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AGOSTINHO DE HIPONA: A VERDADE, OS SENTIDOS E O “MESTRE INTERIOR”

Por:   •  23/10/2019  •  Monografia  •  592 Palavras (3 Páginas)  •  602 Visualizações

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CAPÍTULO 3 - AGOSTINHO DE HIPONA: A VERDADE, OS SENTIDOS E O “MESTRE INTERIOR”.(Rogério Miranda de Almeida)

Clodoalda Virgilia Santos

Na concepção de Agostinho, ainda que a linguagem seja o meio mais ordinário de transmissão de ideias, não é possível afirmar, sem objeções, que exista uma relação muito estreita entre linguagem, pensamento e correspondência de idéias. Agostinho viu que as conversações se reduzem freqüentemente a monólogos paralelos em que se crê trocar idéias, se crê entender quem ouvimos e ser entendidos por quem nos ouve, mas que nos levam a freqüentes equívocos e mal entendidos. Em uma análise da linguagem no De Magistro, o Hiponense não põe em jogo a verdade dos pensamentos e sim a significação mesma dos signos, concluindo que nem sempre a linguagem consegue traduzir a intencionalidade das idéias.

Se a linguagem tem assim seus limites, podemos nos perguntar como Agostinho concebe o ato de ensinar e aprender. Para o Hiponense não se ensina uma idéia sem fazer com que o aprendiz a descubra nele mesmo. Conhecer um objeto da inteligência, como uma fórmula matemática, ou um objeto dos sentidos, como certa melodia, são processos operados no interior. Ainda que a alma se ampare numa rede de signos e códigos lingüísticos para interpretar determinados objetos, é sempre de dentro que ela tira a substância mesma que parece perceber. Nessa medida é possível se perguntar de onde vem essa capacidade irredutível à alma humana que a faz perceber de uma forma aparentemente tão espontânea o conteúdo dos objetos.

Levando-se em conta uma possível influência da doutrina platônica no pensamento de Agostinho, poderíamos sugerir uma referência à reminiscência no sentido de uma preexistência. De fato, podemos observar os termos lembrança e esquecimento sendo usados com certa freqüência nos textos agostinianos, mas não em um sentido que se pareça tão próximo daquele usado por Platão.

O caráter contraditório de uma alma temporal, engendrando em si as verdades eternas, seria um ponto de conformação entre a teoria agostiniana e as duas hipóteses de interpretação. Certamente não há, para Agostinho, conhecimentos eternos que possam ser produzidos, pois a razão humana não cria a Verdade, ela a encontra.

Parece, contudo, que nenhuma das duas formas de interpretação seja totalmente adequada à fórmula agostiniana da iluminação. Tanto a reminiscência como o inatismo sugerem uma alma refratária aos dados vindos do seu exterior, cabendo a ela somente a ação de relembrar. Agostinho, ao contrário de negar, defende que a alma seja capaz de produzir conhecimentos pelos sentidos externos, os quais, uma vez interiorizados, são também individualizados.

Entretanto a razão não é senão mediadora entre nosso sentido interior e as verdades eternas, imutáveis e universais que estão presentes em todos os homens, não como reminiscência ou recordação, mas por iluminação divina na mente do homem. Assim, a Verdade, própria à realidade universal, impõe-se à razão humana e o pensamento concebe a Verdade em forma de leis ou normas racionais.

Abranger o acessível não apenas porque o olho de nossa alma está voltado para ele, mas, principalmente, porque somos dirigidos pelo mestre interior. deus está por trás do olho e pode ser encontrado na intimidade de uma autopresença. na verdade ele está mais próximo da realidade de uma experiência de si mesmo, apesar de estar infinitamente acima dela. Agostinho muda o foco do campo dos objetos conhecidos para a própria atividade de conhecer, assim a mudança de direção passa pela atenção que prestamos a nós mesmos enquanto interior.

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