A Segunda Parte Da Suma Teológica
Por: Igor Seminarista • 21/11/2024 • Ensaio • 1.792 Palavras (8 Páginas) • 15 Visualizações
A SEGUNDA PARTE DA SUMA TEOLÓGICA
A ARTICULAÇÃO GERAL DA SEGUNDA PARTE E OS HÁBITOS DO AGIR PRÁTICO
A segunda parte da *Summa Theologiae* de Tomás de Aquino é dedicada à análise da bemaventurança das criaturas racionais e dos meios necessários para alcançá-la, com um foco particular na faculdade apetitiva que permite ao homem ser dono de seus atos. Esta parte é dividida em duas grandes subseções (I-IIae e II-IIa), cada uma subdividida em vários núcleos temáticos.
**I-IIae:**
1. **Bem-aventurança ou felicidade (q. 1-5)**: A felicidade consiste na visão da essência divina, um desejo natural satisfeito apenas após a morte. 2. **Atos voluntários e qualidade moral (q. 6-21)**
- **Paixões (q. 22-48)**: Movimentos da potência sensível condicionada pela percepção dos objetos. Trata das paixões concupiscíveis (amor, ódio, prazer, tristeza) e irascíveis (esperança, desespero, medo, audácia, ira).
- **Princípios internos dos atos humanos (q. 49-89)**: Hábitos bons (virtudes) e maus (vícios), incluindo o estudo dos dons do Espírito Santo, bem-aventuranças e frutos do Espírito Santo.
- **Princípios externos do agir humano (q. 90-114)**: Lei e graça.
**II-IIa:**
1. **Virtudes e vícios particulares (q. 1-70)**
- **Virtudes teologais (q. 1-46)**: Fé, esperança e caridade.
- **Virtudes cardeais (q. 47-170)**: Prudência (q. 47-56), justiça (q. 57-112), fortaleza (q. 123-140), temperança (q. 141-170).
2. **Diversos estados humanos (q. 171-189)**: Profecia, dons da graça, comparação entre vida ativa e contemplativa, e estados dentro da Igreja.
Tomás diferencia entre apetite sensitivo e apetite intelectual ou racional (vontade), ressaltando que a qualidade moral das ações humanas depende da disposição em vista do próprio fim. Os atos humanos são moralmente relevantes apenas se voluntários. A intenção é crucial: a vontade deve querer o bem pelo bem. O intelecto, que apresenta o bem à vontade, possui a sindérese (hábito natural de perceber princípios morais universais) e a consciência (aplicação desses princípios nos casos contingentes). A prudência é o hábito do intelecto prático que permite formular juízos corretos de consciência, desempenhando um papel fundamental no agir racional e sustentando outras virtudes.
Essa estrutura é fortemente influenciada pela ética aristotélica, onde escolhas morais resultam de silogismos práticos realizados pela prudência.
AS PAIXÕES
Antes de abordar o papel da prudência, é necessário explorar a esfera do apetite sensitivo, especialmente as paixões. Tomás de Aquino havia anteriormente tratado das paixões no contexto das paixões de Cristo e no *De veritate*. A análise das paixões dentro da *Summa* é alinhada com a tradição aristotélica, que já havia colocado o estudo das paixões em um contexto ético. No século XIII, esse enfoque foi reforçado por estudiosos como Alberto Magno, embora Tomás ofereça uma classificação e análise mais detalhada.
Tomás segue Aristóteles ao afirmar que as paixões, em si mesmas, não são diretamente avaliáveis moralmente, mas influenciam as disposições voluntárias que possuem valor moral. As paixões estão no limiar entre movimentos naturais da alma (não completamente voluntários e, portanto, moralmente neutros) e atos voluntários do apetite racional.
Classificação das Paixões:
1. Paixões do Apetite Concupiscível:
- **Bem:** Amor (inclinação ao bem), Desejo (bem não possuído), Prazer (bem conseguido). - **Mal:** Ódio (repulsão ao mal), Fuga (mal não sofrido), Tristeza (mal sofrido).
**Paixões do Apetite Irascível:**
- Referem-se a bens e males "árduos" ou difíceis de alcançar ou evitar.
- **Bem Árduo:** Esperança (bem difícil de obter), Desespero (renúncia ao bem difícil).
- **Mal Árduo:** Temor (mal difícil de evitar), Audácia (enfrentamento do mal), Ira (mal presente e difícil de eliminar).
**Princípio de Classificação:**
As paixões são classificadas com base na natureza contrária dos movimentos e dos objetos. Paixões do concupiscível lidam com bem e mal absolutos, enquanto as do irascível consideram o grau de dificuldade.
**Moralidade das Paixões:**
As paixões em si são neutras moralmente, mas adquirem valor moral quando relacionadas à razão e à vontade. Tomás esclarece que as paixões são moralmente boas ou más na medida em que são voluntárias, influenciadas pelo julgamento racional.
**Amor como Paixão Fundamental:**
O amor é essencial porque todas as paixões pressupõem algum tipo de amor. Amor indica movimento para algo conatural e é o princípio do movimento que tende ao fim amado.
**Distinções de Amor:** - **Amor:** Termo geral.
- **Dileção:** Amor precedido de eleição, presente na vontade. - **Caridade:** Amor aperfeiçoado, valorizado altamente.
**Amizade:**
Relacionada ao amor de concupiscência (desejo do bem para si) e ao amor de amizade (desejo do bem para outro).
O amor, essencial ao movimento e à quietude em relação ao bem, é o princípio que guia todas as paixões. Tomás enfatiza o valor supremo do amor a Deus, que integra o amor a si mesmo de forma elevada, pois Deus representa o bem mais alto.
AS VIRTUDES INTELECTUAIS E O PAPEL-CHAVE DA PRUDÊNCIA
O texto apresenta uma análise das virtudes intelectuais segundo Tomás de Aquino, com foco na prudência, dentro de sua obra "Summa Theologiae". Após discutir as paixões, Tomás aborda os princípios do agir humano, especificamente os hábitos, que são qualidades inerentes a uma potência, inclinando-a a realizar determinados atos. Hábitos que promovem ações boas são virtudes, enquanto os que conduzem a atos maus são vícios. Tomás segue Aristóteles ao distinguir entre virtudes intelectuais e morais, acrescentando as virtudes teologais.
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