Os territórios insulares – O caso de Perejil
Por: Tomás Duarte • 1/12/2022 • Artigo • 1.168 Palavras (5 Páginas) • 61 Visualizações
Geografia Política e Desenvolvimento
Tarefa Prática – Época Normal
Tomás Duarte Dias da Silva – 2020213003
Os territórios insulares – O caso de Perejil
Localização, Geografia e breve contexto histórico
Localizada no estreito de Gibraltar, mais precisamente a 250 metros da costa de Marrocos e, a 13,5 quilómetros do território continental espanhol (Figura 1), a ilha (ou ilhota) de Perejil conta com uma dimensão de cerca de 15 hectares e uma altitude máxima de 74 metros acima do nível médio do mar. Tendo em conta o seu contexto histórico, esta é uma ilha que já fez parte do território do Reino de Portugal, após a conquista de Ceuta, tendo sido apropriada por Espanha após o término do reinado de D. Filipe III de Portugal (D. Filipe IV de Espanha), e consequente restauração da Independência Portuguesa. Apesar de ser um território pertencente a Espanha, devido à sua proximidade ao território marroquino, as tensões para a soberania desta ilha sempre estiveram presentes, levando ao culminar destes atritos em julho de 2002, na qual estes países (Marrocos e Espanha) estiveram à margem do começo de uma guerra. De momento esta ilha encontra-se desabitada.
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O conflito entre Espanha e Marrocos
Por ser um território de proximidade a Marrocos, as tensões entre este país e Espanha sobre a soberania de Perejil sempre foram notórias, levando a uma escalada de eventos em julho de 2002. Contextualizando, este conflito armado, que apesar de o ser não envolveu derramamento de sangue, foi desencadeado após a ocupação por parte de um esquadrão da Marinha Real Marroquina sobre a ilha, alegando que este ato tinha sido efetuado numa tentativa de controlo da imigração ilegal e de combate ao tráfico e contrabando no Estreito de Gibraltar. Durante o período de ocupação marroquina tiveram lugar conversações entre os dois países num esforço em retornar aos status quo existente antes da apropriação, diálogos estes que acabaram sem frutos de uma mediação. Visto esgotadas as vias diplomáticas de resolução do conflito, Espanha pôs em curso a operação Romeo-Sierra no dia 18 de julho de 2002, enviando 28 comandos espanhóis para a ilha. Sem oferta de resistência por parte das forças militares marroquinas, foi de novo erguida a bandeira espanhola sobre Perejil (Figura 3). Após o término da ocupação, militares espanhóis permaneceram na ilha até que Marrocos concordasse em retornar ao status quo ante bellum, acordo este mediado pelos Estados Unidos da América. A ilhota encontra-se agora sem habitantes, usada somente como terreno de pastoreio de cabras.
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Análise crítica e relação com a Geografia Política Contemporânea
Os territórios insulares apresentam-se hoje como um elemento de extrema importância para a Geografia Política e para a Geopolítica das nações às quais estas são pertencentes, e tendo como exemplo o conflito armado que ocorreu em julho de 2002 na ilha de Perejil, os territórios insulares são uma das formas de um estado refutar o seu poder, poder este que só é posto em causa quando é relacionado com a tentativa de domínio por parte de outra nação. As ilhas são também chokepoints estratégicos importantes, controlando zonas de passagem e corredores, caso de Perejil, localizada no Estreito de Gibraltar, a porta de entrada para o Mar Mediterrâneo.
Tendo em conta a análise do caso de estudo da ilha de Perejil, esta enquadra-se numa interpretação da Geografia Política na visão de Samuel Huntington (1993), baseada num choque civilizacional entre dois estados, sendo assim considerando um dualismo de “nós versus os outros” e, demonstra como a Geografia Política Contemporânea é uma Geografia do Poder, no que toca às territorialidades, uma Geografia dos Conflitos, no que toca à segurança, atores, espacialização e consequências e neste caso a uma escala regional, uma Geografia das fronteiras e dos limites, e também, uma Geografia das Soberanias, relacionada com a influência do poder dos estados sobre os territórios. Na minha opinião, este é um dos casos paradigmáticos de exemplificação do que é a Geografia Política Contemporânea, pois através da análise deste caso de estudo é possível compreender e interpretar as diversificações da Geografia Política aos níveis referidos anteriormente.
Da origem e continuidade do caso específico a analisar, mas que é transcendente a outros conflitos, compreende-se que, fruto deste choque provêm consequências às escalas locais, regionais e até mesmo internacionais. A uma escala local, estes tipos de eventos podem causar divisões sociais no que toca à apropriação do território em questão, quem concorda versus quem discorda, e no caso de Perejil, os marroquinos defendiam que a ilhota era território de Marrocos (Folha de S. Paulo) versus os espanhóis que defendiam que Perejil era território espanhol. A uma escala regional, estes conflitos criam atritos em zonas de importância, como é o caso de Perejil, localizada como já referido no Estreito de Gibraltar, concebendo-lhe uma posição estratégica importante para o controlo do tráfego marítimo, legal e ilegal. Por último a uma escala internacional, estas ocorrências criam tensões entre os países envolventes, mas também nas organizações às quais estas fazem parte, como é o caso de Espanha, país que faz parte do Tratado do Atlântico Norte (NATO/OTAN).
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