A Sobre Sociedade, Ética e Negócios
Por: mds1963 • 25/9/2019 • Artigo • 3.555 Palavras (15 Páginas) • 173 Visualizações
SOBRE SOCIEDADE, ÉTICA E NEGÓCIOS
Pero quando las exigencias del negocio chocan com la moralidad o el bienestar de la sociedad, el que debe ceder es el negocio, y éste es quizás el sentido último de la ética de los negocios.
(Robert C. Solomon)
Introdução
O presente texto tem como objetivo refletir sobre alguns pontos relacionados a temática Sociedade, Ética e Negócios no bojo da disciplina de mesmo nome apresentada no curso de Doctorado em Ciencias Empresariales y Sociales da Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales, Buenos Aires, Argentina, pelas Profas Dras Isabel Pérez Jáuregui e Mirta Noemi Cohen, no módulo de Janeiro/18.
A reflexão partiu de uma perspectiva do relacionamento entre Sociedade e Organizações capitalistas onde estas absorveram aquela, transformando as estruturas sociais tradicionais e desenvolvendo um aparato de controle dos indivíduos e da sociedade sem precedentes, com graves custos para estes últimos.
Em seguida, são apresentadas algumas reflexões sobre o relacionamento entre Ética e Negócios, partindo de uma visão da Ética baseada da Filosofia Materialista.
Por fim, sugere-se como uma possibilidade de superação dos desafios atuais da sociedade a reflexão sobre o papel do trabalho na sociedade atual e a apresentação de um modelo de projeto de vida laboral autêntico, que integra a perspectiva Ética ao desenvolvimento pessoal dos indivíduos no ambiente de trabalho das organizações.
Espera-se que estas breves reflexões contribuam para o debate e o avanço social.
Sobre Sociedade e Organizações
É senso comum a ideia de que “vivemos em uma sociedade de organizações”. Tal afirmação, todavia, pode ser compreendida de diversas maneiras quando se reflete sobre a relação entre estes dois fenômenos, sociedade e organização. À primeira vista, a frase pode transmitir a ideia de que sociedade e organizações são entidades distintas, porém, relacionadas, sendo que o conjunto destas faz parte daquela, que, por sua vez, é maior e vai além daquelas.
Entretanto, a avaliação da importância e do impacto das organizações capitalistas sobre a estrutura e o funcionamento da sociedade atual pode levar a interpretações muito diferentes sobre esta relação. É, neste sentido, que Perrow afirma que
Las organizaciones son el fenomeno clave de nuestro tiempo, convertiendo a la política, las clases sociales, la economia, la tecnologia, la religión y la família em variables dependientes. [...] Las organizaciones son la clave da la sociedad porque las grandes organizaciones han absorbido a la sociedad. (PERROW, 1992, pp.20-21. Destaques no original).
As implicações desta ideia de que as grandes organizações capitalistas absorveram a sociedade são muito profundas, pois muda o sentido de determinação da inserção social dos indivíduos, bem como o sentido da construção dos relacionamentos entre indivíduos e destes com as estruturas da sociedade, como governos, escolas, igrejas, associações civis, família, vizinhança, etc. Muda, também, o próprio papel e objetivos que estas estruturas da sociedade desempenham e perseguem em relação aos seus indivíduos. No advento da sociedade capitalista, as estruturas sociais tradicionais mencionadas perdem o seu protagonismo perante os indivíduos e passam a ser estruturas de atendimento das necessidades e exigências das organizações capitalistas.
Para este autor, o sentido de determinação entre sociedade e organizações após o advento do capitalismo se inverteu. Até então, a sociedade e suas estruturas eram responsáveis por acolher, amparar, preparar e desenvolver seus indivíduos para sua inserção na sociedade e desempenho de seus papeis sociais e individuais, oferecendo condições e oportunidades de aprendizado intelectual, estético, técnico e moral. Com o capitalismo, estas estruturas sociais, incluindo a religião e a família, foram conformadas para fazer frente ao novo fenômeno e têm cada vez menos uma realidade independente. Servem, agora, às necessidades e objetivos das organizações capitalistas.
Indo mais além, a mudança de sentido de determinação entre sociedade e organizações reorientou não só os papeis e atividades das estruturas sociais, como também mudou profundamente a própria perspectiva de interpretação da natureza do ser humano e seu papel em sociedade.
Corroborando estas ideias, Solomon afirma que
La aceptación general de los negócios y el reconocimiento de la economia como estrutura central de la sociedade dependieron de una nueva forma de Concepción de la sociedade que exigió no sólo un cambio de sensibilidad religiosa y filosófica sino, subyaciendo a ésta, un nuevo sentido de la sociedad e incluso de la naturaleza humana. (SOLOMON, 1995, pp. 485).
Uma vez que a maior parte do tempo diário de um indivíduo, e sua própria sorte, passou a depender de uma organização, toda a sociedade civil teve que se reorganizar e se preparar para socializar seus membros de acordo com as novas exigências das organizações. A cidadania passou, então, a valorizar a pontualidade, a obediência, o respeito, a paciência em servir ao outro e para ascender socialmente, e a preparar os indivíduos com conhecimentos suficientes de aritmética e alfabetização que permitissem sua inserção no mercado de trabalho. Assim, os papeis e controles discretos desempenhados anteriormente pelas estruturas sociais, como a reciprocidade, a cultura ética e religiosa e o convívio familiar e social, perderam importância (PERROW, 1992).
Para Perrow (1992), a absorção da sociedade pelas organizações capitalistas ocorre pela conjunção de três fatores atuando em conjunto: a) dependência salarial; b) externalização do custo social, e; c) uma nova forma de burocracia, a burocracia industrial.
Para que parcelas importantes da sociedade desaparecessem absorvidas pelas organizações era necessário que uma alta porcentagem da população economicamente ativa não tivesse outra oportunidade de obter rendimentos senão empregando-se em uma organização em troca de um salário. Em uma sociedade de organizações capitalistas, as oportunidades de autoemprego e independência econômica teriam que se reduzir ao mínimo, o que a dependência salarial assegurava.
Os custos sociais provocados pelo gigantismo das organizações e da produção em grande escala tiveram que ser disfarçados e disseminados nas partes mais frágeis da sociedade para assegurar a legitimidade das grandes organizações. Por outro lado, este impacto estendeu-se e conformou um novo papel para as estruturas sociais como governos, serviços e organizações da sociedade civil. Uma grande parte do desenvolvimento destas organizações está relacionado à absorção dos custos sociais criados pelas grandes organizações capitalistas, como desemprego, superpopulação, conflitos sociais, alienação, pobreza, violência, patologias sociais, etc.
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