Escola de chicago

1 – Tendo em vista os textos de Georg Simmel, William Thomas e Talcott Parsons responda: a questão epistemológica se coloca de que maneira em suas discussões?

         Para o Sociólogo George Simmel, que teve sua produção sociológica em meados do início do século XX (período histórico em que o positivismo era uma corrente de pensamento muito forte na realização das pesquisas sociológicas), seu debate dentro das Ciências Sociais trata-se do modo de como proceder na análise da vida social; com isso primeiramente, o sociólogo irá questionar a forma como estavam sendo constituídas as pesquisas de caráter sociológico naquele período, pois segundo ele, havia uma tentativa de um certo isolamento da sociologia em relação às outras ciências na constituição das suas investigações; portanto Simmel será o cientista social responsável por expor que se a sociologia quisesse avançar no seu caráter científico, teria de estabelecer a certo modo estreitas relações com as demais áreas do conhecimento, como a história, a antropologia, com a política e também com a psicologia, pois ele irá colocar que na construção de determinado objeto se tem a grande necessidade de levarmos em conta aspectos subjetivos  da vida dos indivíduos, exatamente porque nós estamos lidando com os indivíduos já socializados e estamos lidando também com um indivíduo dotado de inúmeras particularidades na sua constituição como ser social, e essas particularidades são elementos que impactam significativamente nas ações, valores, atitudes dos indivíduos, tudo isso nas suas inúmeras relações sociais como por exemplo, dentro dos movimentos sociais, dentro das sua relações familiares, dentro das suas relações de trabalho, etc. Portanto seria de extrema importância que essas particularidades fossem levadas em conta no ato da pesquisa sociológica, e quanto mais as ciências sociais se isolassem das outras ciências, menos elas seriam compreendidas. Para Simmel, uma questão importante que deve ser levada em conta no que se diz respeito à epistemologia é a pretensão de cientificidade da sociologia, ou seja, a sociologia já nasce com essa pretensão de cientificidade, e é exatamente isso que segundo ele, levou a sociologia a de certa forma desconsiderar as outras áreas do conhecimento científico na sua própria constituição como ciência e a desconsiderar as subjetividades como objeto de análise sociológica; com isso, o autor exalta então a necessidade do diálogo da sociologia com as outras ciências na medida em que for necessário (ressaltando que é de extrema importância deter um conhecimento já consolidado da sociologia, para que a pesquisa não se torne meramente uma mistura de várias áreas do conhecimento, não atingindo assim, seu caráter científico). Com isso, é possível ressaltar uma divergência entre a proposta metodológica de Simmel na apreensão das relações sociais e a proposta de Durkheim, por exemplo, onde um fato social só pode ser compreendido e explicado por meio do próprio fato social, sem levar em consideração as subjetividades que permeiam todo o processo de socialização do indivíduo. Simmel irá questionar então o modo com que Durkheim sugeria que a ciência fosse realizada, ele questionava exatamente a forma com que Durkheim e o positivismo pressupunham que o social era explicado somente pelo próprio social, sem depender de outras questões que o compunham, e ele afirma então que o social não seria possível de ser explicado somente pelo próprio social, exatamente porque as interações sociais envolvem diversos outros elementos, como os elementos políticos, como os elementos econômicos, como os elementos psíquicos etc. Por isso que segundo o autor, os procedimentos de pesquisa impostos pelo positivismo eram limitadores da teoria e do método sociológico. Portanto Simmel irá defender a ideia de que a existência humana na sua complexidade não se realiza somente no indivíduo e não se realiza somente socialmente, mas que a existência humana se realiza exatamente na junção desses dois aspectos.

        Segundo o sociólogo William Thomas, que por usa vez, derivou significativamente a linha de pensamento de Simmel, partindo da valorização dos fatores subjetivos da vida dos indivíduos no processo da análise sociológica, era de extrema importância que fosse deixado claro que seu objetivo era então a construção de uma ciência denominada por ele de ciência racional, dotada de técnicas racionais de pesquisa; e o fato de isso ser discutido por ele tem sua importância exatamente por estarmos falando de pesquisa sociológica, portanto essa pesquisa teria de ser cerceada por técnicas que garantissem a objetividade do conhecimento produzido, uma vez que, seu objetivo também será mostrar que é possível fazer pesquisa dotada de objetividade através de fatores subjetivos. A questão levantada por Thomas é que ele não está preocupado pura e simplesmente com essas técnicas de pesquisa, mas está também está preocupado em realizar uma ciência que possua técnicas capazes de apreender as atitudes dos indivíduos, pois isso lhe daria ferramentas para construir com suas pesquisas, formas de intervenção social; e essa era de fato a grande aposta de toda a Escola Sociológica de Chicago, onde o objetivo de suas pesquisas era de que elas fossem implementadas dentro das políticas públicas, para que as políticas públicas as utilizassem de modo à desenvolver melhorias para as populações que essa corrente teórica estava estudando, como por exemplo os migrantes, os habitantes das periferias, que por sua vez vivenciavam difíceis situações no contexto dos bairros na qual eles viviam, as gangues, etc. Portanto William Thomas considerava que o poder público tinha o dever de intervir naquela realidade, e que suas monografias, suas pesquisas acerca dessas populações deveriam auxiliar o estabelecimento desses processos de intervenção social. É exatamente por isso que o autor irá defender que o papel da pesquisa seria na verdade duas questões: a primeira seria de fato contribuir com o avanço do conhecimento científico sociológico, e a outra seria conseguir através de suas pesquisas um diálogo com as políticas públicas com o fim de construir um processo de intervenção social, com a justificativa de que as ações políticas não deveriam de forma alguma ser meros caprichos dos governantes, ou seja, que as decisões políticas não fosse tomadas a fim de defender somente os interesses de determinados grupos; e segundo o autor, para que uma pesquisa sociológica conseguisse obter esse papel intervencionista de ajudar nos processos de decisão das políticas públicas, seria fundamentalmente importante que os objetos de análise fosse construídos a partir das atitudes dos indivíduos, como por exemplo: estudar as atitudes dos governantes com relação à algum problema social, como a questão da violência no meio urbano, ou até mesmo estudar as atitudes dos moradores de determinado bairro em relação à violência que ali acontece.