O SISTEMA ECONÓMICO BRASILEIRO
Tese: O SISTEMA ECONÓMICO BRASILEIRO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Caligula • 3/6/2014 • Tese • 1.285 Palavras (6 Páginas) • 245 Visualizações
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O SISTEMA ECONÔMICO BRASILEIRO
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Conjuntura Econômica, 59 (4), abril 2005: 16-17.
Um sistema é sempre um conjunto de elementos articulados entre si de forma a
constituir um todo. Essa articulação ou coordenação dos elementos obedece a uma lógica,
que é a da sobrevivência, quando se trata de sistema vivo. Quando se trata de um sistema
social, o objetivo mínimo é igualmente a sobrevivência, ou a segurança, mas como e
formado de agentes racionais dotados de vontade, há um objetivo econômico adicional: o
bem-estar. Esta afirmação não e arbitraria: com o trabalho, que é o elemento básico de
qualquer sistema econômico, o homem visa melhorar seu padrão de vida. Quando,
finalmente, se trata de um sistema social dotado de um Estado moderno e democrático, ou
seja, dotado de um instrumento de ação coletiva, o bem-estar deixa de ser um objetivo
implícito e passa a ser explicito. Os governos dos Estados-nação, apoiados e legitimados
por seu povo ou nação, passam a desenvolver estratégias buscando o desenvolvimento
econômico. A lógica do sistema passa a ser o desenvolvimento.
Por outro lado, todo sistema econômico tem como principio de coordenação o mercado.
Através do mercado e com o uso do dinheiro, os produtores competem entre si, e dessa
forma o mercado aloca recursos e determina a distribuição da renda. No papel de alocador
de recursos, o mercado é um mecanismo maravilho só embora cheio de falhas, e depende
da ação regulatória do Estado para poder ser efetivo. Como instrumento distribuidor de
renda, e cego e injusto. Por isso, a ação deliberada da sociedade através do Estado está
sempre presente na regulamentação do mercado, e na tentativa de correção das suas falhas.
No Brasil, porém, o sistema econômico vigente não obedece à lógica do bem estar ou
do desenvolvimento. Sua lógica é a dos juros. Usando uma linguagem que os economistas
entendem bem, sua função-objetivo é a obtenção de rendimentos ‘satisfatórios’ para os
rentistas e seus comissiona dos na área financeira, entendendo-se por rendimento
satisfatório uma taxa de juros básica Selic em torno de 10% ao ano em termos reais, ou
cerca de 7% anuais após o Imposto de Renda. Enquanto nos países desenvolvidos a taxa
de juros real para aplicações seguras em títulos de renda fixa está em torno de 2%, e em
outros países em desenvolvimento é um pouco maior do que isto, aqui é cinco vezes
maior. Por que tanto? Foram provavelmente as altas taxas de crescimento durante os anos
70 e a alta inflação durante os anos 80 até 1994 que levaram os rentistas, especificamente
os credores internos e externos do Estado, a entender consensualmente que essa taxa lhes é
devida. E foi certamente a política frouxa, submissa, dos diversos governos, que legitimou
essa pretensão.
Afirmo que a função-objetivo do sistema econômico brasileiro é um rendimento
financeiro de cerca de 10% reais porque toda a lógica da política econômica aponta nessa
direção. Evidentemente, não é esse o entendimento dos interessados e das autoridades
monetárias. Para eles, o objetivo está claro: e a meta de inflação, que seria condição para o
desenvolvimento. Não há dúvida que manter o controle da inflação é fundamental, mas
para isso não é necessário manter a taxa de juros básica em um nível sem qualquer relação
com a classificação de risco do país.
Se fosse verdade que o controle da inflação é o objetivo principal da política
econômica, nos momentos em que a demanda agregada caísse e a inflação entrasse
correspondentemente em declínio, o Banco Central aproveitaria a oportunidade para
baixar a taxa de juros básica para os níveis internacionais compatíveis com a classificação
de risco do Brasil. Ora, isso é impensável para seus diretores, que adotam um modelo onde 17
a taxa de juros de equilíbrio estaria em torno de 9% reais. Além disso, se o objetivo
principal fosse combater a inflação, o governo já teria acabado definitivamente com toda
indexação na economia brasileira. Mas também essa medida está fora da agenda do
Ministério da Fazenda e do Banco Central.
A política fiscal encontra-se também subordinada a taxa de juros satisfatória. Uma vez
definida essa taxa, é preciso evitar que o endividamento público cresça em relação ao PIB.
Em outras palavras, é preciso que o devedor não fique endividado a ponto de tender a se
tornar insolvente, e assim arriscar os créditos dos rentistas. O superávit primário de 4,5%
foi calculado para que essa finalidade seja atingida. Se o objetivo fosse usar a política
fiscal para combater a inflação, a meta fiscal deveria variar de acordo como ciclo
econômico, reduzindo
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