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Analise do livro o Cortiço

Por:   •  29/4/2016  •  Artigo  •  2.278 Palavras (10 Páginas)  •  654 Visualizações

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Avaliação final da disciplina Nação e modernidade no Brasil

Por:

Géssica Souza

Análise do livro: O cortiço

Introdução

        O livro de Aluízio de Azevedo é um clássico do naturalismo brasileiro, uma corrente literária que se propunha a radicalizar o realismo europeu usando como base os saberes produzidos pelas ciências naturais para comprovar os fatos e as ações relacionadas aos personagens[1]. O livro traz caricaturas de pessoas que a princípio pensei que fossem respectivas a uma camada social específica, mas então me lembrei de D. Estela e do Miranda. Como interpretar estes dois personagens de estratos sociais tão distantes daqueles moradores do cortiço. Pensei então em analisa-lo como o livro que se propõe a mostrar as patologias presentes em uma sociedade marcada pela escravidão. Mas como relacionar essa tese ao aparecimento dos abolicionistas no fim da trama oferecendo um título de membro de seu clube ao João Romão, logo depois dele ter entregue sua amásia (a escrava Bertoleza) ao seu senhor para ver-se livre e casar-se com a filha de um barão. Como interpretar essa cena? Ora, o personagem utilizou-se da instituição escravista para retirar o entrave que o impedia de adentrar o ao círculo social dos nobres, Um grupo imanente ao Antigo regime e logo após, é recebido como um abolicionista. Se a questão fosse criticar os males da escravidão os abolicionistas deveriam ser exaltados no romance ao invés de aparecerem como um grupo ou ingênuo ou tão corrupto como o João Romão.

        Deste modo foram excluídas minhas primeiras insinuações sobre a fonte. Continuei, entretanto partindo da premissa de que o livro de Aluízio de Azevedo, não deveria ser interpretado apenas como uma história anedótica. Não creio que estas narrativas estejam aí por acaso, só para fazer graça. Esta crítica social, como todas as outras tem uma razão e representa uma tese. Resta saber qual. Havia uma censura no livro, isto estava claro, mas a quem ela se dirigia? Qual seria o ponto em comum de todos esses personagens?  Esta é a questão que pretendo responder neste ensaio.

A relação entre as ideias de Nina Rodrigues e de Aluízio Azevedo.

As raças inferiores degredam o homem branco

        Pensando no contexto ideológico em que o autor pode ser inserido, as teorias raciais que estavam sendo produzidas ou discutidas no Brasil se relacionavam a uma questão específica que atormentava a mente dos intelectuais brasileiros. O futuro do Brasil como nação. As influências do pensamento darwinista colocavam o Brasil em uma escala evolutiva muito inferior aos países europeus e a miscigenação, apontada por alguns como fator de degeneração, impunha sobre o país previsões catastróficas sobre a possibilidade de vencer os entraves que separavam a Nação do rol dos países avançados.

        Silvio Romero, uma das grandes influências literárias da época propunha que não haveria necessidade de se preocupar tanto com isso, porque com o estímulo à imigração Branca, a população do país acabaria embranquecendo com o passar do tempo. Segundo o próprio, os índios teriam sido exterminados pelos conquistadores, restando muito poucos para influir geneticamente sobre a população do país. Os negros seriam igualmente extinguidos pelo processo de escravização. Assim os brancos se sobressairiam.

        Além disso a miscigenação daria a população branca condições de sobreviver há um pais com as configurações climáticas do Brasil. Apenas isso. Porque no mais, sendo a “raça” branca em maior número, determinaria o grupo racial para o qual os indivíduos miscigenados se inclinariam.

        Nosso autor entretanto, parece ter aderido ao grupo mais “pessimista” dos pensadores do período. Sua narrativa conduz o leitor a conclusão de que com as influências das raças que estariam presentes na composição da nação o futuro do Brasil não seria muito promissor. O elemento “Branco” em contato com o elemento “Negro” ou com uma de suas Sub raças se tornaria degenerado. O pensamento contido no texto de Azevedo parece fortemente influenciado pelas ideias de Nina Rodrigues que não acreditava em um “embranquecimento” da população brasileira e para quem as condições sociais são fator essencial da criminalidade nos negros. O modo como os personagens negros ou mulatos são descritos em “o cortiço”  correspondem com a teoria de Rodrigues de que o “negro” não teria mal caráter, mas sim caráter instável, devido a “cerebração incompleta”. Ele destoa em uma civilização adiantada. As leis são incompatíveis com as condições morais e psíquicas dos negros. Eles seriam volúveis como a Rita, propensos aos crime como o Firmo.

        O cortiço era um perigo porque colocava em contato o pior componente racial do Brasil com o imigrante que vinha curar as mazelas sociais herdadas geneticamente.

Classes pobres, classes perigosas

“Os pobres carregam os vícios, os vícios produzem os malfeitores, os malfeitores são perigosos à sociedade; juntando os extremos da cadeia temos a noção de que os pobres são, por definição, perigosos.” [2]

        Entretanto não são apenas os negros que aparecem desvirtuados neste livro. O Homem branco português também é caracterizado como um indivíduo cheio de deformidades assim como os italianos. Logo, apesar de expor a “inferioridade” da “raça negra” essa não é a questão principal de Azevedo.

        O conceito de classes perigosas pode ser utilizado para compreender em que universo o autor reúne as personalidades do romance. Neste ponto gostaria de incluir um outro personagem que me parece ser o principal da trama. Todos os outros tem suas histórias contadas ao longo do enredo ora assumindo destaque, ora saindo do palco para que outras biografias se desenvolvam, a um contudo que permanece na cena ou na atmosfera ideológica do personagem e se constitui como o problema central da narrativa. O cortiço. Esse seria um perigo, um lugar que degreda o ser humano. É repleto de vícios de todos os tipos e de todos os pecados, onde até o mais íntegro homem é corrompido. Temos como exemplo o Jerônimo que a principio destoa tanto daquele lugar que os vizinhos logo o tem como um pessoa importante que vale mais do que todos eles.

        Ele era “perseverante, observador e dotado de certa habilidade” tão dedicado ao serviço que logo “se tornou tão bom como os melhores trabalhadores”. Mas ele não era assim só pelas suas habilidades, mas principalmente pela “grande seriedade de seu caráter”, “era homem de uma honestidade a toda prova”. Apesar de tudo isso, após um tempo vivendo no cortiço o português, sob influência de uma “mulata volúvel”, caiu no vício da luxúria. Passou a tomar aguardente e trocou a culinária da terra pelo feijão, a farinha de mandioca e a carne seca. Não tardou em abandonar a mulher e a filha para ir morar com a Rita, a mulata que o degenerou e o transformou inclusive em um assassino pois para ficar com ela ele deu cabo de seu amante, o capoeira Firmo.

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