A Leishmaniose é um dos principais focos da doença no Brasil
Por: Cleide Moreno • 1/12/2016 • Resenha • 976 Palavras (4 Páginas) • 182 Visualizações
lEISHMANIOSE
O Estado do Piauí, onde a doença é conhecida desde 1934, é um dos principais focos da doença no Brasil. Apresenta altitudes mais elevadas, em torno de 600 m, a leste, na serra do Ibiapaba na fronteira com o Estado do Ceará, e no sudeste e sul, rebaixando-se no sentido da Planície Parnaibana, para o norte e oeste. No noroeste e no sul as isoietas são superiores a 1.200 mm e no sudeste inferiores a 800 mm. A urbanização acentuada acompanha-se do esvaziamento rural.
Teresina, capital do Piauí, está localizada na confluência dos rios Parnaíba e Poti, com um clima quente e úmido.
Métodos de Análise
Foram analisadas as informações referentes ao calazar no Estado do Piauí, registradas na Diretoria Regional da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública no Piauí (SUCAM-PI), órgão do Ministério da Saúde para o controle de endemias, no período de 1971 a 1986. Os casos humanos registrados no período de 1971 a 1980 foram obtidos através: da revisão de prontuários dos principais hospitais de Teresina onde eram feitos exames parasitológicos de aspirado de medula óssea*; dos registros próprios da SUCAM-PI, onde também eram feitas pesquisas diretas de Leishmania na medula óssea; e de casos diagnosticados apenas a partir de história clínica e exame físico e notificados pelas unidades de saúde da Fundação Serviços Especiais de Saúde Pública, do interior do Estado. Os critérios de diagnóstico foram a presença de sinais e sintomas da doença ou de parasitas na medula óssea, e, quando este exame era negativo, a reatividade dos testes de imunofluorescência indireta (IFI) realizados no laboratório de parasitologia da Universidade Federal do Piauí. No sudeste, de 1980 a 1984, foi executada a fase de ataque à doença de Chagas, usando-se piretróides nos domicílios e periodomicílios da zona rural de todos os municípios da região. O cálculo do CI foi feito a partir do total de casos registrados na SUCAM-PI. Para os demais municípios foi usada a população recenseada em 1980. A pluviometria, para análise da sazonalidade, foi obtida junto à estação meteorológica do aeroporto de Teresina. Foi usado o teste do Qui Quadrado para análise da distribuição dos casos de menores de quatro anos, por ano, e da distribuição por sexo e faixa etária. longipalpis.
RESULTADOS
No período de 1971 a 1979 a leishmaniose visceral apresentava-se como uma endemia no Piauí e a maioria dos casos era notificada como procedente de Teresina. A maioria dos casos do interior era originada do semi-árido do sudeste do Estado. Destes, 11 eram procedentes do interior e vinham dos vales dos rios do norte e do centro do Estado. Aí atingiu o ápice no ano de 1985. Foram relativamente baixos os CI das MH do sudeste e do oeste, regiões onde o calazar era mais prevalente antes da epidemia. O CI urbano foi maior que o rural em 64% dos municípios do norte (26/41) e em 92% dos municípios do sul e do sudeste (24/25). Entretanto, no segundo semestre a proporção de casas infestadas foi muito baixa, sugerindo que grande parte dos casos da área urbana de Teresina, naquele semestre, tenha sido infectada no primeiro semestre.
DISCUSSÃO
Apesar de reconhecida no Estado do Piauí, desde 1934, não existe nele registro de epidemia de leishmaniose visceral. Nos anos de epidemia houve uma sensível mudança no comportamento epidemiológico da doença. No caso das doenças mataxênicas, a dinâmica populacional dos vetores adquire especial importância, à medida em que representa um dos principais fatores que determina o grau de contato entre infectantes e suscetíveis.
No interior do Estado do Piauí ou no período anterior ao processo epidêmico, algumas informações disponíveis permitem considerações acerca do papel desempenhado pelo uso de inseticidas nesta epidemia. Parece claro que as campanhas de borrifação para o controle da doença de Chagas e da malária contribuíram efetivamente para a distribuição geográfica do surto epidêmico no Estado, o que está de acordo com as primeiras observações acerca do uso de inseticidas para o controle da leishmaniose visceral no Brasil . Estas evidências estão fundamentadas nas observações que nas regiões borrifadas para o controle da doença de Chagas, no semi-árido do sudeste do Piauí, o CI foi baixo, concentrando-se os casos nas áreas urbanas não borrifadas. Nas regiões submetidas à aspersão com inseticidas para o controle da malária o CI só foi elevado nos municípios onde menor parcela da população era protegida pelo uso de DDT. Entretanto, a constatação de que em alguns municípios do leste, submetidos a limitada borrifação focal ou preventiva e que não apresentaram CI elevados, e que em todo o interior do Estado o processo epidêmico cedeu, mesmo na ausência de medidas especificamente destinadas ao seu controle, indicam que outros fatores, além da interferência na população vetorial, participaram da distribuição desta epidemia de leishmaniose visceral no Piauí.
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