O COMPORTAMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA PÓS PLANO REAL
Por: MauroBing • 13/6/2015 • Pesquisas Acadêmicas • 1.701 Palavras (7 Páginas) • 739 Visualizações
O COMPORTAMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA PÓS PLANO REAL
Após várias tentativas de estabilizar o nível de inflação no país, o governo logrou êxito em controlar de forma mais eficiente a taxa de inflação a partir do Plano Real em 1994, plano responsável pelo combate direto ao componente inercial da inflação, ancorando assim as expectativas inflacionárias dos agentes. Contudo, a sobrevalorização cambial (utilizada no combate à inflação na segunda metade da década de 90) ocasionou forte déficit na balança comercial, tornando a economia brasileira mais vulnerável ao investimento estrangeiro direto para financiar tal déficit. O gráfico abaixo expõe a queda no saldo da balança comercial frente à elevação do investimento estrangeiro direto entre 1994 e 2000.
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Fonte de dados: Banco Central do Brasil
Ante tal cenário de maior dependência pelo investimento estrangeiro e contínuo combate à inflação (principalmente após a instauração do regime de metas de inflação ao final da década de 90), o governo viu-se na obrigação de manter a taxa básica de juros alta, visando evitar a fuga de capitais e manter a inflação controlada, próximo ao centro da meta, deixando à margem investimentos em infraestrutura (tanto diretamente, por parte do governo, quanto indiretamente, pois a juros mais altos era mais custoso para o setor privado investir em infraestrutura), comprometendo assim a evolução da produtividade da economia brasileira no começo dos anos 2000. Ainda que a balança comercial tenha se recuperado durante o começo do século (graças a um câmbio mais desvalorizado), o serviço da dívida começou a ficar cada vez mais custoso ao país, fazendo com que os superávits primários conseguidos fossem suprimidos por déficits nominais, tornando o investimento estrangeiro direto ainda mais necessário para que o país conseguisse fechar a conta do balanço de pagamentos. Um outro ponto relacionado à alta taxa básica de juros é justamente a queda do investimento produtivo frente à crescente rentabilidade proporcionada pelos títulos públicos federais durante os anos 2000, prejudicando assim a produtividade da economia. Para evidenciar essa diminuição relativa do capital produtivo frente ao especulativo no período compreendido entre 2000 e 2008 (pré-crise), nota-se que a queda da taxa de investimento média desse período foi de 16,74%, enquanto que na década de 1980 foi de 22,5%, em paralelo a isso, o nível de investimento estrangeiro direto saiu de R$ 6.965 milhões no início de 2000, para R$ 14.203 milhões no final de 2008, crescendo aproximadamente 104% no período (dados do Banco Central do Brasil).
Nesse cenário de produtividade industrial baixa e alta dependência do investimento estrangeiro e das exportações de commodities, o crescimento do Brasil tornava-se função da liquidez mundial e demanda externa pelas commodities brasileiras, especialmente demanda chinesa. Tal orientação econômica vai em direção oposta à proposta de Kaldor, baseada na indústria como principal motor da economia, no momento em que contribui para uma alocação mais eficiente dos recursos, introduz novas tecnologias, estimula o processo de learn-by-doing, e favorece o superávit na conta de transações correntes. A versão original da teoria kaldoriana prioriza o crescimento do PIB impulsionado pelo aumento das exportações, porém, o processo envolve especialmente a diversificação na pauta de exportações industriais, o que depende de investimentos produtivos tanto para sustentar o crescimento do setor como para atrair investimentos domésticos e externos, além de incorporar o progresso tecnológico, diferente da situação da economia brasileira no período, com uma pauta de exportações muito concentrada em commodities.
Ainda que o governo brasileiro não tenha priorizado o investimento produtivo e de longo prazo durante a década de 2000, este logrou certo êxito em atender ao tripé: metas de inflação, austeridade fiscal (superávit primário) e Regime de bandas cambiais, pelo menos até sentir os efeitos da crise de 2008. Tal êxito esteve fortemente relacionado à valorização do preço das commodities brasileiras no período, atraindo renda do resto do mundo para cá e cedendo fértil terreno para o desenvolvimento da economia brasileira. No período compreendido entre 2000 e 2008, o crescimento do PIB e a inflação ficaram em níveis moderados, a demanda agregada via consumo e crédito se expandiu, a massa salarial, assim como a geração de empregos, também aumentou, e, no cenário financeiro, os títulos da dívida brasileira e a bolsa de valores também se valorizaram no período. Ainda que a maior renda interna pressionasse o nível de importações, o saldo em transações correntes como porcentagem do PIB aumentou consistentemente entre 2000 e 2007, possibilitando que pudesse acumular reservas de forma mais intensa, assumindo uma posição credora no mercado internacional. É importante realçar que tal prosperidade esteve muito atrelada à melhora dos termos de troca dada a valorização das commodities do que a um aumento da taxa de investimento do país. No gráfico abaixo podemos ver o comportamento do saldo em transações correntes como porcentagem do PIB, do PIB e da taxa de investimento no período de 2000 a 2007, realçando a pouca variação da taxa de investimento e o salto das transações correntes em 2002-2003.
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Fonte de dados: Marcos Tostes
Após a crise do subprime em 2008 nos EUA, a renda do resto do mundo ficou mais escassa, o que culminou na queda dos preços das commodities, gerando piora nos termos de troca da economia brasileira. Essa redução da liquidez global forçou o governo brasileiro a usar de políticas anticíclicas de estímulo à demanda agregada visando garantir a manutenção do crescimento do produto via absorção interna. Na área monetária, a liquidez do mercado foi garantida por expansões de crédito, via principalmente bancos públicos, e cortes sucessivos na taxa básica de juros, terminando esta em 8,65% em 2009. Com relação à política fiscal, diversos impostos sobre produtos industrializados como eletrodomésticos, produtos de construção civil, bens duráveis e bens de capital, foram reduzidos, assim como os impostos incidentes sobre a comercialização de veículos. Tais fatores foram fundamentais para assegurar o nível de emprego, produto e renda da economia no período de crise, via essencialmente demanda agregada interna, com destaque para o consumo das famílias.
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