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Resenha de diário de viagem ao brasil no século XIX

Por:   •  17/5/2015  •  Resenha  •  1.578 Palavras (7 Páginas)  •  465 Visualizações

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- A descrição das paisagens naturais e o catalogação de espécies vegetais tem um papel de destaque na narrativa de Maria Graham sobre a sua estadia no Brasil.  Devemos isso ao seu grande interesse pelo naturalismo, que deu frutos e resultou na sua colaboração para a coletânea sobre botânica Flora Brasiliensis, para a qual enviou amostras, gravuras e descrições por escrito.

- Graham descreve a natureza de forma extensiva e detalhada, fazendo lembrar bastante autores da época associados ao Romantismo, marcados pela idealização da natureza e pelo uso da mesma como uma elemento de construção da identidade nacional.

“Em 24 de janeiro, ao partir da Guanabara, Maria Graham volta a registrar mais uma preciosa observação no diário: “... se um país montanhoso e pitoresco tem realmente, mais do que outros, o poder de atrair seus habitantes, os fluminenses deveriam ser tão grandes patriotas quanto quaisquer outros no mundo” (Graham 1956: 212). O comentário parte do princípio que a natureza forja também a identidade, o sentimento pátrio. O culto à natureza, por certo, torna-se elemento aglutinador da sociedade. Essa construção também realizava-se junto a um público letrado e consumidor de pintura. Como a pintura histórica, a paisagem atuava como elemento construtor da identidade nacional. A literatura romântica oitocentista possui essa exata medida, compondo natureza rica e variada, quase paradisíaca. O sentimento pátrio mencionado por Graham seria, mais tarde, explorado e incorporado aos símbolos nacionais. A harmonia entre a natureza e os homens era, por certo, emblema da Nação.”

- Em uma primeira leitura, observamos justamente o encantamento da autora com as paisagens naturais das regiões pelas quais passou, em oposição a outros viajantes analisados em aula:

        RJ: ”Nada do que vi até agora é comparável em beleza à baía. Nápoles, o Firth of Forth, o porto de Bombaim e Trincomalee, cada um dos quais julgava perfeito em seu gênero de beleza, todos lhe devem render preito porque esta baía excede cada uma das outras em seus vários aspectos. Altas montanhas, rochedos como colunas superpostas, florestas luxuriantes, ilhas de flores brilhantes, margens de verdura, tudo misturando com construções brancas, cada pequena eminência coroada com sua igreja ou fortaleza, navios ancorados, ou em movimento, e inúmeros barcos movimentando- se em um tão delicioso clima, tudo isso se reúne para tornar o Rio de Janeiro a cena mais encantadora que a imaginação pode conhecer” (Graham 1956:174-75).

BA: Esta manhã, ao raiar da aurora, meus olhos abriram-se diante de um dos mais belos espetáculos que jamais contemplei. Uma cidade, magnífica de aspecto, vista do mar, está colocada ao longo da cumeeira e na declividade de uma alta e íngreme montanha. Uma vegetação riquíssima surge entremeada com as claras construções e além da cidade estende-se até o extremo da terra, onde ficam a pitoresca igreja e o convento de Santo Antônio da Barra.

PE: “Como o nome dá a entender (Olinda), é uma linda localidade, onde os morros moderados, mas abruptos, um belo rio, e uma espessa floresta, combinam-se para o encanto dos olhos.”

- Em uma leitura mais detalhada, no entanto, em diversos momentos a autora parece estar fazendo um relatório sobre o Brasil: como era organizada a defesa militar das cidades, quais eram suas vias de acesso, se as fazendas produtoras de bens de exportação ficavam próximas às cidades e se eram produtivas ou não, etc. Isto assume um significado mais amplo ao considerarmos que Graham já pretendia publicar seu diário no momento em que o escrevia e sabia que seu público não seria de leitores leigos e sim de pessoas influentes/tomadores de decisão, os quais eram parte de seu circulo social. Assim, ela tinha em mente que as opiniões expressas no diário poderiam ter algum tipo de influência na política da Inglaterra em relação àquele novo país que se libertava do julgo colonial.

        Ex: “O gado aqui é grande e bem conformado, um tanto como nossa raça Lancashire (...)”; “As frutas e verduras da Europa e América, das zonas temperada e tórrida, encontram-se aqui.”; “Nos cortes feitos para os tanques de peixes observei que por baixo da areia há uma rica terra escura, cheia de plantas em decomposição. É isto que provavelmente torna esta terra, aparentemente areenta, tão fértil.”;  .....

- Neste sentido, podemos afirmar que Graham se mostra bastante otimista quanto às potencialidades do Brasil, expressas pela sua riqueza e diversidade de recursos naturais, solo fértil, clima ameno, etc.  

        Ex: " Esta tarde, fiz-lhe outra vista e encontrei-o descansando na varanda após o jantar. Tivemos uma boa conversa sobre o estado deste país, do qual, com prudência, tudo de bom se pode esperar. "

- No entanto, quando comparamos a sua caracterização da natureza em oposição à forma como ela percebe as cidades e as casas (principalmente no NE), abre-se uma janela para a forma como ela realmente enxerga a sociedade daquele país que nascia diante de seus olhos. As cidades eram sujas e os prédios mal cuidados/em ruínas. As casas eram decoradas de forma que ela julgava de mal gosto, com destaque para o jantar com os oficiais patriotas em Recife no qual ela fica chocada pelo fato das pessoas comerem de pé e com as mãos.

         Ex: “As raras cadeiras existentes no local foram destinadas aos estrangeiros. O resto do grupo ficou de pé durante a refeição. Aos estrangeiros, também, foram dados colheres e garfos, mas a falta de talheres não pareceu embaraçar os brasileiros. Cada pessoa recebeu um pequeno prato fundo de bom caldo de carne bien doré. Quanto ao resto todo o mundo pôs a mão no prato.”

        Ex: “Tudo está visivelmente, ou em suspenso, ou em decadência.”; “A rua pela qual entramos através do portão do arsenal ocupa aqui a largura de toda a cidade baixa da Bahia, e é sem nenhuma exceção o lugar mais sujo em que eu tenha estado.”; “Em primeiro lugar, as casas, na maior parte, são repugnantemente sujas. O andar térreo consiste geralmente em celas para os escravos, cavalariças, etc., as escadas são estreitas e escuras e, em mais de uma casa, esperamos em uma passagem enquanto os criados corriam a abrir portas e janelas das salas de visitas e a chamar as patroas que gozavam os trajes caseiros em seus quartos. Quando apareciam, dificilmente poder-se-ia acreditar que a metade delas eram senhoras de sociedade.”; “Fiquei surpreendida com a extrema beleza de Olinda, ou antes, dos seus restos, porque agora está num melancólico estado de ruína.”; “Tudo está visivelmente, ou em suspenso, ou em decadência. Não haverá provavelmente progresso, até que se defina a situação política do Brasil.”

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