História, Teoria e Terreno Comum John Lewis Gaddis
Por: Lívia Guedes • 23/5/2018 • Ensaio • 2.429 Palavras (10 Páginas) • 322 Visualizações
História, Teoria e Terreno Comum (John Lewis Gaddis)
O texto, escrito em 1997, começa com o pensamento de Freud a fim de tentar expor o que ele entende por “narcisismo de pequenas diferenças” que é exatamente o ato criticar algo que ocupa uma linha bem tênue de separação (exemplo: História e Ciência Política, RI e Ciência Política), acreditando que o seu lado é o mais correto ou certo (ou que tem maior capacidade explicativa).
A partir de então, o próprio autor pergunta: “Somos acadêmicos nacionalistas?”, ou seja, estamos fechados a novas discussões dentro de nossas áreas de estudo e etc? Ele entende que de certa forma sim, reconhecendo o nacionalismo como um padrão antigo de comportamento. Ainda, ao revelar que somente há um século historiadores e cientistas políticos se veem como comunidades distintas, Gaddis questiona: “Poderíamos ter permitido um ‘narcisismo de pequenas diferenças’, ao longo das últimas décadas, para balcanizar nossas mentes? ”
Com esse questionamento, o autor do texto organiza seu pensamento em 5 categorias, tentando explicar as rivalidades existentes entre essas duas áreas de conhecimento e também o que ele entende por “terreno comum” que, em última instância, representa as características semelhantes.
Laboratório versus Experimentos de Pensamento
Essa primeira categoria baseia-se na seguinte questão: “Será que podemos ao investigar fenômenos, replica-los?”. O autor chega à conclusão que sim e que certos campos fazem isso o tempo todo, como é o caso da Matemática, Física e Química. Outros, como a astronomia, geologia e paleontologia recorrem aos experimentos mentais, vez que não conseguem reproduzir nada em laboratório.
Além disso, embora o autor defenda que dentro dos laboratórios exista a verificação e repetição de processos de forma mais confiável – ou seja, com maior capacidade de exatidão ou, pelo menos, obtenção de resultados mais próximos do real –; o uso da imaginação – ao possibilitar a re-exucação de processos partindo do pressuposto de que o que se imagina é o mais plausível de ter acontecido – não deixa de ser menos científico por isso. Para o autor: “Ambos os métodos - laboratório e experimentos mentais - são indiscutivelmente ‘científicos’. Eles diferem dramaticamente, na dependência da replicação versus imaginação”.
Ciência, História e Imaginação
Gaddis inicia essa seção dizendo que:
“Normalmente, não pensamos em pesquisa nas ciências ‘duras’ como um ato imaginativo. Onde estaria Einstein, porém, sem uma imaginação tão vívida que permitisse experimentos com fenômenos grandes demais para se ajustar não apenas a seu laboratório, mas à sua galáxia? Ou Darwin sem a capacidade de conceber uma escala de tempo que se estende por centenas de milhões de anos? Ou Alfred Wegener sem visualizar um globo no qual continentes inteiros poderiam se unir e se separar? O que é a reconstrução de dinossauros e outras criaturas antigas a partir de fósseis, se não uma montagem de carne imaginada para fazer sobreviver ossos e conchas, ou pelo menos, impressões deles?”
Assim, defende que os historiadores funcionam exatamente da maneira exposta acima, vez que combinam reconstruções mentais de experiências que nunca puderam ter com qualquer arquivo “fóssil”. Desse modo, ele afirma que: “Tudo o que fazemos, nesse sentido, é um experimento mental, uma realidade simulada - em suma, uma história. Alguns historiadores corajosos até começaram a confiar naquilo que reconheceram como fragmentos ficcionais para preencher as lacunas do registro arquivístico; muitos outros sem dúvida o fizeram sem ser tão honesto quanto a isso”.
Portanto, o ponto central da discussão aqui proposta é que sempre que não se pode propor a explicação de fenômenos que não puderam ser reproduzidos, todos de uma forma ou de outra dependiam de atos de imaginação. Assim, ele quer deixar claro que o uso da imaginação também alcança resultados e faz ciência.
Ciência Política como Ciência de Laboratório?
Aqui o autor busca entender onde a Ciência Política se encaixa, se na parte laboratorial ou de uso da imaginação. Da perspectiva dele, pelo menos, o campo parece estar dividido entre a substância com a qual a área lida, que são os assuntos humanos não-replicáveis e os métodos que muitos de seus praticantes empregam, que são os das replicáveis ciências de laboratório.
Assim, para Gaddis as tensões que este imbróglio produz podem realmente ser muito dolorosas, haja vista que nunca ficou claro por que os cientistas políticos modelam sua disciplina em matemática, física e química quando poderiam ter escolhido a geologia, a paleontologia e a biologia. Ele se convence a acreditar, porém, que foram essas preferências disciplinares que geraram a maioria dos conflitos - e a incompreensão - que alienam os historiadores. Para tanto, considera 5 características gerais – e debate, intensamente, sobre elas.
- A busca pela parcimônia.
Para o autor:
“Os cientistas políticos parecem supor que mecanismos simples - como a entropia ou o eletromagnetismo - impulsionam os eventos humanos, e que, se pudermos descobrir apenas o que eles são, podemos usá-los para fazer previsões. Os historiadores reconheceriam alguns desses padrões: as pessoas envelhecem e morrem; a reprodução requer sexo; a gravidade nos impede de flutuar no espaço. Por mais confiáveis que sejam, no entanto, nós as consideramos insuficientemente discriminadoras em seus efeitos para fornecer informações muito úteis além do que a maioria de nós já sabe”.
Para os teóricos das relações internacionais, insistir que todas as nações dentro de um sistema anárquico praticam a autoajuda nos parece um pouco como dizer que os peixes dentro d'água precisam aprender a nadar. Não é nem falso nem não-trivial, apenas desinteressante. Qualquer um que conheça a natureza dos peixes, da água e dos Estados já teria descoberto. Tais pronunciamentos apenas levantam outras questões: o que se entende por "anarquia", "auto-ajuda" e "sistema"? Mas aqui as respostas são muito menos claras porque muito depende do contexto. Do ponto de vista de um historiador, a parcimônia adia mais do que o previsto - exceto, talvez, pela emoção vicária de parecer fazer física.
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