MULHERES VÍTIMAS DE AGRESSÃO: DECISÕES, SENTIMENTOS E PERCEPÇÕES FRENTE AO EPISÓDIO
Por: Alessandrofortal • 27/1/2016 • Pesquisas Acadêmicas • 2.641 Palavras (11 Páginas) • 393 Visualizações
MULHERES VÍTIMAS DE AGRESSÃO: DECISÕES, SENTIMENTOS E PERCEPÇÕES FRENTE AO EPISÓDIO.
RESUMO
O presente trabalho objetivou conhecer os sentimentos e as percepções das mulheres vítimas de agressão e suas decisões frente ao episódio vivenciado. Trata-se de um Estudo descritivo com abordagem qualitativa que segundo Lobiondo-Wood e Haber (2001), são aqueles em que os fatos são observados, analisados, classificados, registrados e interpretados, sem que haja intervenção do pesquisador neles. A pesquisa será realizada em uma instituição (Projeto em defesa da PAZ) que disponibiliza serviço a mulheres vítimas de violência. A técnica de coleta dos dados será a entrevista semi-estruturada que, de acordo com Minayo (2004), privilegia as falas dos atores sociais, possibilitando a obtenção de dados subjetivos. Os sujeitos da pesquisa serão constituídos por mulheres vítimas de agressão, cujo critério de inclusão é ter idade igual ou superior a 18 anos de idade e aceitar participar do estudo no período de coleta. Serão excluídas aquelas que não atenderem aos critérios de inclusão. Não delimitamos amostra por se tratar de uma pesquisa qualitativa, em que serão observados o critério de saturação, que acontece quando as respostas dos sujeitos entrevistados começam a se repetir (MINAYO, 2004). Neste estudo, serão respeitados os preceitos éticos e legais que devem ser seguidos nas investigações envolvendo seres humanos, conforme a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2013). A análise contribuirá para aprofundar os estudos sobre quais os sentimentos e percepções que estão presentes nas mulheres vítimas de violência. Espera-se por meio dessa pesquisa conhecer quais os sentimentos e percepções circundam na rotina de mulheres violentadas e quais as decisões que as mesmas apresentam diante do agravo.
Descritores: Violência. Violência contra a mulher. Vitimização.
Inscrição Nº 32766.
Fortaleza- CE
2016
1. INTRODUÇÃO.
A violência revela-se na sociedade desde a antiguidade, através do exemplo bíblico em que Abel matou Caim, seu irmão, por disputa de poder. É um evento sociohistórico, que os danos provenientes podem acarretar em sérios problemas de saúde pública pelo numeroso gasto com atendimentos emergenciais e de reabilitação. Existem diversas modalidades de violência que atingem a população como um todo, dentre elas, a violência contra a mulher que está em extrema evidência (BRASÍLIA/DF, 2005).
Inúmeras mulheres sofrem por períodos de dias, meses e até anos com diversos tipos de violências. Existem inúmeras maneiras de atingir violentamente as mulheres, destacando-se aquela praticada pelo parceiro de relacionamento. Diante dessa infelicidade surge o interesse de conhecer mais sofre essa realidade que se torna ainda mais freqüente (JONG, SADALA e TANAKA, 2008).
A violência contra a mulher acomete todas as classes sociais e de qualquer cultura (ILHA, LEAL e SOARES, 2010), podendo ser revelada no âmbito político, econômico, cultural, educacional, policial, racial, familiar, doméstico, físico, sexual, psicológico, moral, simbólico, entre outros.
Exemplificando alguns dos tipos que pode ser demonstrada a violência de gênero, temos a violência doméstica que é qualquer ação que cause agravos irreparáveis ou até a morte no seu espaço domiciliar; violência física que são atitudes que causam danos corporais a outras pessoas, podendo comprometer a integridade da vítima; violência sexual que se revela com uma imposição ao ato sexual sem trazer prazer a ambos os participantes, vai desde o assédio sexual a exploração sexual; violência psicológica envolvendo olhares de desprezo, humilhação, ameaças, gritos, insultos que marcam as vítimas ocasionando abalos emocionais; violência moral que atinge de forma direta ou indireta a honra da vítima e violência simbólica que é insensível e pouco percebida pelas suas próprias vítimas (MOREIRA, BORIS e VENÂNCIO, 2011). GOMES et al, 2013 cita ALMEIDA, NOZAWA e ROMERA, 2008 e diz que segundo dados do Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento, os gastos com a violência doméstica contra as mulheres variam de 1,6% a 2% do PIB de um país. ACOSTA, GOMES e BARLEM, 2013 relatam em seu estudo que mundialmente, mulheres com idade entre 15 e 44 anos tem mais chances de serem acometidas por estupro e violência doméstica do que de sofrerem outros agravos, como por exemplo, contraírem um câncer. Em nível de Brasil, a cada dois minutos, cinco mulheres são violentadas. AMARAL et al, 2013 faz menção ao que os autores MENEGHEL e HIRAKATA, 2011 relatam em seu estudo, que nos anos de 2003 a 2007 20 mil mulheres aproximadamente morreram vítimas de agressão no Brasil, sendo destacado os Estados do Espírito Santo, Pernambuco, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rondônia, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Roraima e Amapá.
Nesse sentido, a problemática vem se tornando prioritária para a Organização Mundial de Saúde desde 1996 e vem despertando estudiosos quanto ao assunto em todo o mundo. No ano de 2006 houve um acontecimento histórico marcado pela luta contra a violência doméstica, culminando na aprovação da lei n° 11.340, também conhecida como lei Maria da Penha que cria mecanismos para coibir e punir a violência doméstica ou familiar (JONG, SADALA e TANAKA, 2008).
A mulher se torna vítima desse acometimento de forma seqüencial, “chamado de ciclo da violência”, sendo semelhante a um ritual. Primeiramente acontecem os desentendimentos, humilhações, intimidação, provocações mútuas. Posteriormente surgem estratégias de ameaça como a separação e o impedimento de relacionamento com os filhos, sendo finalizada a situação conflituosa com a agressão física. Pode ocorrer reconciliação, fase nomeada de ”lua-de-mel” (SOUSA, NOGUEIRA E GRADIM, 2013).
Para se falar de violência voltada às mulheres é de grande relevância compreender que existem desigualdades de gêneros, sendo estas responsáveis pela máxima expressão de violação dos direitos humanos das mulheres o que repercute em seus direitos à saúde, à vida e à integridade. Ambos os gêneros são expostos à violência. Os homens à violência no ambiente público e as mulheres sofrem com uma realidade violenta expressada dentro de seus lares, sendo praticada na maioria das vezes por seus companheiros e familiares (POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES, 2011). Acontece há segundos durante um dia e ainda não é reconhecida como deveria (ILHA, LEAL e SOARES, 2010). Diante do exposto, segundo MOREIRA, BORIS e VENÂNCIO, 2011 a violência sexual é a denúncia mais temida pelas mulheres, por conta do medo, da vergonha e preconceito que estão envolvidos.
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