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Mulheres, Raça e Classe

Por:   •  24/5/2018  •  Resenha  •  2.374 Palavras (10 Páginas)  •  401 Visualizações

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Mulheres, raça e classe.

A professora e filosofa, Angela Yvonne Davis é conhecida por sua luta contra a discriminação racial e social nos Estados Unidos, por sua militância pelos direitos das mulheres e por um dos mais polêmicos julgamentos da historia dos EUA.

Nascida no dia 26 de janeiro de 1944, na cidade de Birmingham, uma das cidades mais racista do sul dos Estados Unidos, no bairro Dynamite Hill, Angela conviveu desde cedo com humilhações e preconceitos de cunho racial. O bairro Dynamite Hill recebeu esse nome por conta das constantes explosões de casas por atentados atribuídos a Ku klux klan, que promovia a xenofobia, o racismo, a homofobia e o anticomunismo.

Leitora voraz desde criança, aos 14 anos, Davis recebe uma bolsa para estudar em Greenwich Village, em Nova York, fato que foi essencial na sua vida, pois foi neste momento que ela teve contato com as teses comunistas, sendo recrutada para uma organização comunista de jovens estudantes.

Davis depois se mudou para o norte para estudar filosofia, na Universidade de Brandeis, em Massachusetts. Quando estava cursando a pós-graduação, na Universidade da Califórnia, no final dos anos 60, Davis torna-se membro de vários grupos, incluindo os Panteras Negras.

Durante a década de 70, Davis se envolveu na defesa de três membros dos Panteras Negras, John W. Cluchette, Fleeta Drumgo e George Lester Jackson que foram condenados à prisão perpétua pela morte de um policial. No dia 18 de agosto de 1970, Angela Davis entrou para a lista dos dez fugitivos mais procurados pelo FBI, acusada de um atentado no dia do julgamento de Jackson, onde seu irmão Jonathan, invadiu o tribunal e provocou a morte de quatro pessoas, incluindo a dele mesmo. Davis foi inserida em várias acusações, incluindo o assassinato do Juiz. Haviam duas provas principais usadas no julgamento: as armas usadas foram registradas em seu nome, e que ela estava supostamente apaixonada por Jackson.

Após o ocorrido, foi decretada a sua prisão, Davis então foge e desaparece por dois meses, sendo assim protagonista de uma das maiores caçadas humanas do país na época, tendo acompanhamento diário da mídia, até ser presa em Nova Iorque dois meses depois. Depois de passar cerca de 18 meses na prisão, Davis foi absolvida em junho de 1972. O fato da sua prisão teve forte repercussão na sociedade norte-americana e contou com o apoio de figuras como John Lennon, Yoko Ono e os Rolling Stones que gravaram musicas que retratavam seus problemas legais e pedia sua libertação.

O tempo que Angela Davis ficou presa foi essencial para o seu entendimento do sistema carcerário, que para ela, é uma continuação das políticas racistas contra negros e imigrantes dos Estados Unidos. Desde então, seu ativismo político e acadêmico tem centrado foco nesta questão.

Em 1980 e 1984, Davis se candidatou a vice-presidente dos Estados Unidos, como companheira de Gus Hall, presidente do Partido Comunista Americano, não obtendo bons resultados.

Depois de passar o tempo viajando e palestrando, Davis voltou a ensinar. Ela foi professora na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, onde lecionou cursos sobre a história da consciência, aposentando-se em 2008. Davis continuou a lecionar em muitas universidades de prestígio, discutindo questões relacionadas à raça, ao sistema de justiça criminal e aos direitos das mulheres.

Suas principais obras literais são: Angela Davis: Uma Autobiografia (1974), Mulheres, Raça e Classe (1980). , Mulheres, cultura e política (1989), As prisões são obsoletas? (2003), A Democracia da Abolição (2005) e A Liberdade é uma Luta Constante (2012).

O livro de Angela Yvonne Davis “Mulheres, Raça e Classe”, escrito em 1980, aborda temas antigos, mas que até hoje refletem na sociedade e diversas culturas pelo mundo. Temas como lutas anticapitalistas, antiescravagista, antirracista, feminista e todos os dilemas que as mulheres vivem ainda hoje, na era contemporânea são abordados nessa incrível e fundamental obra.

No capítulo 1, chamado O legado da escravatura: bases para uma nova natureza feminina, Davis aborda, de forma dolorosa, temas como a escravidão e a visão que foi dada para a mulher negra. Ela cita diversos livros e autores que faziam estudos profundos sobre a escravatura, porém pouco se falava do papel da mulher dentro da sociedade negra e, aqueles que falavam sobre, reduziam as mulheres à boas mães e promiscuas.

Davis aponta que as mulheres negras, em sua maioria, trabalhavam nas lavouras tanto quanto os homens, porém elas sofriam muito mais que os homens, porque elas eram vítimas de abuso sexual e outras formas de violência que só podem ser infligidas às mulheres. Os donos de escravos exploravam as mulheres assim como faziam com os homens, mas, sempre que tinham a oportunidade, eles reprimiam e humilhavam as mulheres de maneira brutal.

Após a abolição da importação de escravos a situação da mulher negra ficou ainda pior, pois como era proibida a compra de escravos estrangeiros os donos de escravos passaram a ver a mulher como uma forma ganhar ainda mais dinheiro. Nessa época uma boa escrava, na visão dos brancos, passou a ser aquela que trabalhava tanto quanto um homem e ainda assim pudesse gerar mais de 10 filhos. As mulheres sempre lutaram e resistiram a essa prática, existem diversos casos de mulheres que fugiam ou de alguma forma se rebelavam contra a escravidão, como exemplo este relato que Davis expõe:

[...] Margarat Garner, escrava fugitiva, que quando foi apanhada perto de Cincinnati, matou a sua própria filha e tentar matar-se a si mesma. Ela alegrou-se – ‘agora ela nunca conhecerá o que uma mulher sofre como escrava’. – e contestou para ser julgada por crime. “Eu irei cantando para a forca antes de voltar para a escravatura”. (DAVIS, 1980, p. 23).

Outro ponto que Davis destaca é do igualitarismo que caracterizava as relações sociais entre os escravos.  A vida doméstica era importantíssima para eles, porque quando estavam em suas ''casas'' com suas famílias era o único momento em que eles podiam se sentir como verdadeiros humanos, e não como máquinas incessantes de trabalho. O trabalho doméstico era o mais importante para eles, pois eles viam que trabalhavam para eles mesmos e não para um homem branco que os tratava como mercadoria.

No segundo capítulo Angela Davis mostra a importância das mulheres brancas de classe média na luta para a abolição da escravidão, uma vez que estas mulheres começaram a perceber que o sistema patriarcal da sociedade era extremamente repressivo com as mulheres, estas que viam na luta abolicionista um espaço para manifestarem-se.

Um dos maiores exemplos desta luta das mulheres brancas foi Prudence Crandall, uma professora de Connecticut que desafiou a sua cidade branca aceitando uma mulher negra na sua escola. Ela estabeleceu uma aliança poderosa entre a estabelecida luta pela libertação dos negros e a embrionária batalha pelo direito das mulheres.

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