O Cortiço e os Cortiços Cariocas
Por: Arthur Franklin • 25/5/2016 • Trabalho acadêmico • 3.855 Palavras (16 Páginas) • 424 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
Uma análise do livro “O Cortiço” de Aluísio Azevedo:
A problemática da sociedade brasileira nos séculos XIX, XX e XXI no Rio de Janeiro
Alunos: Arthur Zanuti Franklin (77377) e Mariana Milani dos Santos (77379)
Curso: Arquitetura e Urbanismo
Professora: Mariane Silva Reghim
Disciplina: CIS 217 – Fundamentos de Ciências Sociais
SUMÁRIO
- RESUMO DA OBRA .........................................................................................3
- DOUTRINA NATURALISTA E SUA RELAÇÃO COM A OBRA .......................3
- POSITIVISMO E DETERMINISMO ..................................................................5
- VIDA EM UMA HABITAÇÃO COLETIVA DE PESSOAS POBRES (CORTIÇO) NO RIO DE JANEIRO NO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX ..............6
- VIDA EM UMA HABITAÇÃO DE PESSOAS POBRES NO RIO DE JANEIRO NO SÉCULO XXI ..............................................................................................7
- A QUESTÃO URBANÍSTICA DO FINAL DO SÉCULO XIX NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO .............................................................................................8
- A QUESTÃO URBANÍSTICA NO RIO DE JANEIRO NO SÉCULO XXI ..........9
- CONCLUSÃO .................................................................................................11
- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................13
1. RESUMO DA OBRA:
O livro O Cortiço, do célebre autor Aluísio Azevedo, foi escrito no final do século XIX, mais especificamente no ano de 1890. A sua temática, além de ser bem atual, conta, de forma irônica, a problemática sofrida na cidade do Rio de Janeiro na época.
O romance segue uma linha que mescla duas histórias: a de João Romão, comerciante, dono de uma venda e de uma pedreira, que ao comprar um conjunto de casas, transformam as mesmas em um cortiço. A outra linha segue a história de Jerônimo, gerente da pedreira de João Romão, que vive no cortiço e seu caráter, sua boa índole, são destacadas em meio à população.
João Romão, com a ajuda de uma escrava fugida, consegue os seus objetivos e alforria a negra, porém, com uma carta forjada de alforria, ao final do livro, ele a entrega para um Capitão do Mato, traindo-a.
Jerônimo, ao viver no cortiço, se contamina com o local e ao conhecer uma negra, Rita Baiana, apaixona-se por ela, a larga e vai viver com a mesma, até que os problemas aparecem e ambos acabam em uma situação desagradável ligado ao alcoolismo.
2. DOUTRINA NATURALISTA E SUA RELAÇÃO COM A OBRA:
A doutrina naturalista é uma forma de analisar o ser humano e seu comportamento social e biológico, apontando saídas e opções. A escola naturalista na literatura é um subgênero do realismo, levando o mesmo a condições mais extremas, mais cientificista, opondo-se ao romantismo, em que, só eram contadas histórias com finais felizes e que se passavam em ambientes de elite, como palácios, a alta sociedade.
Essa forma de pensar surgiu com a criação da sociologia, da biologia e o desenvolvimento rápido que a ciência teve após a segunda revolução industrial. O naturalismo busca retratar a sociedade como ela é, frisando as mazelas sociais que as camadas mais pobres passavam no século XIX.
As principais características do estilo são:
- O cientificismo – as pessoas são retratadas como coisas, animais. Os seus desejos e atitudes são totalmente explicados pelas relações animalescas.
- Descrições minuciosas e simples – os livros buscavam chegar as várias classes sociais, não ser apenas uma literatura dos nobres, por isso, sua linguagem simples. As descrições rompem com o mundo abstrato, típico do romantismo, se descreve uma cadeira como uma cadeira e não como um objeto perfeito.
- Temas fortes – uma expressão que define o naturalismo é que o mesmo trata de temas de patologias sociais: miséria, adultério, crimes, taras sexuais são comuns nos livros. O desejo do estilo é analisar a humanidade em suas maiores podridões sociais e humanas.
- Denúncia – ao retratar esses problemas, o naturalista tem forte desejo por denunciá-los. Eles utilizam a obra para tentar mudar a sociedade, tirar os necessitados das mazelas sociais.
- Determinismo – o homem é o produto do meio em que vive.
- Darwinismo social – Darwin foi um biólogo inglês que após viajar 5 anos em um navio ao redor do mundo, propôs a Lei da Seleção Natural, em que o mais adaptado ao meio sobrevive. Seus estudos, quando fazem um paralelo com os estudos de Gregor Mendel, monge que estudou os mecanismos da hereditariedade, formulam a seguinte relação: as espécies, ao cruzarem, trocam genes fortes, gerando filhotes mais adaptados ao meio. A Lei da Seleção Natural acabou sendo aplicada à sociedade, onde descreve o conceito de luta pela sobrevivência, em que certas características como a cor da pele, o lugar em que a pessoa nasceu fazem com que ela seja mais apta a sobreviver. Anos mais tarde, o darwinismo social foi utilizado para explicar um dos acontecimentos que mais marcaram a humanidade: nazi-fascismo.
- Positivismo – corrente filosófica de Auguste Comte.
Há também características que são presentes nos ambientes e nos personagens.
- O ambiente, mesmo restrito, é utilizado para mostrar como a sociedade em um todo se comporta. No livro, o cortiço demonstra a moradia dos personagens pobres, já a residência de João Romão, mostra-se como os novos ricos moravam (classe que surgiu com a consolidação da segunda fase do capitalismo).
- Animalização/zoomorfismo – as pessoas são retratadas como animais, seus desejos são ligados a bichos, sem alma, sem pensamento, apenas estímulos gerados a um ambiente externo.
- Narrador onisciente – o livro é narrado em terceira pessoa, porém o narrador sabe todos os desejos dos personagens, esse fato é uma consequência da animalização, pessoas sem consciência humana não poderiam narrar ou se expressar por si própria.
Trecho que exemplifica o zoomorfismo:
Também cantou. E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no cio. E o Firmo, bêbedo de volúpia, enroscava-se todo ao violão; e o violão e ele gemiam com o mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais, num desespero de luxúria que penetrava até ao tutano com línguas finíssimas de cobra. (AZEVEDO, 2009, p.113)
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