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Boemia literária e revolução – O submundo das letras do Antigo Regime

Por:   •  11/6/2018  •  Monografia  •  2.335 Palavras (10 Páginas)  •  812 Visualizações

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Boemia literária e revolução – o submundo das letras do Antigo Regime

Robert Darnton

  1. O alto iluminismo e os subliterados

P.J.B. Gerbier, 1789 → “clubes e cafés. Eis as forjas que forjaram as armas que as massas hoje empunham” p. 13

Henri Grégoire, 1792 → “O verdadeiro gênio quase sempre é sans-culotte.” p. 13

O autor mostra um pedido de livros de filosofia encomendados de um livreiro para seu fornecedor, livros que ele acreditava ser o que os franceses queriam ler. Ele propõe que, talvez, o Iluminismo fosse mais banalizado do que mostramos no manuais por foi um movimento feito por homens de carne e osso.

Durante o Alto Iluminismo, nos últimos 25 anos do Antigo Regime, podemos observar uma elevação do prestígio em ser autor. Volteire foi um homem que esteve em alta no período e usou sua fama para promover a “causa da ‘classe’”. Muitos jovens no fim do XVIII sonhavam em ser como ele, ensinando os monarcas, resgatando a inocência e governando a república das letras.

Análise da vida de Jean-Baptiste-Antoine Suard, que foi parte de uma elite sócio-cultural conhecida por le monde. Introduziu nos salons pequenos ensaios sobre Voltaire, Montesquieu e Buffon. Ele se casou com uma moça de uma “boa cepa burguesa”, assim como ele, sendo diferente da maioria dos philosophes da época normalmente viveram solteiros ou, quando casavam, eram com criadas ou balconistas. Ele tinha muito prestígio e vivia ganhando presente e frequentando a alta sociedade, junto inclusive de sua esposa (eram chamados de petit ménage, o casalzinho). Em um período os nobres que o apoiavam, por serem vulneráveis, forma substituídos na corte, ele perdeu seu apartamento mas o le monde o ajudou e pouco a pouco ele subiu a um alto patamar financeiro e de prestígio.

“Outrora personagem secundário, laçado para distrair os salões e depois devolvido à rua, onde o aguardava a rotina de espancamentos, mendicância e embastillement (encarceramento na Bastilha), o philhosphe se domesticava; ficava respeitável; e era assimilado pela mais conservadora das instituições, a família.” p. 17

O interessante no Suard era sua necessidade de proteção, não mais nos moldes palacianos, mas sim sobre conhecer as pessoas certas e saber se portar de modo afinado para os salões e sem criticar o Regime. Assim ele se consolidou como um dos literatos que recebem pensões.

O autor analisa uma lista intitulada “Literatos que recebem pensões”, de 1785, onde aparecem vários nomes do Alto Iluminismo (Chamfort, Saint-Lambert, Bernardin de Saint-Pierre). A lista “exibe acentuada inclinação por escritores simpáticos ao sistema, especialmente acadêmicos.” p. 19

As pensões eram dadas aos que agradavam a nobreza e não eram resultado apenas de bons serviços pois, por vezes, funcionavam como caridade. No entanto, eram impensáveis para as pessoas sem relação com o le monde. Em primeiro lugar na lista vinham os acadêmicos (“Há certo perigo de o título de acadêmico tornar-se sinônimo de pensionista do rei.” p. 20)

Trecho de carta de um homem, Caraccioli, que dizia ter obras famosas e sadia, reclamando por não receber uma pensão ou gratificação.

É nítido que as pensões iam para os de “opiniões sadias” e as vezes o governo patrocinava quem fazia propaganda a seu favor. As pessoas de lealdade duvidosa não recebiam nenhum tipo de pagamento. É dado o exemplo de Rivarol que recebia uma pensão secreta (4 mil livres) como “modo de impedir sua propensão a ideias perigosas” p. 21.

O Estado, portanto, dispensava a caridade e focava no estímulo dos escritos que mostrassem uma visão boa do Regime, mas somente abarcando os homens de prestígio (le monde). “Enquanto os subliteratos erguiam, em vão, as mãos para o governo, este concedia suas benesses a escritores seguramente instalados em le monde.” p. 21

Ser membro da Académie Française era algo de muito prestígio.

Havia outros modos de ter renda também, como por exemplo os jornais, que eram renda para uns poucos privilegiados que detinham o monopólio das notícias. Os jornais estrangeiros passavam pela censura e precisavam pagar compensação a um dos jornais privilegiados. O rei não tinha apenas um historiógrafo oficial mas também contava com homens para escrever história da marinha, dos prédios públicos, da Ordem do Santos Espírito, etc.

No século XVIII é nítido o trabalho bem-sucedido do Iluminismo para conquistar a elite francesa e, assim, a academia se rendeu aos philosophes, se tornando quase um clube particular, seguidores da “igreja” de Voltaire. “Assim, Suard e seu círculo, sumos sacerdotes do Alto Iluminismo, conquistavam o ápice do mundo literário enquanto os philosophes de meados do século declinavam e morriam” p.23

“Escrever, explicava-se, tornara-se uma nova ‘profissão’, que conferia um ‘estado’ eminente a homens de talento, mesmo que de origem modesta”. p.23

QUERER A REPÚBLICA DAS LETRAS NÃO SIGNIFICAVA SER CONTRA A MONARQUIA.

Voltaire defendia que o século XVIII tornou os homens das letras tão adequados ao le monde quanto ao estudo. Ele tinha uma concepção bem elistita de cultura, acreditando que a filosofia não chegava nas famílias burguesas pois estas estavam muito ocupadas com a manutenção de sua fortuna → “O gosto é como filosofia. Pertence a um reduzido número de almas privilegiadas.” p 24 → o iluminismo deveria começar nas elites e apenas depois se ocupar das massas, sem que essas aprendessem a ler

Seu discípulo, d’Alembert, se referia aos escritores como uma orgulhosa profissão nova e dizia que a sociedade era e deveria ser hierárquica. Nesse iluminismo elitista a igualdade social não tinha espaço, a hierarquia era necessária para um grande estado.

Voltaire, d’Alembert, Duclos não desafiavam a ordem social, eles a apoiavam → “Era a ordem estabelecida que se esclarecia ou o Iluminismo que se estabelecia? Provavelmente as duas coisas.” p. 25

Quando esse velhos iluministas estavam mais velhos eles procuraram sucessores, mas em vão. “Com a morte dos velhos bolcheviques, o Iluminismo passou para as mão de nulidades com Suard: perdeu a flama e serenou em mera difusão de luzes, convertendo-se em confortável rampa rumo ao progresso. A transição dos tempos heroicos para o Alto Iluministo domesticou o movimento.” p. 26

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