A Resenha Pedro Demo
Por: matheusavelar13 • 14/7/2023 • Resenha • 2.176 Palavras (9 Páginas) • 215 Visualizações
RESENHA CRÍTICA DE VÍDEO
DEMO, Pedro. Metodologia do Conhecimento Científico. 22 de março de 2015. 1 vídeo (43 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7hLqaJLQ5Q4 Acesso em: 05 de Junho de 2023 |
O presente texto tem por objetivo empreender uma análise crítica e reflexiva envolvendo a construção de uma Metodologia do conhecimento científico, a partir da entrevista do professor brasileiro Pedro Demo. Sociólogo reconhecido internacionalmente, Demo possui graduação em Filosofia – Bom Jesus (1963), doutorado em Sociologia pela Universität Des Saarlandes, Alemanha (1971) e pós-doutorado pela UCLA (1999-2000). É também professor titular aposentado da Universidade de Brasília (UnB), tendo recebido o título de Professor Emérito da Universidade pelos relevantes serviços acadêmicos prestados junto ao Departamento de Sociologia da instituição. Ademais, vale ressaltar que a bibliografia do autor conta com mais de 100 livros publicados, com especial ênfase em Sociologia da Educação e Metodologia Científica.
Durante a entrevista - que pode ser considerada uma verdadeira aula expositiva -Demo (2015) se debruça, em um primeiro momento, nos critérios formais e políticos concernentes ao conhecimento científico. Nesse sentido, o autor destaca que a formalidade do discurso é algo trabalhado desde a antiguidade clássica e que, nesse contexto, o discurso científico se consolidou a partir de um modelo ordenado, sistemático, tematizado e, em sua essência, formal. Desta feita, o sociólogo cita o livro “A ordem do discurso”, de Michel Foucault, ressaltando a importância da obra do filósofo francês para o entendimento pleno dos critérios formais do discurso científico. No que diz respeito aos critérios políticos, Demo (2015) afirma que estes são elementos internos, intrinsecamente ligados ao discurso científico. O autor, nesse sentido, afirma que o conhecimento se estabelece como um fenômeno político na medida em que é uma grande fonte de poder. O sociólogo, assim, recorre à obra de Paulo Freire - notável educador e filósofo brasileiro, com extensa obra voltada para a construção de uma educação mais justa, democrática e crítica – para ilustrar tal afirmação. Demo relembra, especificamente, as lições trazidas pro Freire em sua obra “Pedagogia do Oprimido”. Nesse sentido, o sociólogo remete ao aspecto essencialmente libertador do conhecimento, refletindo acerca de diversas situações cotidianas nas quais as dinâmicas de poder, que envolvem o saber, se fazem presentes.
A partir dessas reflexões, Demo (2015) destaca, também, o papel central das universidades enquanto “Catedrais do conhecimento”, responsáveis pela mudança de paradigma que envolve a autoridade do argumento enquanto contraponto do argumento de autoridade. O autor, contudo, alerta que a ciência construída nesses espaços de conhecimento não pode ser considerada absoluta ou indiscutível. Nesse sentido, o sociólogo destaca que “toda crítica só é crítica se for, antes, autocrítica” (DEMO, 2015, 7:51), afirmando, também, que um bom conhecimento deve ser construído a partir de questionamentos constantes, sabendo das limitações que envolvem seu processo de construção, desconstrução e reconstrução. A partir dessa discussão epistemológica, Demo faz referência à obra de Sócrates, salientando a estreita correlação que os ditos do filósofo grego guardam com tal concepção, pós-moderna, de conhecimento.
Assim sendo, se faz mister relembrar, brevemente, os trabalhos desenvolvidos por Sócrates. Especificamente em relação ao tema abordado no parágrafo anterior, vale destacar a maiêutica socrática, que preconizava que a construção do conhecimento deveria se dar a partir de um jogo dialético de questionamentos e respostas, seguidos de mais questionamentos. Nesse contexto, a filosofia socrática traz a lição de que o conhecimento científico é, fundamentalmente, estabelecido, a partir da desconstrução dos argumentos, fato que se encaixa perfeitamente no argumento defendido por Demo.
Ainda sob a ótica epistemológica supracitada, Demo (2015) reafirma que o conhecimento se torna mais profundo na medida em que é criticado e questionado, edificando-se a partir de um processo constante que, necessariamente, também envolve sua desconstrução e reconstrução. Em vista disso, o autor relembra a obra “A Estrutura das Revoluções Científicas”, de Thomas Kuhn, destacando a ideia de paradigma proposta pelo filósofo estadunidense. Assim, Demo ressalta que as escolas de pensamento podem, eventualmente, tornar-se paradigmáticas, seguindo uma linha de pesquisa que passa a ser considerada dominante. Nesse contexto, tais escolas tendem à mediocridade, haja vista que o conhecimento produzido deixa de ser efetivamente questionado, ficando restrito a uma “bolha” e dialogando sempre com os mesmos acadêmicos.
A entrevista, dessa forma, torna-se ainda mais enriquecedora com o posicionamento abertamente crítico defendido por Demo (2015). O autor, nesse contexto, lança mão de declarações fortes, provocando no espectador um sentimento de inquietude que, de certa forma, é característico do pensamento científico. Em uma das passagens que marcam tal posicionamento, o sociólogo afirma que “o nosso conhecimento é de pedra (...), veio do questionamento, mas não quer mais ser questionado” (DEMO, 2015, 10:11). A partir dessa visão crítica, o autor aproveita para discutir a ideia da falibilidade das teorias, proposta pelo filósofo austro-britânico Karl Popper. De acordo com essa linha de pensamento, as teorias só valem (provisoriamente) se são consideradas falíveis. Dessa forma, um discurso científico só é válido quando apresenta discutibilidade (o que não é discutível, afinal, constitui-se enquanto dogma). Aqui, Demo destaca a ideia do paradigma pós-moderno relacionado ao caráter relativo daquilo que consideramos como “verdade”, que nada mais é do que uma “pretensão de validade”.
Nesse percurso elucidativo, Demo (2015) adverte que uma pesquisa científica deve seguir alguns aspectos conceituais para que possa ter validade como a consistência teórica, a estrutura metodológica e a relevância política. A partir desse apontamento, o pesquisador introduz alguns conceitos relevantes para a construção metodológica do conhecimento científico.
Dentre tais linhas de pensamento, o autor destaca a dialética por propor uma perspectiva crítica para a compreensão da multiplicidade e das contradições presentes na realidade. Nesse sentido, Demo ressalta que tal dinâmica apresenta maior discernimento da totalidade dos fenômenos sociais e constata que o concreto não pode ser entendido de forma fragmentada, mas sim como um todo interconectado, no qual diferentes aspectos estão em constante interação e embate. A partir desse constante debate, é possível identificar e compreender as contraposições existentes em diferentes estruturas e relações humanas, possibilitando a busca por novas hipóteses científicas. Assim, a dialética - entendida como “unidade dos contrários” - passa a facilitar o entendimento de que essas contradições inerentes à realidade social possam ser consideradas fontes de transformação e de desenvolvimento.
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