COMUNICAÇÃO RESPONSÁVEL: A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA MÍDIA
Por: Stephanie Queiroz • 27/11/2016 • Trabalho acadêmico • 2.688 Palavras (11 Páginas) • 404 Visualizações
COMUNICAÇÃO RESPONSÁVEL: A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA MÍDIA – do produto ao conteúdo
Ágatha Gabin e Stephanie Queiroz
Universidade da Serra Gaúcha
Índice
- Mídia e sociedade
- Comunicação responsável
2.1- Caso Eloá;
- Mulher e mídia: o papel social do jornalista na construção do discurso.
- A mulher como insumo publicitário
- Mulher e publicidade: representação, comportamento, ditadura da beleza.
Resumo
O presente artigo tem por objetivo gerar a discussão acerca do papel do comunicador, tendo em vista seu protagonismo na formação de opiniões, na construção do discurso responsável nos meios de comunicação em massa, sobretudo no que se refere à representação da mulher na mídia.
Tendo como ponto de partida o espetáculo midiático montado acerca do caso do sequestro e morte da jovem Eloá Cristina Pimentel pelo ex-namorado Lindemberg Fernandes Alves, em outubro de 2008, onde a imprensa brasileira atuou de forma excessivamente inconsequente a ponto de interferir nos desdobramentos, é levantado o questionamento da responsabilidade do comunicador, no jornalismo e na publicidade, na construção de um processo de comunicação humanizada e responsável acerca das questões de violência contra a mulher e na representação do feminino nas mídias.
- Mídia e sociedade
O desenvolvimento tecnológico nas últimas décadas tem mudado a forma como nós nos comunicamos. E essa mudança se estende à nossa maneira de pensar, trabalhar e relacionar-se com a sociedade.
O processo de acessibilidade à informação, iniciado com a criação dos meios de comunicação em massa (televisão, rádio, cinema), foi dinamizado nos últimos anos com o poder de interação através do uso da internet.
Hoje vivemos em uma sociedade totalmente imersa na enxurrada de aparatos tecnológicos que compõem nosso dia a dia e que provocam essa mudança em todas as áreas da nossa vida cotidiana, das relações pessoais aos tratados comerciais.
Os meios de comunicação convencionais tiveram de se reinventar para acompanhar as novas necessidades dessa sociedade tecnológica, dinâmica e interativa, afim de não perder seu papel influenciador à audiência.
Hoje, com a gama de funções agregadas aos aparelhos de telefone celular, com possibilidades de utilização de câmeras e o acesso à internet móvel, a população deixa o papel de mero espectador e passa a ser parte da programação e do conteúdo. Todavia, a televisão persiste sendo o principal meio de comunicação em massa, exercendo seu papel de mídia das mídias que “Absorve e devora todas outras formas de mídias e formas de cultura, desde as mais artesanais, folclóricas e prosaicas até as mais eruditas: do cinema, jornal, documentário até o circo, teatro etc.” (Santaella, 1996)
As mídias, desde seus respectivos surgimentos e posterior desenvolvimento, sempre exerceram um papel de grande relevância na sociedade enquanto fonte de informação e entretenimento, fomentando debates e gerando novas formas de relação entre as pessoas e o mundo que lhes cerca. A televisão, pelo grande apelo imagético que lhe é conferido, e por conta de seu consumo acessível ainda ocupa lugar de excelência na sociedade atual (Souza, p. 05), desta forma, o conteúdo que por ela é emitido gera impacto relevante no modo de viver das pessoas.
Os meios de comunicação estão diretamente ligados à função cultural. Lúcia Santaella explica que:
Se cultura já é inseparável de comunicação, no caso das mídias isso se torna ainda mais indissociável, uma vez que mídias são, antes de tudo, veículos de comunicação, do que decorre que esta cultura só pode ser estudada levando-se em conta as inextricáveis relações entre cultura e comunicação. (Santaella, 1996, p. 29)
Sendo a televisão um meio de comunicação global e acessível, com capacidade de linguagem plural e propagadora de experiências sensoriais através do espetáculo imagético do qual se vale, torna-se este, um veículo com alto poder de influenciar as ações da audiência, e é neste momento em que entra em pauta as questões de comunicação responsável e o papel social do comunicador.
Cada vez mais, torna-se evidente a necessidade de uma reflexão profunda, por parte dos profissionais da comunicação, sobre a responsabilidade na construção dos produtos da mídia, sejam comerciais ou noticiosos, afim de atendermos a necessidade real da sociedade, sem cultuar ou proliferar ideias que fujam ao ideal de bom senso e ética.
2. Comunicação responsável
Neste estudo, pretendemos falar sobre a comunicação responsável no intuito de instigar uma consciência crítica na forma em que a mídia apresenta as questões de violência contra a mulher, muitas vezes contribuindo com o discurso sexista e na manutenção da cultura do estupro, na contramão do crescimento dos movimentos feministas, principalmente no Brasil. Estes movimentos vem sendo acompanhados pela mídia, sobretudo pelo jornalismo, evidenciando o debate relativo a questão do mau uso da imagem da mulher e do corpo como insumo de negócio, ajudando a promover a visibilidade das pautas feministas. Entretanto, existem questões mais complexas que ainda não ganharam um olhar mais rigoroso entre as pautas de debate deste segmento. “Ainda é pouco comum um olhar interpretativo orientado a cobertura dos casos de violência contra a mulher e demais temáticas feministas, com foco no jornalismo, ainda que diversas e complexas sejam as situações em que as mulheres apareçam pautadas pela imprensa.” (Azevêdo, p. 02).
É notório que as pautas sobre casos de violência sexual e doméstica tem sido frequentemente abordadas pelas mídias nos últimos anos. Porém o que objetivamos neste estudo é tratar da forma com que esses temas são abordados nas mídias que continuam, massivamente, machistas, sexista e preconceituosas.
2.1 - Caso Eloá
O caso do sequestro da jovem Eloá, em outubro de 2008, pode facilmente ser mencionado como o maior espetáculo de irresponsabilidade midiática da televisão brasileira. Seja qual for o ângulo pelo qual se resolva analisar o papel da imprensa na ocasião, percebemos o quanto desprovida de cuidados e de valores éticos foi a atuação dos principais veículos de comunicação do Brasil.
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