A Sociedade do Cansaço
Por: Vanessa A. Fonseca • 14/5/2018 • Resenha • 787 Palavras (4 Páginas) • 1.595 Visualizações
SOCIEDADE DO CANSAÇO
Byung-Chul Han
Byung-Chul Han é um filósofo sul-coreano erradicado na Alemanha. É autor de diversas obras, sendo que as mais recentes são tratadas sobre aquilo a que ele chama de "sociedade do cansaço" e a "sociedade da transparência"[1]. Atualmente, tem sido um dos grandes pensadores que tem fundamentado sua crítica à chamada sociedade contemporânea, colocando em xeque a promessa de felicidade ofertada, sobretudo, pelos avanços tecnológicos e científicos. Em seus livros ele trabalha questões ligadas ao vazio contemporâneo e as relações estabelecidas a partir da era digital.
Em sua obra “Sociedade do Cansaço”, retrata os crescentes casos de doenças neuronais como a depressão, os transtornos e os déficits de atenção e de hiperatividade (TDAH), transtornos de personalidade limítrofe e, até mesmo, a chamada Síndrome de Burnout. Essas doenças são qualitativamente diferentes daquelas mais comuns no século como, como os enfartos e as infecções, por exemplo. Isso porque o século passado se caracterizava pela defesa de tudo o que é estranho e, por isso, vivia sob a égide de um paradigma imunológico. Conforme nos aponta o autor, “esse paradigma se manifesta pela defesa de tudo o que é estranho. Mesmo que o estranho não tenha nenhuma intenção hostil, mesmo que ele não represente nenhum perigo, é eliminado em virtude de sua alteridade”[2]. O pensador coreano aponta esse momento histórico a partir da categoria de negatividade, isto é, a alteridade, o outro não é suportável. Dessa forma, o sistema trabalha para tentar repelir esse “corpo estranho”. Nesse caminho reflexivo, poderíamos afirmar que a sociedade do século passado se caracterizava pela negatividade, pela negação.
Isso não acontece a partir do novo paradigma que é construído no século XXI, chamado de neuronal. Uma sociedade neuronal não possui “reação de proteção ao risco”, conforme nos apresenta Byung-Chul Han. Ela não opera por uma lógica da alteridade, da estranheza, de uma dialética da negatividade – o que seria um traço fundamental de uma sociedade imunológica – mas pela assimilação do mesmo, pela positividade, pela resposta positiva aos riscos. O próprio sistema de comunicação, de informação já não se caracteriza pela restrição, mas pelo acesso infinito aos vários estímulos. Vivemos em uma época que está voltada para a absorção e assimilação de tudo em grande quantidade, surgindo, dessa forma, uma espécie de violência neuronal. Conforme nos mostra o autor: “A violência da positividade não é privativa, mas saturante, não excludente, mas exaustiva. Por isso é inacessível uma percepção direta”[3].
O autor deixa claro que a sociedade disciplinar, analisada principalmente pelo filósofo Foucault, não é mais a sociedade de hoje. Há muito tempo, em seu lugar, surgiu a sociedade do desempenho. Esta sociedade é caracterizada, por exemplo, por ser um tipo de lugar repleto de academias fitness, prédios de escritórios, bancos, aeroportos, shopping centers e laboratórios de genética[4].
Atualmente, os sujeitos de submissão e obediência foram trocados pelos sujeitos de produção e desempenho. Como afirma o pensador coreano, eles aprenderam a ser “empresários de si mesmos”. Seguindo este raciocínio, criamos uma imagem de um sujeito que tudo pode. Disso também se infere a lógica da positividade. Não há negação, existe, agora, um poder ilimitado na sociedade de desempenho. No lugar da proibição entram a ideia de projeto, iniciativa e motivação, por exemplo. Pensado, em primeiro lugar, em seu caráter produtivo, o ser humano carrega dentro de si, agora, o senhor e o escravo. Não há mais a necessidade da negatividade do dever, pois a positividade do poder é capaz de modelar homens e mulher mais dóceis e, portanto, mais eficientes.
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