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Diversidade Cultural E A Formação Social Brasileira

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Por:   •  25/5/2014  •  1.389 Palavras (6 Páginas)  •  934 Visualizações

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Segundo Roberto Da Matta é notória a importância dos elementos étnicos, a dizer branco: negro e indígena na formação da sociedade brasileira. A amálgama formada a partir desses elementos, através de suas relações sociais e pessoais, proporcionou o reconhecimento da identidade nacional como deveras peculiar em relação a outros países com experiências semelhantes. O Brasil se tornou uma sociedade mestiça e homogênea, onde não existiria preconceito "racial" e todos os indivíduos seriam, em potencial, capazes de possuírem igualdade formal, material e moral entre si.

Em termos gerais, este é o mito de origem da sociedade brasileira, conhecido como o "mito das três raças". Para Peter Fry, é possível notar sua presença em diversos âmbitos da sociedade, desde interpretações acadêmicas até em relações fortuitas do cotidiano. Apesar de não corresponder com precisão à realidade vivida, ele serve como uma orientação para se avaliar as relações sociais, positivas ou negativas, pois corresponde à realidade idealizada.

Existem várias correntes que explicar a formação racial/cultural da sociedade brasileira. A primeira destas correntes previa a degenerescência e o pensador mais importante era o Conde de Gobineau, o qual via a mistura de raças como fator de decadência e degenerescência da sociedade brasileira, e influenciou a obra de expoentes do pensamento brasileiro como Sílvio Romero, Olveira Vianna e Nina Rodrigues.

Já Gilberto Freyre se propõe a deslocar o debate superioridade/inferioridade para a observação de uma situação de contato e de troca que se atualiza dentro de uma estrutura social de desigualdade, uma vez que nesta troca uma das partes é o senhor e as outras duas encontram-se, com menor ou maior intensidade numa condição servil. Para este autor a miscigenação deixa de ser considerada um fenômeno meramente biológico ou ainda um processo gerador de aptidões e costumes, degenerescências dela derivadas e agravadas pela ação deprimente do clima. Ao contrario a mistura de diferentes grupos étnicos é vista com algo positivo e ate mesmo capaz de promover uma democratização a partir da posição ambivalente do mestiço.

Outro estudo que abarcou as características da identidade nacional foi Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda. Para este autor, os males do país também não provêm da miscigenação. São oriundos da personalidade do português. Essa personalidade se apresenta tão dominante que a mistura com índios e negros não conseguiu superá-la. Pelo contrário, argumenta que a personalidade dos negros era semelhante à dos portugueses, ou seja, plástica e maleável. O que lhes fomentavam um caráter ?anti-social? que preferia os entretenimentos ao trabalho. Nessa sociedade, as relações sociais afiguraram-se a partir da cordialidade e do personalismo. Relações que tomam formas distintas de acordo com o interlocutor, mas sempre de maneira afetiva. Característica que se tornou geral na sociedade brasileira. A cordialidade favoreceria, segundo o autor, a dinâmica social através da emoção, ao invés de regras sociais fixas.

Outra importante contribuição ao entendimento da formação étnica e à diversidade cultural brasileira se dá por meio da obra de Darcy Ribeiro. Como leciona Adelia Miglievich Ribeiro , este antropólogo ? desenha um povo que nasce de contínuos e violentos atos que vêm a caracterizar a história de nossa unificação política. Intitula o capítulo que inicia a segunda parte de seu livro O povo Brasileiro (1995) significativamente: Brasil: criatório de gente. É o antropólogo Darcy que fala da instituição social que explica o Brasil em seu nascedouro: o cunhadismo?.

Esta antiga prática indígena para incorporar estranhos à sua comunidade consistia em lhes dar uma moça índia como esposa. Assim que o homem estranho à tribo a assumisse deixava de sê-lo e estabelecia-se, automaticamente, mil laços que o aparentavam a todos os membros do grupo. Isso se alcançava graças ao sistema de parentesco classificatório dos índios que relaciona, uns com os outros, todos os membros de um povo?.

Para Darcy, o brasileiro nasce no processo de distinção de suas matrizes originais, hostilizado e, também, hostil. O mameluco rejeita a mãe índia que lhe deu a luz e opõe-se aos irmãos de sangue das Américas ao mesmo tempo em que é desconhecido por seu pai branco e banido entre os irmãos de ultramar. (...) Os brasileiros-brasilíndios-mamelucos expandem o domínio português na constituição do Brasil, castigando as gentes de sangue materno. Interrompe-se assim a linha evolutiva prévia das populações indígenas subjugadas como mão-de-obra servil de uma nova sociedade integrada numa etapa mais elevada da evolução sociocultural. Tem-se não a assimilação étnica, mas sua integração.

Não menos dolorosa é a transfiguração étnica que fez nascer o brasileiro-mulato. A submissão do escravo africano trazido para o Brasil apenas pode ser explicada pela força da opressão que exigiu a mais fervorosa vigilância e o uso constante dos castigos preventivos capazes de levar o ser humano a se esquecer de si. Exalta a fuga como a mais forte motivação do cativo para se manter vivo. Destaca o principal dos conflitos havidos na história brasileira: o racial que não oculta, ao contrário, os elementos classistas. Antagonismos estes que alcançavam o caráter mais cruento no enfrentamento dos negros a seus senhores. Palmares é o caso exemplar do enfrentamento inter-racial que, também, continha um projeto de sociedade na forma do igualitarismo e da economia solidária. A pronta ação repressora que sustenta o latifúndio e as lutas dos subalternos constróem, num só tempo, o Brasil.

Segundo a autora, Darcy defende a noção de um povo novo nascido na maioria dos países da América Latina resultado dos processos de desindianização do índio, de desafricanização do negro e de deseuropereização do europeu. Um país de mestiços, os quais não são iguais aos seus ascendentes de uma ou outra etnia, portanto, uma nova etnia nacional, dos índios e dos africanos mortos, dos mamelucos, caboclos e mulatos que, sem identidade, plasmaram a identidade do brasileiro, ?dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos? .

Bibliografia básica:

COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3ª ed. ampliada e revista. São Paulo, Moderna, 2005. Capítulo 4 - A emergência do pensamento social em bases científicas (pp. 64-80).

Bibliografia complementar:

ALENCAR, Rívia Ryker Bandeira de. O Ritual dos 500 anos: três versões de um mesmo mito. Disponível em http://www.antropologia.com.br/divu/colab/d19-rbandeira.pdf

DA MATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. p. 17-27.

MATA, Vera Lúcia Calheiros e GOMES, Artur Nunes. Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala e o mito de origem do povo braileiro. Revista Crítica de Ciências Sociais nº 59. Coimbra, CES, fevereiro de 2001.

RIBEIRO, Adelia Miglievich. A antropologia dialética de Darcy Ribeiro. Sociedade e Estado. vol.26 no.2 Brasília Mai/Aug. 2011. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922011000200003 .

Aplicação Prática Teórica

Aplicação prática e teórica

Questão discursiva:

Leia a reportagem a seguir: ?Antes de pedalar pelas ruas de Amsterdã com uma bicicleta vermelha e um sorriso largo, como fez na tarde da quarta-feira da semana passada, Ícaro Luís Vidal dos Santos, 25 anos, percorreu um caminho duro, mas que poderia ter sido bem mais tortuoso. Talvez instransponível. Ele foi o primeiro cotista negro a entrar na Faculdade de Medicina da Federal da Bahia. Formando da turma de 2011, Ícaro trabalha como clínico geral em um hospital de Salvador. A foto ao lado celebra a alegria de alguém que tinha tudo para não estar ali. É que, no Brasil, a cor da pele determina as chances de uma pessoa chegar à universidade. Para pobres e alunos de escolas públicas, também são poucas as rotas disponíveis. Como tantos outros, Ícaro reúne várias barreiras numa só pessoa: sempre frequentou colégio gratuito, sempre foi pobre ? e é negro. Mesmo assim, sua história é diferente. Contra todas as probabilidades, tornou-se doutor diplomado, com dinheiro suficiente para cruzar o Atlântico e saborear a primeira viagem internacional.? (Revista Isto É, 05/04/2013).

A partir da leitura do texto acima explique em que consiste o ?Mito das Três Raças? e interprete a história de Ícaro Luiz Vidal dos Santos com base nas discussões acerca da atualidade desse mito.

Questão de múltipla escolha:

Há uma "ideologia abrangente" permeando todas as camadas e espaços sociais: "preguiça do índio", "melancolia do negro", a "cupidez" e "estupidez", do branco lusitano, responsáveis, nessa visão popular, pelo nosso atraso econômico e social, indigência cultural e a nossa necessidade de autoritarismo político, fator corretivo básico neste universo social que, entregue a si mesmo, só poderia degenerar. (Roberto da Matta in Relativizando: uma introdução à antropologia social).

O fragmento de texto acima se refere ao pensamento de:

A) Gilberto Freyre

B) Sérgio Buarque de Hollanda

C) Conde de Gobineau

D) Darcy Ribeiro

E) Fernando Henrique Cardoso

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