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A ESCOLA BURGUESA E O PROBLEMA DA AUTÔNOMIA HUMANA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE

Por:   •  11/11/2016  •  Artigo  •  6.178 Palavras (25 Páginas)  •  410 Visualizações

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A ESCOLA BURGUESA E O PROBLEMA DA AUTÔNOMIA HUMANA: [pic 1]

DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE

Nidal Alessandro Lima Abdalla[1]

        

RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar a escola burguesa e o problema da autonomia humana a partir da formação política do Estado moderno até os dias de hoje. No momento em que a burguesia revolucionária se torna classe dominante e o sistema capitalista é consolidado no mundo ocidental que tipo de escola foi construída? É certo que esse sistema se expandiu para várias partes do globo e adotou a bandeira da “educação para todos” como suporte fundamental de sustentação de seus interesses. À medida que o Estado-nação se torna um território de fronteiras em que o processo pedagógico é governado, os sistemas organizados de educação coordenam, financiam e fiscalizam os processos de aprendizagem. Não é de admirar que um dos principais objetivos de um conjunto de elementos educacionais projetado dessa maneira seja formar um cidadão leal e apto às suas necessidades. Essa análise, de caráter teórico, fundamentou-se na leitura e na compreensão do pensamento de alguns clássicos da modernidade e da contemporaneidade. Sendo assim, a complexidade e os pressupostos da escola e do problema da autonomia humana constituem-se como o principal tema educacional a ser superado pelos pesquisadores contemporâneos se levarmos em conta que tipo de cidadão se quer formar com a educação vigente.

Palavras-chaves: política educacional, modernidade, currículo, contemporaneidade, autonomia humana.

INTRODUÇÃO

A formação do Estado moderno nasce a partir das monarquias nacionais que começaram a serem unidas no final do século XIV[2] em Portugal e no século XV na França, Espanha e Inglaterra, produzindo a centralização e o fortalecimento do poder de seus respectivos governos. Dessa forma, a constituição de um governo central promove a condição de ser o único detentor legítimo a fazer e a aplicar as regras, língua e cultura sobre seus domínios; significa o único autorizado: a recolher impostos, ter uma força armada, imprimir moeda; ou seja, o único que detém o poder acerca do conjunto de elementos para gerir e prestar serviços públicos.

Isso se deve ao movimento Renascentista humanista que preconizou a volta dos valores e os modelos da Antiguidade greco-romana, contrapondo-os à tradição medieval ou adaptando-os a ela. Nesse sentido, a tradição medieval de apreciação contemplativa e literária pelas coisas, foi perdendo força e sendo substituída progressivamente pela predisposição de uma vida mais interventiva e utilitária sobre a natureza. Essa diferenciação de valores em resumo se dá entre ócio (otium) e negócio (negotium) que iria ecoar também na forma da educação dos modernos:

Tal tendência refletiu-se na concepção, liberando-a de uma visão que restringia aos eruditos e literatos: o humanismo deveria oferecer tanto uma disciplina e um método para o estudioso com uma educação visando formar o cidadão. O ideal educativo passou a incorporar a finalidade de dar formação humanista à boa cidadania, de modo a converter o indivíduo em membro virtuoso e ativo de sua república (RODRIGO, 2002, p. 57-58).

A concepção de educação aprovada é a valorização da vida ativa (negotium) em contraposição a vida contemplativa (otium). Isso concordando que o homem possa engendrar uma forma de intervir no mundo. Dessa forma, a sociedade burguesa, desde a sua instituição, adotou o lema da “educação para todos” como suporte fundamental de sustentação de seus interesses desde a modernidade[3].

No primeiro capítulo, o texto apresenta os pressupostos que tinham como finalidade ampliar a discussão da emergência de uma formação do homem burguês pela necessidade de mudança em relação ao modelo da educação medieval. Assim, o discurso da educação para todos na sociedade burguesa deve ser apreendido no sentido do desenvolvimento, dinâmica e contexto histórico.

Posteriormente, analisa-se que tipo de escola foi construída no momento em que a burguesia revolucionária se torna classe dominante e o sistema capitalista é consolidado, no mundo ocidental. E em seguida, surge à escola estatal que vai expandir um sistema utilitarista fabril para várias partes do globo e que persiste até os dias de hoje. A estatização introduz avanços e limites no recinto escolar, por exemplo, a laicização e não exclusivamente a transmissão de uma moral religiosa como era antes, as matérias científicas e necessariamente uma elaboração didática.

E no último capítulo, expõe-se a crítica de Nietzsche e de grandes pensadores brasileiros contemporâneos a uma prática educacional e cultural em declínio valorativo de tendência reducionista, utilitarista e mercantilista almejando tão somente treinar e especializar cidadãos para o mundo do trabalho por meio de uma proposta curricular hegemônica burguesa; abandonando com isso o ideal educacional de sentido integral (simbiose, corpo e espírito) de formar seres humanos para a vida em sociedade; ignora, portanto a experienciação criadora individual quando se forma e se sustenta apenas o indivíduo teórico, receptivo e passivo (apatia política) sem condições de reagir e incapacitado para criar novos valores que contribuam para a transformação social e da própria vida.

A modernidade gerou certo tipo de ser humano,

Seus valores de objetividade, veracidade, racionalidade, etc. levaram a uma homogeneização da existência humana, de tal forma que sentindo o mesmo, vendo o mesmo, experienciando o mesmo e querendo as mesmas coisas a comunidade é hoje mais forte do nunca e se entende mais do que antes, em direção a uma expansão universal que chamamos atualmente de cosmopolitismo ou mesmo de ‘aldeia global’. Mas a modernidade fez isso precisamente ignorando o que ela fez, ou, como Nietzsche diz, nos geramos o ser humano acidentalmente. Educar conscientemente significa, por outro lado, fazer da comunidade uma realidade, não como a soma a de particulares idênticos, em termos de diferença social: [...] ‘educar o grande indivíduo de maneiras outras e mais elevadas do que tem sido feito até agora acidentalmente. Essas são as minhas esperanças: a criação de seres humanos eminentes’. (HAASE, 2011, p. 61).

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