A SOCIEDADE E SAÚDE MENTAL

SOCIEDADE E SAÚDE MENTAL

Opção substitutiva: Sendo a didática a arte e a ciência do ensino, e de acordo com o que vimos na disciplina, o que é preciso considerar para se ter uma boa didática, seja na sala de aula, no trabalho ou na vida?

É importante perceber (e se perceber em si), que estamos imersos, querendo ou não, conscientes ou não, em processos histórico-culturais que são inevitavelmente dinâmicos e que por muitas variáveis sociais se encontram em crise. Talvez a compreensão e a apreensão dessa realidade social requeira constantemente uma ressignificação do Eu-Eu e do Eu-coletivo, e isto é possível a partir do pressuposto de que a cultura, através de suas instituições sociais (Escola, Estado, Mídia, Religião, Família, Linguagem), modificam-se permanentemente e como consequência agem direta e profundamente sobre todos nós provocando mudanças. Atualmente, e de forma acelerada, crises (econômicas, ambientais, de valores) colocaram em xeque o paradigma dominante - onde nossos conceitos e práticas se sustentavam – e perante esse contexto social de crises, a construção de novos referenciais, que capturem a nossa subjetividade para um paradigma emergente, deve perpassar a ressignificação de conhecimentos (teorias) e de práticas em nossas interações sociais cotidianas.

Nesse contexto, a boa didática é aquela que consegue perpassar as dimensões do biopsicossocial, e organizacional, com o objetivo possibilitar a apropriação de ações, de modos de agir e de pensar as práticas. Analisar a realidade social na qual se está inserido, e onde realmente a vida das pessoas acontece, ressignificando comportamentos e atitudes deve compor o conjunto de habilidades e competências daqueles que são partícipes (professores, gestores) do processo de mediação cultural. Dessa forma, a práxis didática deve pressupor conexões entre pessoas e entre saberes contextualizando as diversas realidades sociais e com inteligência emocional,  equilibrando racionalidade e afetos sem dissociar dessa complexidade, a humanização.

Como você pensa o mundo globalizado e seus paradigmas? Como se configuraria a construção do papel do especialista em psicologia organizacional nesse processo?

O novo tempo-espaço da pós-modernidade (globalizada e de muitas conexões) coloca os indivíduos em processos de instrumentalização da razão (paradigma dominante) ao mesmo tempo que requer processos interacionais que, além de complexos (paradigma emergente), apenas são possíveis a partir da discussão e do desenvolvimento das identidades e dos afetos com base num circuito de sentidos e significados humanizadores.

Esse indivíduo ainda fragmentado e num mundo líquido, como afirma Zygmunt Bauman, imerso violentamente em processos e interações sociais, ainda piramidais, mas que impõem a busca e a pseudo-satisfação do melhor desempenho, de certa forma é forçado a fazer essa transição de tempos e espaços, aqui e agora, e assim não se percebe numa práxis de produção de sua própria subjetividade e nesse sentido não é capaz de se empoderar em relação as realidades que o circunda, o insere e o exclui direta e indiretamente, seja dentro ou fora de subsistemas organizacionais. Ainda, e utilizando a ideia da sociedade do cansaço, do filósofo  alemão Byung-Chul Han, “os sujeitos da sociedade do cansaço não se chamam mais “sujeitos de obediência”, mas sujeitos de desempenho e produção. São empresários de si mesmos”. Nesse sentido, a atenção, a reflexão e os cuidados deveriam estar voltados para o novo paradigma das relações sociais (e também do trabalho), a saber, o imperativo do desempenho - que faz com que os sujeitos, desse mundo líquido e perversamente globalizado, adoeçam psicológica e fisicamente.