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Os Imperialismo e Colonialismos e colonialidade nas Relações Internacionais: o Comitê dos 24, a Descolonização e a reforma da ONU.

Por:   •  8/11/2017  •  Resenha  •  2.733 Palavras (11 Páginas)  •  296 Visualizações

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Imperialismo e Colonialismos e colonialidade nas Relações Internacionais: o Comitê dos 24, a Descolonialzação e a reforma da ONU.

O campo de estudo das Relações Internacionais é conhecido por sua ampla abrangência, o que se deve ao objeto de análise da área: a Comunidade Internacional. Tal coletividade foi iniciada há muitos séculos, a partir das relações firmadas entre os Estados, mas teve como marco histórico fundamental o processo de globalização. Pode-se definir tal termo como a integração mundial nos âmbitos econômico, social e político, resultado do constante aumento de velocidade dos meios de transporte e comunicação e é possível rastrear o essa sucessão de acontecimentos até o século XV, quando o processo de expansão das nações europeias foi iniciado.

O colonialismo, como é conhecido, ocorreu com o “descobrimento” de outros continentes, ou seja,  a partir da chegada dos europeus – principalmente portugueses e espanhóis – a esses territórios. Com tais navegadores também veio a ideia de que os povos africanos e americanos eram “atrasados” em comparação ao estado “civilizado” dos europeus. Esse choque cultural associado à mencionada interpretação dos recém-chegados inicia o “esforço civilizatório” dos brancos sobre os nativos das terras descobertas.

As fontes de estudo sobre colonialismo são inúmeras e entre elas se deve destacar a obra “A Rainha Ginga – E de como os africanos inventaram o mundo.”, de José Eduardo Agualusa. O livro, que mistura ficção e realidade, narra  de forma diferente dos muitos artigos acadêmicos sobre o tema  a luta contra os portugueses que aconteceu onde atualmente é Angola, especificamente referente ao reino de Dongo. Uma das muitas peculiaridades do relato, é esse ser feito em primeira pessoa, a partir do ponto de vista de um padre pernambucano  Francisco José da Santa Cruz , que chega a Salvador do Congo em meados de 1620. Esse fato é essencial para uma melhor interpretação dos acontecimentos contados, já que o narrador não é livre dos preconceitos instituídos pela mentalidade católica e europeia que era (e ainda é) vigente no Brasil.

Ao longo da história, é possível identificar muitos pontos inerentes ao campo das Relações Internacionais. O próprio motivo da ida do padre à Angola é fundamentado na necessidade reconhecida de manter relações diplomáticas com outros povos, especialmente o inimigo. Francisco é, então, enviado ao Dongo para atuar como secretário àquele que era o rei no momento  Ngola Mbandi, irmão de Ginga. Ele fora escolhido por ter o português como sua língua nativa, além de ser letrado e católico, fatos que faziam Portugal acreditar que o padre seria um enviado confiável. Conforme os acontecimentos desenrolam-se, Francisco prova ser muito habilidoso ao aconselhar a rainha em momentos críticos, recomendando muitas vezes as palavras em vez das batalhas, conseguindo até que Ginga concordasse em ir à Luanda para negociar com os portugueses (ainda antes da mesma ter sido coroada).

A rainha, por si só, é uma personagem digna de ser estudada. Antes de tornar-se líder de seu povo, o próprio irmão  rei na época  escolhera-na para negociar com os portugueses, pois era demasiado astuta. A mulher, segundo o narrador, era muito mais estratégica que Ngola e mostrava-se aberta a um possível acordo com os portugueses, enquanto seu irmão era muito mais belicoso. Após a morte do rei  por causas questionáveis , Ginga assumiu o trono, já que seu filho  que seria herdeiro legítimo  havia morrido e o descendente do rei, além de não ter sangue real, não tinha idade suficiente. Nesse ponto que a mulher, já forte, torna-se um símbolo inegável.

Ginga conseguiu manter seu reino independente de Portugal por muito mais tempo que qualquer outro da região, e isso se deu pela forma estratégica com que ela lidava com a ameaça lusa. Entretanto, além do modo que ela encarou os colonizadores, é imprescindível ressaltar como ela se impôs dentro de seu próprio reino. Ao que começaram a duvidar da sua legitimidade como rainha, devido à existência de um “melhor” herdeiro, o dito sobrinho morreu em um ataque também questionável. Com isso, as vozes que se opunham à liderança de Ginga, calaram-se. Essa é praticamente a única menção que o narrador faz à uma resistência ao reinado da mulher, mas é possível que tivessem existido muito mais empecilhos ao seu domínio, pois  como o próprio padre menciona  “os ambundos não depositam confiança nas mulheres, no que revelam grande sabedoria”, ou seja, mesmo dentro da cultura daquele povo, sempre seria preferível ter um homem no comando.

É provável, entretanto, que a postura adotada por Ginga tenha ajudado a amenizar a desconfiança para com fato de a governante ser mulher. Ao “masculinizar-se”  como ao exigir ser chamada de rei, constituir uma espécie de harém de homens (os quais vestiam-se como mulheres e eram chamados de esposas) e ao agir fria e altivamente em diversos momentos, com ao exigir que uma criada lhe servisse de assento  Ginga conseguiu impor maior respeito. Outro ponto que pode ser identificado referente à questão de gênero, é o fato de as melhores características da rainha serem atribuídas ao sexo masculino. São muitas as menções a isso, como no trecho “tão viril quanto o homem mais macho [...], uma mulher que conhecia as artes da guerra, suas armadilhas e danações, e que ao debater com os seus macotas pensava melhor do que o melhor estrategista, pois sabendo cogitar como um homem, possuía a seu favor a sutil astúcia de Eva”.

É fácil identificar a ideologia católica, fonte de legitimação da estrutura patriarcal, heterossexual, branca e cristã (ou seja, muito europeia) tanto no trecho transcrito, quanto em muitos outros momentos da história. Uma analogia que representa a relação entre o catolicismo não apenas com os africanos, mas também com os povos nativos das demais regiões invadidas, é a seguinte:

“Andava um macaco passeando pela floresta. Movia-se aos saltos pelas árvores, quando topou com uma lagoa como esta e olhando-a, entre o encanto e o susto, porque todos os macacos receiam a água, viu um peixe movendo-se em meio ao lodo espesso, junto à margem. ‘Que horror!’, pensou o macaco, ‘aquele pequeno animal sem braços nem pernas caiu à água e está a afogar-se.’ O macaco, que era um bom macaco, ficou numa grande angústia. Queria saltar e salvar o animalzinho, mas o terror o impedia. Por fim, encheu-se de coragem, mergulhou, agarrou o peixe e atirou-o para a margem. Conseguiu içar-se para a terra firme e ficou ali, alegre, vendo o peixe aos saltos. ‘Fiz uma boa ação’, pensou o macaco, ‘vejam como está feliz!’”. (AGUALUSA, 2015. p. 210)

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