A Geografia isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra
Por: Pedro Correia • 7/4/2022 • Resenha • 933 Palavras (4 Páginas) • 455 Visualizações
LACOSTE, Yves. A Geografia, isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 3 ed. Campinas: Papirus, 1993.
A Geografia, isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, é um livro do geógrafo francês Yves Lacoste, publicado originalmente em 1976. Considerado um clássico da geografia crítica, o livro aborda qual a função social da geografia, tida para Lacoste como um saber estratégico e não apenas como descrição metodológica dos espaços; imprescindível tanto para campanhas militares, quanto para a própria organização do espaço.
O livro está organizado em trinta e oito capítulos, entretanto, o conteúdo a ser aqui resenhado compreende desde a apresentação até o terceiro capítulo, intitulado “Da Geografia dos professores aos écrans da Geografia-espetáculo”.
A apresentação do livro é feita por José William Vesentini, geógrafo brasileiro com experiência na área de geografia política e geopolítica. Vesentini introduz o livro apresentando os objetivos principais de Lacoste, que consistem em responder para que serve a geografia e em reelaborar as usuais questões sobre o que é a geografia e se de fato ela é uma ciência. A resposta principal de Lacoste para o seu primeiro questionamento consiste no próprio título do livro: a geografia, isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Entretanto, os conhecimentos geográficos não são utilizados apenas para fins políticos-militares sobre o espaço geográfico, eles sempre foram e continuam sendo um saber estratégico, um instrumento de poder intimamente ligado as práticas estatais e militares. (VESENTINI, 1988).
A descrição do espaço em seus aspectos físicos e humanos é uma prática e um poder exercido pelo Estado, tanto para organização do espaço e dos homens quanto para a guerra. Para Lacoste, a carta é uma representação geográfica por excelência, onde são colocadas as informações deste espaço a ser descrito e, por tanto, um meio de dominação do território e das pessoas que vivem ali. Apesar de a geografia universitária ter surgido apenas no século XIX, a geografia em si existe há muito mais tempo; desde o surgimento da própria ideia de Estado, passando pelas descrições dos geógrafos árabes da Idade Média até as “grandes descobertas” na era das navegações.
Mesmo após o surgimento da geografia enquanto disciplina escolar no século XIX, a geografia do Estado não deixa de existir e continua existindo até hoje como um instrumento de poder utilizado por uma minoria. A geografia dos estados-maiores, formada desde as forças armadas até os aparelhos capitalistas é composta por uma geografia dos oficiais, que utilizam as cartas para decidirem táticas e estratégias; por uma geografia dos dirigentes do aparelho de Estado, que estruturam o espaço em províncias, departamentos, distritos etc.; e por uma geografia dos exploradores, que preparam a conquista colonial ou localização de investimentos. Entretanto, essa geografia dos Estados-maiores é quase completamente ignorada por todos aqueles que não a executam, pois suas informações permanecem confidenciais ou secretas. (LACOSTE, 1976).
Lacoste apresenta a Guerra do Vietnã como um exemplo de como a geografia serve para fazer a guerra. Bombardeamentos estratégicos em diques que protegiam as planícies densamente povoadas do Vietnã do Norte provaram que era necessário um raciocínio geográfico, comportado de vários níveis de análise espacial, para que esses diques rompessem nos lugares em que a inundação teria as maiores consequências.
A guerra da Indochina marca, na história da guerra e da geografia, uma nova etapa: pela primeira vez, métodos de destruição e de modificação do meio geográfico conjuntamente nos seus aspectos "físicos" e "humanos" foram executados
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