A dualidade da Igreja Católica durante o Regime Militar através da Ordem dos Dominicanos na figura de Frei Tito.
Por: José Pontes • 9/11/2015 • Artigo • 10.133 Palavras (41 Páginas) • 394 Visualizações
A dualidade da Igreja Católica durante o Regime Militar através da Ordem dos Dominicanos na figura de Frei Tito.
José Américo Pontes dos Santos Junior
Matrícula: 10200809
RESUMO
O apoio da Igreja Católica aos militares em 1964 foi decisivo para a concretização do golpe de estado que levaria o país a uma ditadura de vinte e um anos. Mas, nem todo o clero apoiou os militares. Existia dentro da Igreja uma dualidade de pensamentos: Enquanto parte do alto clero - os bispos e arcebispos de extrema direita - apoiavam o regime militar, porque assim se baniria do país o comunismo e seu ateísmo, outra parte acreditava que a prática capitalista era responsável pela “divisão de classes e da miséria”. Essa dualidade e divisão ficaram claras na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) após a instalação do regime, onde foram apresentadas pela Igreja duas análises antagônicas sobre a conjuntura política do país. Após o Ato Institucional nº 5 essa divisão se intensificou ainda mais e fez com que parte dos apoiadores religiosos ao Golpe diminuísse, pois com a prática da tortura, imposta a quem fosse contrário ao regime – um dos meios pelo qual se mantinha o poder, o controle sobre povo e do inimigo interno – se estaria indo contra os direitos humanos, o que é um completo desrespeito aos direitos dos cidadãos. A Ordem dos Dominicanos, por exemplo, atuou de forma participativa e significante no apoio aos militantes contra o golpe o que fez com que um de seus frades - Tito de Alencar Lima - tivesse todos os seus direitos massacrados pela tortura física e psíquica. Conhecer a história de Frei Tito é fundamental para entender as lutas políticas e sociais travadas contra a tirania de regimes ditatoriais. É neste empenho que reside o objetivo fundamental deste trabalho, compreender a época da ditadura militar brasileira, partindo do ponto da utilização da tortura como meio de proteção a ideologia da época e a quebra dos direitos humanos.
PALAVRAS-CHAVES: Dualidade da Igreja; Frei Tito de Alencar Lima; Ditadura Militar; Ordem dos Dominicanos; Religiosos.
ABSTRACT
The support of the Catholic Church to the military in 1964 was decisive for the realisation of the coup d ' état that would lead the country to a twenty-one-year dictatorship. But, not all of the clergy supported the military.Existed within the church a duality of thoughts: as part of the high clergy - bishops and archbishops of extreme right - supported the military regime, because it would ban billboard advertising the country's communism and atheism, another part believed that the capitalist practice was responsible for "class division and misery". This duality and Division were clear in the National Conference of Bishops of Brazil (CNBB) after installation of the system, where they were presented by the Church two antagonistic analyses on the country's political situation. After the Institutional Act No. 5 this Division intensified even more and made part of religious supporters to Blow to shrink, because the practice of torture, enforced the who were opposed to the scheme – one of the means by which had the power, control over the people and the internal enemy – if you'd be going against the human rights, which is a complete disregard to the rights of citizens.The order of the Dominicans, for example, acted in a participative manner and significant in supporting militants against the coup that caused one of his friars-Tito de Alencar Lima-had all their rights massacred by physical and mental torture.Know the history of Frei Tito is fundamental to understand the political and social struggles fought against the tyranny of dictatorial regimes. It is this commitment that is the primary goal of this work, understand the time of the Brazilian military dictatorship, from the point of the use of torture as a means of protecting the ideology of the time and the breach of human rights.
Keywords: Duality of the Church; Friar Tito de Alencar Lima; Military Dictatorship; Members of the Dominican order; Religious.
INTRODUÇÃO
Os vinte e um anos de Regime Militar no Brasil ainda é um tema muito delicado de se discutir. Por ser tão recente, ainda é difícil analisar o período de forma imparcial. Visando compreendê-lo de forma íntegra, a melhor iniciativa compreende encontrar opiniões diversas, difusas. Quiçá antagônicas. Se para uns a Revolução salvou o país da derrocada para modelos de governo esquerdistas por meio da manutenção da ordem e da segurança nacionais, outros tiveram suas vidas sacrificadas, imersas na insegurança e clandestinidade, lutando contra o golpe realizado em 1964 e os anos que se seguiram.
Em agosto de 1961, Moscou, Havana e Pequim acusaram a CIA e o Departamento de Estado norte-americano de estarem por trás da renúncia de Jânio Quadros. Prontamente desmentida pelos porta-vozes do governo kennedy, levou-se a denúncia tão a sério que ela foi tema de uma conversa privada entre o secretário de Estado, Dean Rusk, e os embaixadores da Grã-Bretanha, França e Alemanha Ocidental em Washington, no dia 26 de agosto. (MARKUN, Paulo e HAMILTON, 2011 p.317).
Conhecer a conjuntura que culminou na destituição de João Goulart da presidência da república, tanto interna quanto externa também é fundamental. Os anos que precederam o 31 de Março – ou primeiro de Abril de 1964–foram marcados por uma efervescência política e social extremamente complexa. No panorama internacional, a Guerra Fria não fazia por menos. A dicotomia entre o capitalismo e o socialismo, Estados Unidos e União Soviética, exigia posicionamento dos países em torno das esferas de influência. O ano de 1964 acabou sendo definitivo para que pudesse saber o mundo, afinal, de que lado estava o Brasil.
Tudo que concerne ao período do Regime Militar gera muita controvérsia, a começar pelo dia em que se iniciou. O General Mourão Filho iniciou sua movimentação na madrugada de 31 de março. No entanto ninguém registra filho na data do coito e sim do parto.
Completados três anos da renúncia de Jânio Quadros em função de “forças ocultas”, João Goulart e o país que governava viviam um período extremo de instabilidade. Jango, estancieiro gaúcho e herdeiro de Getúlio Vargas na política, havia assumido em meio à crise de tamanha complexidade que até então não havia sido solucionada, pelo contrário, ganhava ainda mais intensidade. Essa conturbação política advinda do último governo do próprio Getúlio iniciara a tendência populista que marcaria o cenário político brasileiro até 1964, o que contrastava com os interesses da elite direitista, “udnista”, “lacerdista”, que objetivava governar o país desde então. Com seu suicídio, Vargas evitou que a UDN chegasse ao poder, sendo sucedido por Juscelino por meio de um Golpe Legalista executado por Marechal Lott.
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