: Market Structure; Monopoly; Oligopoly; Flexibility; Flexible Specialization.
1 INTRODUÇÃO
Durante quase 30 anos, entre a década de 1960 e meados da década de 1990, uma única empresa[3] dominou o mercado varejista de alimentos em Salvador, alcançando um contingente de mais de 100 lojas no município citado. Essa rede de supermercados determinava o preço de seus produtos por se utilizar da força de ser o maior e o principal comprador-oligopsônio em termo de volume, mas caracterizado como um agente de mercado próximo do monopsônio.
Em tempos de períodos inflacionários ocorria todo o tipo de pressão contra os fornecedores, pois, a rede se comprometia a comprar toda a produção de uma pequena indústria, a exemplo do café torrado e moído, mas o pagamento da compra era dividido em três parcelas de 30, 60 e 90 dias. Com a inflação de aproximadamente 24% ao mês em meados da década de 1980, no final do período pré-estabelecido o produtor recebia em valores reais bem menos do que o acordado em valores nominais.
Todo esse cenário começou a mudar quando, em Salvador, foi diversificada a rede de distribuição de mercadorias desde a abertura da primeira loja e logo depois a segunda de um grande concorrente, dando aos fornecedores uma oportunidade melhor de negociarem seus preços.
Embora já existissem ali outras redes de menor porte, nenhuma outra loja era capaz de fazer frente ao grupo do empresário da rede de maior poder mercadológico. Com a mudança da gestão para outro empresário, a divisão de sua rede de supermercados entre seus herdeiros e a chegada da rede da Companhia Brasileira de Alimentos (CBA), não demorou muito para que algumas lojas da primeira rede fechassem e outras fossem vendidas.
Por conta disso, houve uma pulverização desse patrimônio que contou com o fechamento de algumas lojas e ainda a aquisição de boa parte desse patrimônio pela rede multinacional Wall Mart. Isso foi fundamental para que o modelo de estrutura de mercado, que antes era de monopólio na oferta e monopsônio na demanda, passasse para o de característica de oligopólio com um toque de concorrência monopolista.
Essas duas redes, Wall Mart e CBA, eram capazes de controlar a entrada de novas empresas nesse segmento mercadológico, embora outras empresas já possuam, hoje, lojas na referida capital baiana (Hiper Ideal, Atakarejo, Makro Atacadista, Atacadão, G. Barbosa, e outros) as empresas supracitadas possuem apenas uma fatia específica do mercado consumidor. A rede Atakarejo é a única que vende aceitando pagamentos com cheques pré-datados, enquanto que a rede Atacadão se especializou em vender para a população de menor poder aquisitivo pois, possui um mix de produtos que difere dos produtos das demais lojas em relação a marcas específicas e embalagens de grande volume, poucas são as opções de marcas de um mesmo produto e por não disponibilizar sacolas plásticas e empacotadores, reduz os seus custos.
A própria rede Wall Mart possui lojas desse tipo em Salvador, que são as lojas Todo Dia, estando instaladas em bairros populares da periferia tais como Castelo Branco, Pau da Lima e Pernambués que buscam “abocanhar” uma fatia do mercado que outrora estivera esquecida.
Essa parte culmina com uma discussão sobre a dinâmica dos mercados (barreiras à entrada, concentração de mercado, monopólio, oligopólio, concorrência, diferenciação, flexibilidade e especialização flexível), destacando-se a preocupação com o processo de formação do preço no varejo, de modificação do modelo mercadológico vigente nas décadas de 1980 e 1990 e com os problemas vinculados à sua transformação.
Neste trabalho, para uma melhor compreensão do que se trata, esta abordagem introdutória é realizada com o propósito de analisar os principais modelos de estrutura de mercado, para que o leitor tenha um melhor entendimento do seu conteúdo e, neste intuito, busca-se, na história do pensamento econômico, o referencial teórico Marshalliano para o entendimento do funcionamento desses mercados.
Dando prossecução ao trabalho, serão utilizados dados e informações de fontes secundárias, utilizando-se do método dedutivo, além de fontes conhecidas do ambiente acadêmico, como o trabalho de Michael Porter sobre estratégias competitivas, Mário Luiz Possas sobre estrutura de mercados em oligopólios e outros autores.
Considerando-se que Marshall restabeleceu a ordem no pensamento neoclássico quanto à formação dos preços, até o advento de sua principal obra, Princípios de Economia, era dominante a ideia de que os preços eram determinados exclusivamente pela demanda dos consumidores, a qual tinha como sustentação a noção do “valor utilidade”.
Essa formulação tinha reconhecida motivação ideológica, já que buscava refletir e contrapor-se ao estudo desenvolvido por Marx, no tocante à teoria do “valor trabalho[4]”.
Marshall foi além, ao lançar as bases para a constituição do ramo da microeconomia que passou a ser conhecido como “organização industrial”, que estuda as características da oferta de bens e serviços, com destaque para a estrutura de produção. Ele juntou isso à análise das características da demanda (necessidades, satisfação, elasticidade etc.), dando origem à conhecida noção de “tesoura dos preços”.
Alfred Marshall formulou a noção de utilidade marginal decrescente e as condições necessárias para a maximização da utilidade do consumidor através da troca, obtendo, assim, uma dedução rigorosa das conclusões neoclássicas contemporâneas sobre a teoria da procura, baseadas em sua noção de utilidade marginal decrescente.
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