A Introdução aos Estudos Históricos
Por: Pedro Perrony • 13/11/2017 • Trabalho acadêmico • 1.910 Palavras (8 Páginas) • 242 Visualizações
Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Historia – Introdução aos Estudos Históricos
Prof.ª Paulo Pinheiro Machado
Luiz Felipe Florentino
CHAUÍ, Marilena. “O século de Péricles” (In Introdução a História da Filosofia: dos Pré-Socráticos a Aristóteles. Vol. 1, 2ªEd. São Paulo: CIA DAS LETRAS. 2002. pp.136-177).
p.136 | O Século de Péricles descreve o período de trinta e seis anos de ascensão cultural da Grécia nos anos de 440 a 404 a.C., em especial na cidade de Atenas culminando na consolidação e na criação de perspectivas culturais que perdurariam pelos séculos seguintes tais como a tragédia, as artes e técnicas ou ofícios, a medicina e a filosofia socrática. |
p.137-139 | Segundo Chauí, a tragédia grega é um gênero dramático poético que conta mitos a cerca dos deuses e da nobreza, retratando a exigência dos deuses de uma punição por um crime cometido pelo herói trágico ou sua família. Dentro da lógica da tragédia a punição do herói precisa ser equivalente ao crime cometido. A representação cênica é distribuída em duas elites: Aristocrática composta pela nobreza situada no palco e a democrática composta por cidadãos ordinários no coro, essa divisão visa, conforme Chauí, marcar a diferença entre o passado aristocrático e o presente democrático. A tragédia através do seu desenvolvimento democrático aborda o conflito entre a lei dos deuses e a dos homens, onde a lei divina busca a vingança e a humana a asseguração da pólis, da democracia e do direito. Além dessas discussões há também o conflito entre a lei da pólis (democracia e justiça) e a lei familiar (costumes, heranças e laços sanguíneos). |
p.139-140 | O herói ou heroína trágico é afigura central da tragédia, que lida ao decorrer da representação com conflitos envolvendo sua vontade pessoal e seu destino. De modo geral a vontade de possuir autonomia dos deuses acaba gerando no herói a ignorância com relação ao seu destino ou obrigação, conforme Chauí, essa vontade leva o herói a uma desmedida e desproporção de suas atitudes a chamada hýbrys. |
p.141-143 | A atitude dos reformadores (como Sólon e Clistenes) de estimular o desenvolvimento e o enriquecimento dos artesões e a implantação da democracia teve como objetivo desfazer o poderio aristocrático. A polis democrática desmistifica as técnicas visando humaniza-las. Da maneira como os gregos, particularmente os atenienses encaram as artes e ofícios é importante destacar que: A técnica é obtida através da experiência e realizada pela habilidade, cuja finalidade se encontra no objeto fabricado; transforma a matéria em algo que essa está apta a receber; visa utilizar a natureza em favor dos homens, podem ser abstratos como as obras de médicos, atores, dançarinos e estrategistas. Os instrumentos seriam extensões do corpo humano para ampliar habilidade de um órgão. Os técnicos se dividiam em dois principais grupos, os arkhitekton que conhecem os princípios racionais da sua técnica, e os mechanopoiós que é o inventor que possui conhecimento prático das regras de fabricação, mas há também os artesãos que fabricava utensílios de forma mecânica e repetitiva, esse na sua maioria eram escravos ou homens livres pobres. |
p.143-145 | Para tratar da técnica junto a filosofia a autora se vale dos estudos de Castoriadis, no qual a técnica é um conjunto de habilidades para se operar o que se movimenta e o movimento ou mudança. Dessa forma a filosofia auxilia o técnico na identificação e distinção do acaso e da ação. |
p.145-147 | Para esclarecer a dupla relação da filosofia com a medicina como disciplina autônoma responsável pelo nascimento da physiologia, e a concepção médica da saúde e da doença, costuma se apontar sua origem através de Alcmeão e a sua fundação por Hipócrates. Alcmeão traz ideias pitagóricas de harmonia e proporção para defini a saúde e a doença, quanto Hipócrates é fundador da escola médica de Cos e da medicina como disciplina racional e cientifica. Hipocrates também desfaz a relação da doença com o divino, pois o corpo humano não poderia ser contaminado por um deus até por que se assim fosse as doenças seriam incuráveis já que o homem não interfere no poder divino. |
p.147-149 | Conforme Chauí (2002) as ideias mais evidentes para desenvolver os aspectos dessa relação são: phýsis; eidos e dýnamis; teorias do conhecimento; e Relação entre corpo e alma. A phýsis é um princípio de ordenação das coisas que é em si mesmo ordenado, na medicina este conceito é usado para definir o estado de ordem do corpo como saúde, e a desordem do corpo como doença. O médico tem o papel de avaliar se a desordem do corpo doente será resolvida pelo próprio corpo ou se precisará de uma intervenção através de remédios, cirurgias, punção ou sangrias. A aplicação dos conceitos de eidos e dýnamis na criação da pratica de diagnósticos utilizada na medicina. |
p.150-151 | Aprofundando na teoria do conhecimento médico grego Chauí utiliza os estudos do historiador Pedro Laín Entralgo fazendo analogia a teoria do conhecimento hipocrático com os princípios de: observação sensorial; conversão dos dados observados em sinais; criação de comparativos entre o que se observa e a realidade cotidiana e se possível fazer experiências para comprovação. Para conhecer o paciente e a doença a fim de iniciar o processo de cura que pode ser de três tipos: esperar que o corpo siga seu curso curando se naturalmente; implantar dietas para acelerar o processo natural; ou intervir diretamente com auxílio de remédios no desequilíbrio causador da doença. |
p.151-154 | A autora explica a importância que se tinha do estudo do corpo, da alma, do ambiente onde o paciente se situa, sua origem, seus hábitos, costumes e também do espaço geográfico, político e cultural para o diagnóstico mais preciso. O médico hipocrático deveria também possuir o conhecimento dos principais temperamentos das pessoas, que contribuiriam para a disposição de cada indivíduo de ser acometido ou não de uma doença. |
p.154-156 | Chauí estabelece a importância do diagnóstico hipocrático que traz na sua construção o diálogo entre médico e paciente, criando lembranças antecedentes a doença para melhor entender suas causas. Destaca também a posição do médico de moderador, que com base nesses diagnósticos tem uma visão mais ampla da essência do paciente e sua doença, escolhendo a melhor forma de tratamento para o corpo ou para alma. |
p.156-159 | Segundo a autora nesse período se implanta a nova areté, focando agora na formação do cidadão, criando novos valores de educação, dando mais importância a arte da palavra e da oratória, a capacidade de pensar e persuadir e a virtude cívica, trazendo assim o declínio da antiga ordem aristocrática. |
p.159-163 | Segundo Chauí pouco sabe se sobre os sofistas devido a carência de obras, e também porque os testemunhos vieram na sua maioria de opositores como os socráticos. Os principais sofistas seriam então: Protágoras de Abdera; Gorgias de Leontini e Isocrates de Atenas. Segundo os estudos de W.K.C. Guthrie os sofistas eram professores dotados de conhecimentos específicos, e também da arte da palavra, da dialética e da persuasão, estes também vendiam seus conhecimentos aqueles que pudessem pagar. Os sofistas foram criticados por dois principais grupos: os oligarcas e os socráticos. Os oligarcas criticavam os sofistas por serem estrangeiros desconhecedores da ética ateniense não podendo assim estes ensinar a arte de ser cidadão, que se mostrava na verdade como o medo da aristocracia que outras classes pudessem dominar as assembleias por meio desses conhecimentos vencendo as disputas de persuasão e as discussões. Já os socráticos acusavam os sofistas de não compromisso com a verdade pois estes ensinavam a qualquer um que pagasse, e também por cobrar e os ensinamentos já que estes deveriam ser transmitidos apenas aos iguais de forma gratuita e por paixão. |
p.163-165 | Identifica se aqui as principais cidades de onde vieram os primeiros sofistas, e quais as consequências delas no conhecimento trago por eles, as cidades de: Jônia e Magna Grécia. De Jônia vem o conhecimento da história avaliada por igualdade para todos os povos e seus costumes, sem aceitar uma supremacia grega. De Magna Grécia vieram conhecimentos a respeito da medicina, dialética e a linguagem ligada a persuasão. Trouxeram também os sofistas a tradição técnica dos dissói logói, sendo assim eram formados no conhecimento com base nas oposições e aplicaram isso nas políticas atenienses. |
P.165-166 | Chauí afirma que os sofistas participaram ativamente dos debates entre os partidos aristocráticos e democráticos a respeito da oposição da phýsis e nómos, onde phýsis é a natureza cuja ordem necessária independe da ação humana, e nómos, a convecção que pende de uma decisão humana. Resultando segundo os sofistas o domínio do nómos sobre a phýsis, onde: se tudo é por convenção, costumes, leis e crenças, tudo então pode ser ensinado, sendo assim a virtude pode ser considerada uma convenção social. |
p.167-169 | A respeito da retórica os sofistas diziam ser fundamental, a dialética, as discussões e a aprendizagem dos contrapontos, o conhecimento da linguagem, e a distinção sistemática entre os gêneros discursivos, a fim de fortalecer os argumentos. Pelo seu caráter individualista os sofistas não podem ser classificados em escolas, mas sim em três gerações: a primeira dos Criadores; a segunda dos Programadores e a terceira dos Epígonos. |
p.169-172 | Protágoras nascido em Abdera por volta de 481 a.C., viajou por quase toda a Grécia, viveu no círculo de Péricles, foi legislador da colônia de Turói. Teria escrito Sobre a verdade e sobre o ser e Sobre os deuses. Fora acusado de impiedade e ateísmo, e entre seus pensamentos o principal que se destaca a cerca das ideias de Protágoras foi: “O homem é a medida de todas s coisas; das que são, que elas são, e das que não são, que elas não são”. Segundo Chauí esse pensamento serviu de base e reforço para a o domino do nómos sobre a phýsis, afirmando a inexistência da phýsis pois se o homem é a medida de todas as coisas, coisa alguma pode ser medida para o homem, já que leis, costumes e regras eram determinados por um conjunto de pessoas, mas cada pessoa tem a sua visão única e individual de todas as coisas. |
p.172-177 | Górgias nasceu em Leontini, Magna Grécia, por volta de 484 a.C., viveu por mais de 100 anos, foi responsável pela participação dos sofistas nos festivais de Olímpia e Delfos, foi professor de Isócrates. Górgias acabaria por se tornar cético à filosofia, o que se expressa de forma mais forte em suas declarações da sua obra Da natureza ou seja do Não-Ser, seus três principais argumentos eram: o ser não é ou o Nada é; o ser não pode ser pensado; o ser não pode ser dito. Para a autora esse é um dos momentos mais sérios da filosofia, pois utilizando de argumentos acerca do estudo da linguagem, Górgias quebra pela primeira vez e com clareza a identidade ser-pensar-dizer, estabelecendo separação e autonomia entre realidade, pensamento e linguagem, reformulando assim a própria ideia de conhecimento. Paradoxalmente, Górgias recupera a antiga concepção da alétheia como palavra eficaz. De fato, ele afirma que a palavra é um poder, e um poder ilimitado de persuasão.Górgias também expressa sua ideia quanto a diferença da retórica e da poesia que estaria segundo ele na finalidade da persuasão. A retórica para Górgias não é uma técnica política ensinável igualmente a todos, mas pode ser apenas possuída por poucos, que com ela garantirão a supremacia na sociedade democrática. Para Górgias não há verdade possível, nem mesmo por convenção, existe sim a crença obtida pela adesão emocional ou discurso persuasivo. |
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