RESENHA CRÍTICA Com base em Cecil G. Helman em seu livro Cultura, Saúde & Doença
Por: renan9253 • 22/5/2015 • Trabalho acadêmico • 3.465 Palavras (14 Páginas) • 1.597 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL
DISCIPLINA DE SAÚDE, SOCIEDADE E CULTURA
ISABELA ROQUE MAGALHÃES
VITÓRIA
2013
RESENHA CRÍTICA
Com base em Cecil G. Helman em seu livro Cultura, Saúde & Doença.
No capítulo 4, o autor quer mostrar aos leitores que na maioria das sociedades, as pessoas que sofrem de algum desconforto físico ou mental contam com diversos tipos de ajuda, podendo ser dela mesma ao preferir descansar ou tomar um medicamento por conta própria ou consultar um médico, e que quanto maior e mais complexa é a sociedade no qual a pessoa está inserida maior é a probabilidade de que esta apresente pluralidade de serviços de saúde.
O sistema de saúde de certa sociedade não pode ser estudado isoladamente de outros aspectos, especialmente quanto à sua organização social, religiosa, política e econômica. Alguns antropólogos enfatizam que tal sistema tem dois aspectos interrelacionados: um cultural e um social.
Um proeminente psiquiatra americano, Kleinman, sugeriu que em uma sociedade complexa, é possível observar três setores sobrepostos e interligados da assistência à saúde, onde cada setor tem suas próprias formas de explicar e tratar a saúde bem como especificar o modo como médico-paciente deve interagir. O setor informal trata-se de um domínio leigo, formado por uma série de relações de cura informais e não remuneradas e inclui todas as opções de tratamento a que as pessoas recorrem sem pagamento e sem consulta à um médico, como, automedicação. Neste setor se dá o cuidado primário à saúde, onde as mulheres, mães e avós, diagnosticam a maior parte das enfermidades comuns e as tratam com materiais disponíveis. Já o setor popular é extenso em sociedades não industrializadas onde certos indivíduos especializam-se em formas de cura, sendo assim, estes “curandeiros” ocupam uma posição intermediária entres os três setores e formam um grupo heterogêneo com grande variação individual em termos de estilo e de ponto de vista pois podem ser especialistas seculares (parteiras, extraintes de dentes..) e curandeiros espiritualistas. O setor profissional compreende as profissões do tratamento de saúde que são organizadas e sancionadas legalmente como é o caso da medicina científica ocidental que inclui não só os médicos de vários tipo e especialidades como também enfermeiros, parteiras e fisioterapeutas. O setor profissional também pode ser denominado de sistema médico e é a expressão dos valores e da estrutura social da sociedade em que surgiu, portanto, os diversos tipos de sociedades produzem tipos diferentes de sistemas médicos além de comportamentos distintos a respeito de saúde e doença conforme a ideologia dominante.
No Reino Unido, há uma ampla variedade de opções terapêuticas disponíveis para aliviar e prevenir desconforto físico ou psicológico, sendo possível identificar os setores de assistência à saúde. O setor informal reúne aquele que se automedica, tornando a automedicação uma alternativa à consulta médica, deixando esta apenas para casos mais graves e severos. O setor popular, assim como em outras sociedades, é pequeno e pouco definido. Entre as atividades deste setor, o herborismo, as curas religiosas e parteiras têm a raiz mais profunda da Grã-Betanha. O setor profissional inglês consiste em duas formas complementares de atendimento médico profissional, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o atendimento privado. O SNS oferece acesso livre e irrestrito ao tratamento de saúde tanto em clínicas quanto em hospitais.
A comparação dos sistemas médicos de diferentes países ocidentais com níveis semelhantes de desenvolvimento econômico pode ilustrar o aspecto de delimitação cultural no caso da medicina ocidental; obviamente, esses países podem ter muitas variáveis, como o caráter público/privado, à distribuição de recursos, ao esquema de planos de saúde e etc., mas todos têm a mesma raiz da medicina, o que faz com que haja oportunidade considerável de intercâmbio de informações médicas entre eles.
Dentro do sistema médico, aqueles que praticam a medicina formam um grupo à parte, com seus valores, conceitos, teorias e regras de comportamento, além de uma hierarquização, logo, apresenta tanto aspectos culturais e sociais. Há quem defina grupo profissional como um grupo organizado em torno de conhecimentos especializados, não facilmente adquirido e que atende às necessidades de seus clientes além de possuir uma organização coorporativa de pessoas semelhantes para promover seus interesses comuns, manter o controle sobre as especialidades, estabelecer qualificações e monitorar a ética de seus participantes.
A principal estrutura institucional da medicina científica é o hospital, aonde a pessoa doente submete-se a um ritual padronizado diferentemente do tratamento que recebe nos setores informa e popular. A especialização hospital garante que os pacientes sejam classificados e colocados em determinadas alas com base na idade, gênero, condição, sistema ou gravidade. Todos os pacientes são destituídos de seus suportes de identidade social e individualidade e uniformizados em pijamas, logo, há perda de controle sobre o próprio corpo e sobre o espaço, privacidade, comportamento e dieta. Os hospitais já foram vistos por antropólogos como “pequenas sociedades”, cada um com sua cultura, regras, tradições, sendo assim, os pacientes de uma mesma ala hospital formam uma “comunidade”. Como o sistema médico, o hospital também é influenciado pesadamente por fatores culturais, sociais e econômicos. Quaisquer que sejam as suas variações locais, o hospital continua sendo a instituição da biomedicina por excelência. No Reino Unido, o hospital é o local aonde 99% da população irá nascer e morrer.
A tecnologia pode ser vista como a extensão dos sentidos humanos e de suas funções motoras e sensoriais, da mesma forma, a tecnologia médica fornece meios para que se disponha de maneiras mais eficientes de ver e ouvir o corpo humano e seus processos internos. As tecnologias médicas como sistemas de concepção e funcionamento deixaram de ser apenas objetos físicos e se tornaram, também, aspectos culturais que nos mostram os valores sociais, econômicos e históricos que produziram em um certo tempo e lugar. Tais tecnologias alteraram o nosso senso de o que é o corpo humano já que permite examinar o corpo em seu interior sem qualquer necessidade de corte para atravessar a barreira da pele. Somadas ao corpo, as máquinas médicas podem ajudar a criar seres cibernéticos temporários ou definitivos tornando-se órgãos externos do corpo.
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