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A MULHER “POLÊMICA, IRREVERENTE, EMANCIPADA” PRESENTE NA LETRA DA MÚSICA “PAGU” DE RITA LEE E ZÉLIA DUNCAN

Por:   •  28/5/2021  •  Ensaio  •  1.589 Palavras (7 Páginas)  •  372 Visualizações

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A MULHER “POLÊMICA, IRREVERENTE, EMANCIPADA” PRESENTE NA LETRA DA MÚSICA “PAGU” DE RITA LEE E ZÉLIA DUNCAN.

Juliete da Paixão Vidal¹

Pagu

(Rita Lee e Zélia Duncan)

Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Hum! Hum!

Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum! Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira, nem sou puta

Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Ratatá! Ratatá! Ratatá!
Taratá! Taratá!

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Hanhan! Ah! Hanran!
Fama de porra louca, tudo bem!
Minha mãe é Maria Ninguém
Hanhan! Ah! Hanran!

Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima

Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Ratatá! Ratatatá
Hiii! Ratatá
Taratá! Taratá!

Composta pelas cantoras e compositoras brasileiras Rita Lee e Zélia Duncan, lançada no ano de 2000, a música pagu é uma das faixas que compõe o disco 3001, 29º da carreira de Rita Lee. A música como a mesma afirmou foi feita em homenagem a Pagu, Patrícia Galvão, uma brasileira bonita e gostosa, ativista política e grande artista, ou seja, uma legítima representante do belo talento pensante feminino. Letra escrita por ela mesma e composta com a melodia por Zélia Duncan que a nomeia de “A música” e que segundo ela surgiu em um momento em que ambas estavam falando muito por telefone e e-mail e entre suas conversas surgiu o nome Pagu, nome da cadela da Zélia, a Rita por sua vez informou que tinha uma letra de música com esse nome e para outra ficou o privilégio de colocar a música/melodia.

A letra em questão faz referência a Patrícia Galvão romancista, desenhista, tradutora, jornalista e professora, nascida em São João da Boa Vista - SP 1910. Trata-se de uma importante personagem da história do Brasil, umas das poucas mulheres da época a se professar em defesa da participação ativa da mulher em questões sociais e políticas. (PONTES, 2006) “polêmica, irreverente, emancipada”, Pagu como ficou conhecida, foi militante comunista que atuou de maneira significativa em prol da inserção da figura feminina na sociedade, mesmo tendo consequência como a prisão, torturas e consequentes problemas de saúde, por exemplo. Morreu em Santos – SP no ano de 1962, vítima de câncer, mas sua morte felizmente não acabou com todos seus anos de luta contra o regime machista e patriarcal ao qual “pertencíamos”:

A morte prematura de Pagu – dois anos antes do golpe militar de 1964 e a seis anos das manifestações de maio de 1968 – fez a luta pelos direitos das mulheres perder um reforço de peso e impediu o Brasil de contar com uma militante experiente durante o combate à ditadura. Mas seu exemplo pode ter servido para outras mulheres que se engajaram na defesa da liberdade nos anos seguintes. Algumas foram presas e torturadas como Pagu. Mas, tal como ela, a maioria seguiu lutando por seus ideais. (MORAES, 2011)

A presença de Patricia Galvão na história do Brasil foi tão importante para as mulheres que viviam naquela época, que sua história até hoje passa ser difundida como forma de mostrar sua significante participação nessa luta das mulheres em buscas dos ideais de igualdade e respeito. Como exemplo, podemos citar a música acima que como explícito foi composta por duas importantes cantoras, que fogem completamente desde padrão de mulher perfeita que por vezes está subentendido em nossa sociedade. Contudo, pretendo através desse trabalho não fazer uma análise da música “pagu” com período histórico em que foi lançada, mas sim fazer uma análise com o período da história ao qual Patricia Galvão viveu, relacionando trechos da música que estão associados ao seu modo de vida e também aos períodos históricos que serão citados, bem como sua representação na atuação conjuntura da época e sobretudo, mostrar através da letra a presença da figura feminina tão fortalecida pelas compositoras.

Tornar visível aquela que por muito foi vítima de uma sociedade machista e patriarcal foi um dos objetivos da jornalista Patrícia Galvão, esta invisibilidade que é detalhada por (LOPES, 1997) “A segregação social e política a que as mulheres foram historicamente conduzidas tivera como consequência a sua ampla invisibilidade como sujeito.” Além disso, a autora citava acima acredita que a forte tendência que as mulheres tinham (e ainda têm) em serem caracterizadas como domésticas, ou seja, aquelas que se dedicavam exclusivamente ao lar também favoreceu para que essa característica tenha durado tempo suficiente para que a mulher fosse vista como ser submisso e controlado por homens, algumas mulheres passaram a ocupar cargos e serviços que se diferenciava do rotineiro trabalho doméstico, mas ainda eram dirigidas e supervisionadas por homens. Nesse contexto, surge Pagu, “mexendo e remexendo na inquisição”, invalidando regras, participando de forma ativa na sociedade e na política, aliando-se a partido político não aceito na época pelo regime governamental brasileiro. (PRAUN, 2011) as mulheres deixaram a posição apagada e de pouca expressão que lhes cabia na sociedade patriarcal para um estágio de maior visibilidade social e mais acentuado progresso pessoal.”, mostrando-se do seu jeito, com seus traços fortes e marcantes (MORAES, 2011) “Cabelos compridos, maquiagem forte nos olhos, lábios vermelhos e um olhar desafiador. Linda, inteligente e versátil”, com todas as características que a mesma poderia possuir.

Rita e Zélia fazem uma crítica aos estereótipos quando explicita na terceira estrofe “Porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda. Meu peito não é de silicone. Sou mais macho que muito homem.” Esse trecho além de tentar quebrar com os estereótipos existentes sobre a figura da mulher “feiticeira” e também a “bunda” tão famosa das brasileiras e conhecida mundialmente. A mulher cujo peito é de silicone que tende a ser a representação da mulher ideal, com peitos, bundas abundantes em contraste com a cintura fina. (PRAUN, 2011) “Esses estereótipos ressaltavam as qualidades consideradas masculinas e patologizavam as qualidades femininas, ocasionando efeitos negativos nas mulheres que não se adequavam ao padrão idealizado”, ou seja, a construção social em que exibe a mulher como um produto está sempre associado aos padrões de belezas ideais que também são criados pela sociedade.

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