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Sociedade Contra o Estado

Por:   •  9/7/2016  •  Resenha  •  1.225 Palavras (5 Páginas)  •  568 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA – CFH

Disciplina: Etnomusicologia

Prof. Rafael Menezes Bastos

Discente: Fernanda Luiza Godinho

Resenha: COELHO, Luiz Fernando Hering. Música Indígena no Mercado: Sobre Demandas, Mensagens e Ruídos no (Des)Encontro Intermusical.

        No inicio de seu artigo, Coelho comenta sobre o movimento de apropriação, por parte dos povos indígenas que vivem no Brasil, em relação a técnicas ocidentais de registro tanto de fotografia quanto de vídeo. E, dentro disso, de um aumento na procura pela inserção no mercado da música, no sentido de compra e venda de CDs e shows.

        Ñande Rekó Arandu – “Memória Viva” e Mboraí Marae’ÿ –“Cantos Sagrados” são dois exemplos de discos citados pelo autor. Ambos produzidos direcionados ao público em geral e, consequentemente, adequados, de certa forma, à demanda que este determinado público requer. Alguns grupos musicais indígenas também tem se apresentado em eventos universitários, em praças, festas comunitárias, programas de TV, etc.

        Mas quem são estas pessoas? Quais são as demandas?

        Não é difícil de acontecer que os índios Guarani estejam próximos às cidades, esse contato, no entanto, é tão antigo quanto o contato com invasores europeus, século XVI. Pode-se notar em influencias em seu sistema musical atual percebendo o uso de instrumentos como o violão e a rebeca. Popularmente, este fenômeno muitas vezes é chamado de “aculturação” no sentido de “perda” de uma cultura que seria “autêntica”.

        Esses instrumentos ocidentais, porém, ao serem apropriados por estes índios, ganha outro significado. O violão, na verdade não é mais um violão, com afinação e jeito de tocar próprios, ele se transforma em mbaraka. O mesmo acontece com a rebeca que, apropriada, torna-se rave ou guyrapa-pe.

        Coelho então adentra, em sua fala, na sua experiência de contato com os índios guarani da aldeia Mbiguaçu, situada aproximadamente a 25km de Florianópolis. No período, acompanhou a criação do “coral” Yvytchí Ovy (“Nuvens Azuis”). O coral, elaborado a partir de iniciativa e coordenação de jovens índios e composto também por crianças e adolescentes, tinha por objetivo montar um repertório de música guarani para apresentações dentro e fora da aldeia.

        O autor conta que, em boa parte dos anos 2000, acabou atuando como uma espécie de “assistente” deste coral, onde uma de suas funções era o estabelecimento de contatos e busca de apoio para gravações de um CD. Neste cenário ficou, em alguns momentos, entre “um grupo de músicos indígenas demandantes da inserção num mercado musical e, de outro, representantes deste próprio mercado, sejam eles pessoas do público em geral e sejam, principalmente, funcionários de órgãos oficiais de “cultura” ou produtores musicais” (p. 3).

        A ideia romântica pré-concebida destas pessoas sobre aquilo que vem a ser um “índio” – de uma cultura “intocada” e “pura” – de fato influi no interesse que o mercado e a mídia possam ter na música indígena. E estes, são consideravelmente reduzidos quando há influencias da música ocidental nestes grupos indígenas, sendo classificados como “menos autênticos”. E, neste sentido, para o coral Yvychi Ovy, muito provavelmente por conta deste descompasso entre as partes, houve muitos fracassos em tentativa de obtenção de apoio para a gravação de um CD.

        Mais adiante Coelho ilustra muito bem o que foi dito até aqui quando fala sobre uma situação em que foi questionado por um produtor, claramente preocupado com a “autenticidade do produto”, se a roupa que os guarani estavam utilizando era igual à que eles usavam há 500 anos. Uma pergunta cômica, que fica mais evidentes para alguns quando talvez feitas a eles mesmos.

        O autor fala sobre uma hipótese explorada por Piedade (1997) de que parte do repertório de cantos “tradicionais” kapiwayá dos ye’pâ-masa da regial do alto Rio Negro não teria sido criado por eles “livre de influências externa”, mas justamente no contato com grupos arawak. O que ajuda a reforçar a ideia de uma origem não especifica e pontual, não só da música, mas de diferentes elementos da cultura. De que as coisas são pensadas e desenvolvidas, constantemente reelaboradas, a partir daquilo que se conhece.

        O termo “adaptação criativa” é utilizado por Albert (1993) para sugerir uma reversão ao discurso de dominação colonial. Os guarani tem consciência do valor de sua imagem e se utilizam disso para os fins que desejam. Sendo possível articular discursos extremamente coerentes em que é visado tanto o resgate da própria cultura, mas também a obtenção de melhorias materiais para as comunidades. Seja através de doações em troca das apresentações, seja por dinheiro arrecadado com a venda de CDs.         

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