GENEALOGIA LOURENÇO BELFORT
Trabalho Universitário: GENEALOGIA LOURENÇO BELFORT. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: wlmcant • 11/1/2014 • 10.305 Palavras (42 Páginas) • 325 Visualizações
FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ,
MATRIZ DO POVOAMENTO DA RIBEIRA DO MEARIM
Washington Cantanhede
INTRODUÇÃO
A ocupação do Maranhão, sob a ótica de protagonista do elemento de origem portuguesa, se fez sob os influxos de três grandes forças motrizes: 1º) inicialmente, a colonização a partir da Ilha de São Luís, realizada essencialmente pelos reinóis, espraiando-se, notadamente por via fluvial, pela porção norte do interior, ocorrendo de 1615 em diante, após a expulsão dos franceses, como forma de garantir o domínio português sobre esta parte da América; 2º) depois de meados dos anos 1700, mediante uma corrente de povoamento oriunda, principalmente, de Pernambuco e da Bahia, formada essencialmente por gente nascida no Brasil (pessoas, invariavelmente, chamadas de baianos), que, demandando o sertão dos pastos bons para a criação de gado, deu origem, primeiramente, ao povoado que tomou aquele nome – Pastos Bons – e, na sequência, a vários novos núcleos de povoamento do sul do Maranhão; 3º) finalmente, de meados dos anos 1800 avante, com o surgimento dos grandes núcleos populacionais da região central, forjados do encontro da continuação das duas correntes (a proveniente do norte e a provinda do sul, ambas já com a heterogeneidade étnica que o tempo acarretara) e sob pressão das levas de nordestinos que passaram a chegar, grande parte fugindo do flagelo das secas (sentido leste-oeste). A isso se seguiu, em termos de povoamento, o fenômeno ainda em curso, protagonizado por gente de origem vária, ocupando com propósitos diversos e de forma difusa os vãos do território maranhense ainda existentes, ou “abertos” nem sempre de modo ortodoxo – ainda a história dos nossos dias...
A colonização a partir do norte, através dos dois maiores rios genuinamente maranhenses, o Mearim e o Itapecuru, não ocorreu, entretanto, com êxito simultâneo. Enquanto os primeiros núcleos populacionais ao longo do Itapecuru começaram a surgir ainda em meados do Século XVII, no Mearim, em termos de povoação – desde a foz até onde uma missão jesuíta tentara o aldeamento de índios gamela na segunda metade dos 1700, o lugar de Lapela, também assentado sobre alta barreira – o que havia até o final do Século XVIII eram engenhos, fazendas e ajuntamentos de poucas casas. Afinal, no baixo curso desse rio, o terreno não era favorável à colonização – região vulnerável à força de suas típicas marés descomunais (baixa, alagadiça e de terras pouco firmes); e, rio acima, demandando o sertão, as dificuldades de penetração eram gigantescas: lajes quase intransponíveis no próprio leito do rio e a sempre hostil reação indígena à mais longa penetração do colono.
O Arraial da Vitória, surgido em fins do Século XVIII, sede da vetusta Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré da Ribeira do Mearim, que remonta ao início daquela centúria, e do Distrito do Julgado do Mearim (circunscrição administrativa e judiciária criada em meados da referida centena), conquanto ainda fizesse parte do Município de São Luís, a capital do Estado, era, até o início do século XIX, o único núcleo populacional significativo, em terras banhadas pelo Rio Mearim, como fruto daquela primeira onda povoadora. Localizado no curso inferior deste rio e assentado sobre uma colina, foi, portanto, o primeiro lugar onde alcançou êxito o projeto colonial de fixar um grande povoado no Mearim.
Mas até chegar a esse ponto muito tempo e muita energia humana se haviam dispendido. E a primeira personalidade fundamental nesse processo foi um homem chamado José da Cunha d`Eça.
A FREGUESIA
Em 1722, segundo Bernardo Pereira de Berredo e Castro, em seus famosos Anais Históricos do Estado do Maranhão, escritos em 1723 e publicados em 1749, as margens do Mearim, por ele considerado o príncipe soberano de todos os rios da Capitania do Maranhão, estavam povoadas somente a cerca de dez léguas de sua boca e com menos de setenta moradores. A região já sediara seis engenhos de açúcar de grosso rendimento e ainda conservava três naquela época, embora “de pouca utilidade, por falta de fábrica, desamparados todos os mais dos senhores deles por sobrado receio do gentio de corso, quando estas terras parece que as criou a alta Providência para a mesma cultura; porque facilitou por um tal modo o trabalho dela, que as plantas de um ano duram mais de trinta sem muito benefício”.
Na região, apesar da existência precedente da igreja de São Lourenço, do Convento de Na. Sra. das Mercês, erigida à margem daquele rio há anos (nela, o bispo do Maranhão, D. Frei Manoel da Cruz, crismaria 344 pessoas em 1740), foi somente em 1723 que a Metrópole admitiu ao real padroado uma igreja do Mearim, construída recentemente.
Antes, D. Frei José Delgarte, quarto bispo do Maranhão, comunicara a El-Rei D. João V que
José da Cunha d’Eça, fidalgo da Casa Real e Capitão-mor que fora da mesma Capitania, se resolvera a abraçar o estado eclesiástico, pelo que lhe conferira as ordens necessárias e o persuadira, visto possuir bens de fortuna, a levantar uma igreja na Ribeira do Mearim, onde já existiam 500 almas privadas de sacramentos, ao que o dito padre atendera não só edificando a igreja como também dotando-a de um curral de gado, meia légua de terra, quatro escravos e mais abegoaria necessária e paramentos suficientes de três cores, naveta, turíbulo, caldeirinha e sino. [q.v. notas biográficas sobre o referido fidalgo, no Anexo]
Por isso, El-Rei mandara admiti-la ao seu real padroado, e confirmava o referido padre como seu prelado, consignando-lhe a côngrua anual de 50$000 réis. Fizera isto através da Resolução Régia de 18 de março de 1723.
Nascia, assim, com a nova igreja, a Freguesia da Ribeira do Mearim, fator de aglutinação populacional naquela época de intenso fervor católico – um templo e o respectivo vigário, que até então não existia, para cuidar das quinhentas almas privadas de sacramentos que viviam dispersas por toda a região que margeia o baixo curso do referido rio.
Edificada a igreja e dotada de curral não muito distante, em lugar desde logo conhecido como Curral da Igreja, tudo em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, em 1734 já recebia a visita do Pe. João Rodrigues Covette, no período de 8 a 16 de novembro, em que foram ouvidas, aproximadamente, trinta pessoas, previamente notificadas, num procedimento inquisitório referente a práticas de concubinato, “amancebamento” e “ilícita amizade” de moradores
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