Hibridismo religioso em imagens nipo-brasileiras de Maringá
Por: Leonardo Tasso • 19/9/2016 • Artigo • 3.432 Palavras (14 Páginas) • 379 Visualizações
HIBRIDISMO RELIGIOSO EM IMAGENS MARIANAS NIPO-BRASILEIRAS DE MARINGÁ[1]
Leonardo Henrique Tasso.[2]
RESUMO: Quando houve a inserção do Cristianismo pelo Padre Francisco Xavier no Japão no século XVI, a fé católica conseguiu de fato converter algumas famílias japonesas à religião. No Brasil, após o início da imigração japonesa em 1908, os imigrantes nipônicos devido às más condições de trabalho, começam a migrar para outras regiões do país, como o norte do Paraná, tornando-se pequenos proprietários de terras. Em Maringá, foi desenvolvido todo um projeto de conversão dos japoneses e descendentes, sendo construída, inclusive, uma igreja específica para o grupo étnico, a Paróquia São Francisco Xavier. No local, verifica-se a presença de imagens representando a Virgem e, eventualmente, o menino Jesus a partir do estilo nipônico. A gruta e as imagens híbridas estão carregadas de valor simbólico, sendo uma fonte valiosa sobre a questão do hibridismo cultural que, como afirma Burke, é um fenômeno ao qual as sociedades estão sujeitas na era da globalização.
Palavras Chaves – Japão – Hibridismo – Religião - Cristianismo
INTRODUÇÃO:
Dentre os aspectos que compõem a questão cultural, destacamos o hibridismo como fator principal para a pesquisa. O objetivo reside na análise da religiosidade dos nipo-brasileiros inseridos onde hoje se situa o município de Maringá. O imigrante japonês irá construir seu espaço juntamente com outros imigrantes que se encontravam no mesmo ambiente, além de contribuir para a disseminação católica nesse novo espaço.
Para tanto, é preciso fazer uma análise histórica do processo de pregação do Cristianismo no Japão desde o século XVI, sendo este um país onde havia preponderância das ideias budistas. A inserção do Cristianismo na população japonesa foi bastante tumultuada por revoltas e choques de conflitos entre os estrangeiros que vinham trazendo a catequização e interferindo na política japonesa da época, sendo que neste período o Japão se encontrava em plena guerra civil. Mais tarde, a interferência cultural culminou com a expulsão dos europeus do país, porém, mesmo com ordens políticas restringindo a prática da religião cristã, muitas famílias japonesas continuaram a praticá-las na clandestinidade, principalmente em grutas até o fim do Shogunato Tokugawa, sendo permitida a pratica somente na era sucessora que por fim, já não via mais a religião estrangeira como empecilho na política social do país.
ERA MEIJI E A IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL.
Durante o período da Era Meiji, período este que demarca o fim do poder dos shoguns e volta a concentrar poderes na imagem do imperador, o Japão iniciou a abertura do país, que ficou isolado quase sem contato nenhum com o estrangeiro. O Japão ficou sujeito ao atraso econômico e das tecnologias modernas que foram criadas durante esse período de isolamento frente a outros países, principalmente as potências europeias que dominavam o mundo com a sua influência política, bélica, econômica e industrial (HOBSBAWM, 1995).
É no momento da Era Meiji que o Japão procura sua aceleração econômica e política na busca da modernidade de seu Estado, lembrando que a ideia de “país moderno” que predominava no fim do século XIX e início do XX era de um país industrialmente desenvolvido, tendo como exemplo as principais potências europeias: Inglaterra e França (HOBSBAWM, 1995).
As mudanças ocasionadas pela Era Meiji não afetaram apenas aspectos políticos e sociais. No campo religioso, como afirma André (2011) e Gonçalves (1972), a religião oficial passa a ser o Shintoísmo. A ação de instaurar uma religião oficial, o Shintoísmo, não tinha apenas caráter religioso, mas também político. A religião era usada como meio de legitimar o poder do imperador, tendo em vista que o imperador, seus antepassados e sua linhagem eram descendentes diretos da deusa solar Amateratsu.
Devido aos avanços ocorridos no Japão em busca da modernização da sociedade, nota-se, um aumento demográfico da população e queda da mortalidade infantil (MAESIMA,212). Com uma população numerosa e sem espaço neste ‘’novo Japão’’ o governo começa praticar uma ‘’política de expulsão’’ dos habitantes incentivando-os a ir migrar para outros países da América e principalmente Brasil.
Os imigrantes japoneses quando chegam ao Brasil passam pela apropriação de elementos da sociedade receptora, vindos de outro continente com uma língua e escrita diferentes, costumes e religião.
Tudo teria que ser repensado, reinventado para que essa população pudesse se acomodar em terras brasileiras. A começar pela questão religiosa, muitos tendo que se converter ao catolicismo romano, que era uma religião predominante na sociedade brasileira na época, embora houvesse famílias que já tenham vindo católicas do Japão.
Quanto à questão religiosa, os imigrantes foram encorajados pelo próprio governo japonês e pelas companhias de emigração a não realizarem nenhuma prática religiosa japonesa em território brasileiro (YOKOYAMA, 1998). O Brasil no início do século XX teria uma população predominantemente católica e não veria com bons olhos um estrangeiro que, além de possuir uma etnia e língua diferenciada do Ocidente, realizariam cultos que não eram comuns segundo os costumes de brasileiros. A conversão de japoneses também teve apoio da Igreja Católica, como afirma Yokoyama (1998), numa medida de conseguir mais fiéis e fazer o japonês o mais próximo possível da sociedade receptora, a começar pelas práticas de cunho cristão católico.
A cidade de Maringá foi colonizada pela Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná. A região foi beneficiada devido às vias de comunicação com São Paulo e a construção da estrada de ferro que se estende até Guaíra, que foi responsável por promover a alta expansão agrícola e povoamento da região (DIAS, 1999).
Na área da Diocese de Maringá, segundo dados da revista Missão Católica (2008), famílias japonesas concentravam-se, com maior intensidade, nos municípios de Maringá, Marialva, Floresta, Nova Esperança e Paranavaí. Em relatório a nunciatura apostólica, o Bispo Dom Jaime Luiz Coelho informava, no ano de 1960, a existência de uma colônia japonesa composta por aproximadamente 20.500 pessoas, mas somente 12.500 tinham sido batizadas e apenas 1000 eram católicos praticantes. Destes, 40 famílias concentravam-se em Floresta, onde representava 20% das 200 famílias, algumas descendentes dos mártires de Nagasaki de 1597 (MISSÃO NIPO-BRASILEIRA, 2008).
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