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Cuidados Maternos E Saude Psíquica: Um Estudo Psicanalítico Sobre As Consequências Emocionais Das Experiências Traumáticas Na Infância

Por:   •  12/7/2023  •  Projeto de pesquisa  •  6.298 Palavras (26 Páginas)  •  85 Visualizações

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CUIDADOS MATERNOS E SAUDE PSÍQUICA: UM ESTUDO PSICANALÍTICO SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS EMOCIONAIS DAS EXPERIÊNCIAS TRAUMÁTICAS NA INFÂNCIA

Merinalva Batista da Silva1

Pedro Wilson Ramos da Conceição2

RESUMO

  1. INTRODUÇÃO[pic 2]

A atuação da psicanálise ao longo dos anos tem sido significativa em relação ao desenvolvimento do aparelho psíquico, especialmente o aparelho psíquico infantil. Para Fagundes (2017), a infância faz parte da história da psicanálise como uma de suas marcas mais duráveis. Os chamados psicanalistas pós freudianos ampliaram os conceitos de Freud e estruturaram novas teorias (à luz do pai da psicanálise), como Melanie Klein, Winnicott, Bion, Ferenczi, André Green e muitos outros teóricos psicanalistas contemporâneos a respeito do desenvolvimento psíquico infantil.

A psicanálise, desde o início de sua instituição como método investigativo de tratamento psíquico por Freud, sofreu diversos acréscimos e alterações, que mostram um progresso do método (FAGUNDES, 2017).  Melanie Klein, considerada a principal representante da segunda geração psicanalítica mundial, desenvolveu uma nova forma de análise: a análise de crianças. De acordo com Oliveira (2007), Klein aprofundou seus estudos na dimensão psicológica, com intuito de estudar a mente das crianças de tenra idade, suas fantasias, medos, angústias. Melanie Klein introduziu a ideia de posição esquizo-paranóide e posição depressiva e Bion descreveu os conceitos de “Continente” e “Conteúdo”.

A teoria do amadurecimento emocional de Winnicott descreve e conceitua as diferentes tarefas, conquistas e dificuldades que são inerentes ao processo do desenvolvimento psíquico infantil. A base principal de Winnicott para desenvolver sua teoria foram os cuidados maternos e tudo que envolve a relação mãe-bebê. Segundo Conturbia (2017), a teoria do amadurecimento emocional de Winnicott, serve de guia prático para a compreensão dos fenômenos da saúde, bem como, para a detecção precoce de dificuldades emocionais que poderão afetar a saúde psíquica infantil.

A figura materna permeia todo o cenário da teoria de Winnicott.  De acordo com Silva (2018), Winnicott dedicou-se especialmente a apresentar a relevância da mãe no desenvolvimento psíquico do bebê. A mãe tem uma função de destaque na teoria de Winnicott, pois, devido ao seu apoio, o bebê encontrará as condições que lhe possibilitarão ser um indivíduo saudável. A necessidade de um ambiente adequado e favorável para o desenvolvimento das potencialidades do vir a ser do bebê é ressaltada na concepção winnicottiana (CAMBUÍ, 2016), segundo a qual as consequências da falha ambiental para a saúde psíquica da criança ocorrem de acordo com o momento em que a falha acontece, na linha de evolução, que parte da dependência absoluta rumo à independência (FAGUNDES, 2017).

Em relação as teorias a respeito das experiências traumáticas na infância e as repercussões nocivas na vida adulta, Kupermann (1981), um estudioso das teorias de Ferenczi, destaca uma frase de um ensaio do psicanalista intitulado “Transferência e introjeção” (Ferenczi, 1909/1991, p. 98) que diz o seguinte: “raspem o adulto e vocês encontrarão a criança”.  Então, se o infantil sobrevive no adulto, considera-se pertinente desenvolver estudos sobre experiências traumáticas na infância, se os cuidados oferecidos são suficientemente bons para que possa garantir um desenvolvimento psíquico saudável.

Segundo Fagundes (2017), Winnicott propõe que a criança nasce indefesa, com tendências para o desenvolvimento, sendo tarefa da mãe oferecer um suporte adequado para que as condições inatas alcancem um desenvolvimento saudável. Para Melanie Klein (1946), o psiquismo se origina em um vínculo intersubjetivo, em primeiro lugar, a relação de objeto do bebê e sua mãe, estudando as características emocionais deste vínculo, para descobrir qual angústia predominante e as fantasias constitutivo. Então, se a teoria psicanalítica propõe que a constituição da saúde psíquica infantil se estabelece a partir da inter-relação inicial entre a mãe e o bebê, deduz-se que falhas no ambiente materno podem motivar entraves no processo saudável da constituição psíquica infantil.

Conforme Cambuí (2016), o sofrimento emocional manifestado na atualidade revela a fragilidade da constituição e sustentação psíquica, decorrente da instabilidade e da ruptura das relações vinculares, principalmente nos períodos iniciais da vida infantil.  Portanto, considera-se relevante esse estudo para o entendimento da interação do bebê e sua mãe, como também para a compreensão das consequências psicológicas dos traumas infantis.  Diante da indagação a respeito da perspectiva da psicanálise sobre a influência dos cuidados maternos no desenvolvimento da saúde psíquica infantil, esse estudo tem como objetivo analisar a influência dos cuidados maternos no desenvolvimento infantil e as implicações das experiências traumáticas na infância na visão psicanalítica.

Diante da indagação a respeito da perspectiva da psicanálise sobre a influência dos cuidados maternos no desenvolvimento da saúde psíquica infantil, esse estudo teve como objetivo analisar a influência dos cuidados maternos no desenvolvimento infantil e as implicações das experiências traumáticas na infância na visão psicanalítica.

  1. DESENVOLVIMENTO

  1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
  1. A psicanálise e o desenvolvimento psíquico infantil

A psicanálise desde o início de sua criação atuou sobre a forma e modalidade de funcionamento do aparelho psíquico.  Percorrendo uma trajetória de descobertas e estruturação de conceitos, sempre deu ênfase para a importância das primeiras relações na vida do bebê como base para o desenvolvimento psíquico saudável. Conforme Silva e Lemgrub (2017), a partir das teorias freudianas sobre os primeiros anos de vida e a relação destes com os pais, outros psicanalistas também estudaram a influência desses primeiros anos de vida com especial atenção na relação inicial mãe-filho. 

A partir do modelo desenvolvido por Freud, muitos dos seus seguidores ampliaram a teoria psicanalítica, concordando ou divergindo de alguns de seus pontos e criando conceitos. Estas divergências tornaram-se fundamentais para o surgimento de novas teorias, entre elas, as advindas dos teóricos das relações objetais. Cordini (2012) afirma que, para psicanálise hoje, o termo relação objetal diz respeito à capacidade dos indivíduos para os relacionamentos humanos, designando as atitudes e comportamentos do indivíduo para com seus objetos e podendo se referir a pessoas reais ou a imagens mentais.

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