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Caracterização da Produção Orgânica no Brasil

Por:   •  22/3/2021  •  Artigo  •  7.214 Palavras (29 Páginas)  •  126 Visualizações

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CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS NO BRASIL: UMA ANÁLISE MULTIVARIADA1

CHARACTERISTICS OF THE PRODUCTION OF ORGANIC PRODUCTS IN BRAZIL: MULTIVARIATE ANALYSIS

Larice Simone de Oliveira Ferreira

Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP)

E-mail: laricesimone@gmail.com

Rodrigo Lanna Franco da Silveira

Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP)

E-mail: rlanna@unicamp.br

Pedro Gilberto Cavalcante Filho

Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP)

E-mail: pedro.gilberto@hotmail.com

Grupo de Trabalho (GT): nº04. Questão ambiental, agroecologia e sustentabilidade

Resumo

O presente artigo tem objetivo de analisar a produção de alimentos orgânicos no Brasil em 2006 e 2017, explorando as características do produtor e dos estabelecimentos. Para tanto, além de realizar uma revisão de literatura sobre o tema, o estudo aplicou uma análise multivariada de clusters, com base nos Censos Agropecuários. Os resultados da pesquisa indicam que há significativa heterogeneidade entre os estabelecimentos que produzem orgânicos no Brasil. De um lado, as regiões Norte e Nordeste apresentaram significativa parcela de agricultores de orgânicos atrelados à agricultura familiar, sem orientação técnica, sem vinculação a associações e com baixo nível de instrução. Por outro lado, os produtores familiares de orgânicos das regiões Sul e Sudeste são caracterizados, em geral, por terem bom nível de instrução, acesso à orientação técnica e estarem atrelados a associações.

Palavras-chave: Agricultura orgânica. Clusters. Análise multivariada.

Abstract

The purpose of this work is to analyze the production of organic food in Brazil in 2006 and 2017, exploring the characteristics of the producer and establishments. In addition to conducting a literature review, the study adopted cluster analysis, using the Agricultural Census. Results show that there is significant heterogeneity between establishments that produce organic food in Brazil. On the one hand, the North and Northeast regions had a significant share of organic farmers tied to family farming, without technical guidance, without ties to associations and with a low level of education. On the other hand, family organic producers in the South and Southeast regions are generally characterized by having a good level of education, access to technical guidance and being linked to associations.

Key words: Organic agriculture. Clusters. Multivariate analysis.

1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

09 a 13 de agosto de 2020 | Foz do Iguaçu – PR

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural - SOBER

1. Introdução

A atenção com a qualidade dos alimentos e com os impactos do sistema de produção no que tange os aspectos ambiental, social e sanitário tem sido objeto de preocupação crescente para uma significativa parcela da sociedade. A busca pela prática de hábitos saudáveis e sustentáveis é chave para entender tal processo, o qual ganha novos contornos devido às incertezas e fragilidades relativas à segurança dos alimentos (food security), intensificadas pela pandemia, desencadeada pelo Covid-19.

Neste quadro geral, a produção de alimentos orgânicos ganha destaque como uma alternativa para atender a demanda dos consumidores que estão à procura de alimentos saudáveis, com valores nutritivos, isentos de produtos químicos e que sejam produzidos de forma sustentável (ANDRADE & BERTOLDI, 2012; CESCHIM & MARCHETTI, 2009; CRUVINEL et al. 2017; DIAS et al. 2015; MAPA, 2020c; NIELSEN, 2019; ORGANIS, 2019). Por parte dos produtores, o incentivo à produção de orgânicos ocorre devido a fatores atrelados à cooperação com a preservação ambiental, recuperação de solos, promoção de segurança alimentar, melhora da qualidade de vida dos agentes envolvidos, valorização da cultura local, aumento da biodiversidade do ambiente, geração de renda a partir de um produto que possui valor agregado, entre outros fatores (DAROLT, 2015).

Como apresentado por Willer e Lernoud (2020), no relatório do FiBL & IFOAM2, ao realizar uma análise entre 2000 e 2018, observa-se um aumento significativo na comercialização de produtos orgânicos no mundo – as vendas no varejo se elevaram de € 15 bilhões para € 96,7 bilhões no período acima citado, sendo os Estados Unidos o principal mercado consumidor (com 42% do mercado mundial de orgânicos), seguido pela União Europeia (38,5%) e China (8,3%) (WILLER & LERNOUD, 2020). Outro dado importante que evidencia o crescimento deste mercado tem base na elevação do número de produtores. Enquanto em 2000, verifica-se um total de 253 mil produtores de orgânicos no mundo, este número passa para 2,8 milhões em 2018, o que revela um aumento médio de 14,3% ao ano. A Índia é o país com o maior número de produtores orgânicos em todo o mundo (1,15 milhões), seguido por Uganda (210.352) e Etiópia (203.602). Entre os produtores orgânicos ao redor do mundo em 2018, 47% são provenientes do continente asiático, 28% do continente africano e 8% da América Latina (LIMA, et al. 2020; WILLER & LERNOUD, 2020). Dessa maneira, nota-se que a maior parte dos principais produtores orgânicos é dos chamados mercados emergentes. Por outro lado, os principais países consumidores são aqueles considerados desenvolvidos (Estados Unidos e alguns países europeus).

No Brasil, pesquisa divulgada pelo Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (ORGANIS, 2019) demonstrou que o mercado de alimentos orgânicos faturou R$ 4 bilhões em 2018, registrando um aumento de 20% frente ao ano de 2017. O relatório da Organis em 2019, ainda apontou que o Brasil é o país líder neste mercado na América Latina, confirmando as informações divulgadas pelo FiBL e IFOAM (WILLER & LERNOUD, 2020).

Neste contexto, o presente trabalho tem o objetivo de avaliar a produção de orgânicos no Brasil em 2006 e 2017, explorando características relativas ao produtor (grau de instrução e vínculos

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