Politica economia
Por: irinha • 4/4/2015 • Resenha • 3.070 Palavras (13 Páginas) • 394 Visualizações
RESUMO
O presente artigo faz uma análise a cerca do tema Trabalho, sociedade e valor baseado no primeiro capítulo da obra de José Paulo Netto e Marcelo Braz, Economia Política: uma introdução crítica, no qual a categoria trabalho é considerada como indispensável para a compreensão da atividade econômica e do próprio fenômeno humano-social. Partindo desse pressuposto, os autores definem o trabalho enquanto transformação da natureza e constituição do ser social, estabelecendo num segundo momento, a relação entre eles. Posteriormente, discorrem sobre a práxis como categoria teórica que explica a transcendência do ser social sobre o trabalho através do processo de objetivação. Concluem trazendo a intrínseca relação entre trabalho e valor e respondendo aos questionamentos de alguns teóricos pós-modernistas a cerca do “fim da sociedade do trabalho”. Nesta análise, serão abordadas estas categorias sobre a perspectiva dos autores em pauta, recorrendo a outros autores no intuito de enriquecer e fundamentar a
discussãopara que se possa construir uma compreensão histórica-crítica das complexas bases econômicas que compõem a sociedade humana.
Palavras-chave: trabalho, natureza, ser social.
Introdução
O trabalho é a base da atividade econômica. É através dele que se dá a produção de bens, cria-se os valores e constitui-se a riqueza social. E para compreender este processo, o presente artigo faz uma análise a cerca do tema Trabalho, sociedade e valor baseado no primeiro capítulo da obra de José Paulo Netto e Marcelo Braz, Economia Política: uma introdução crítica, no qual os autores tratam o tema trabalho além da Economia Política, indicando-o como categoria central não só para a compreensão da atividade econômica, mas para a própria compreensão do fenômeno humano-social.
A princípio, a análise baseia-se na definição de trabalho dada pelos autores enquanto transformação da natureza e constituição do ser social, onde o trabalho humano é caracterizado e diferenciado das atividades dos demais animais, ao tempo em que, se estabelece a relação entre natureza e ser social. Posteriormente, seguindo a linha dos autores, discorre-se sobre a práxis como categoria teórica que explica a transcendência do ser social sobre o trabalho através do processo de objetivação e a intrínseca relação entre trabalho e valor, elementos essenciais para a compreensão daeconomia política.
Nesta análise, estas categorias serão abordadas sobre a perspectiva dos autores em pauta, recorrendo a outros autores citados na obra ou em suas obras originais, no sentido de trazer mais elementos para a discussão.
O trabalho, a natureza e a constituição do ser social
Para Netto e Braz (2009), o trabalho se consolida como a interação sociedade e natureza, onde esta é transformada em produtos para atender às necessidades daquela. Sendo assim, o trabalho humano, diferentemente do dos animais cuja atividade se dá NUMA relação imediata e de satisfação biologicamente estabelecida, consolida-se através da apropriação e da transformação da natureza pelo homem a partir de uma ação pensada a qual exige o domínio de instrumentos, técnicas, habilidades e conhecimentos, além de criar novas e ilimitadas necessidades. Tal argumento se referencia nas reflexões de Marx: “[...] o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. [...] Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem.” (apud NETTO; BRAZ, 2009, p. 31). Ao estabelecer controle e regulação sobre a natureza e sua transformação a seu favor, o homem diferencia-se dos animais, gerando essa produção especificamente humana, o trabalho.
Nessesentido, Netto e Braz (2009) esclarecem que o trabalho se especifica por uma relação mediada entre o seu sujeito e o seu objeto. Entre o sujeito e a matéria natural há sempre um meio de trabalho, um instrumento que torna mediada a relação entre ambos. Para sua efetivação, o trabalho exige do sujeito o estabelecimento de meios e fins (finalidades) e com estes, a necessidade de escolhas dos melhores meios para se atingir os fins a que se objetiva. O fim é fruto de uma idealização antecipada, ou seja, há uma prefiguração do resultado da ação antes da efetivação da atividade do trabalho. Assim, pontuam
[...] é importante ressaltar que o trabalho é uma atividade projetada, teleologicamente direcionada, ou seja: conduzida a partir do fim proposto pelo sujeito. Entretanto, se essa prefiguração (ou, no dizer de Lukács, essa prévia ideação) é indispensável à efetivação do trabalho, ela em absoluto o realiza: a realização do trabalho só se dá quando essa prefiguração ideal se objetiva, isto é, quando a matéria natural, pela ação material do sujeito, é transformada. O trabalho implica, pois, um movimento indissociável em dois planos: num plano subjetivo (pois a prefiguração se processa no âmbito do sujeito) e num plano objetivo (que resulta na transformação material da natureza); assim, a realização do trabalho constitui uma objetivação do sujeito queo efetua. (NETTO; BRAZ, 2009, p. 32, grifos dos autores).
Essa teleologia, só se objetiva quando se realiza, fato que só se dar quando a realidade material favorece. Tanto os fins quanto os meios impõem ao sujeito exigências e condições que vão além das determinações naturais, tais quais conhecimento e coordenação múltiplas, conforme colocam Netto e Braz (2009). Para a feitura de instrumentos ou produtos exige-se que o sujeito conheça as propriedades da natureza. É preciso que ele também reproduza idealmente as condições objetivas e possa transmiti-las. Assim, o trabalho também requer comunicação propiciada por um tipo de linguagem articulada, condição para aprender e ser aprendida.
Tal comunicação se fortalece na perspectiva de que o trabalho é sempre uma atividade coletiva, pois seu sujeito nunca é um sujeito isolado. Isso se dá na coletivização de conhecimentos que se concretiza na realização de atividades, organização e distribuição de tarefas, etc. Esse caráter coletivo é aquilo que se denominará de social.
O trabalho não só transforma a matéria natural. De fato, implica mais que a mera relação sociedade e natureza, posto que ele também transforma o seu sujeito. Sendo assim, o trabalho só deve ser pensado como atividade humana, atividade através da qual se cria a riqueza social. Além disso, ele é também o processo históricopelo qual surgiu
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