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A ESCOLARIZAÇÃO DA POESIA NO ENSINO MÉDIO

Por:   •  12/11/2020  •  Artigo  •  5.133 Palavras (21 Páginas)  •  190 Visualizações

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ESCOLARIZAÇÃO DA POESIA NO ENSINO MÉDIO

Isaquia dos Santos Barros Franco [1]

Eliane Cristina Testa [2]

RESUMO: Objetiva-se, com o presente artigo, apresentar algumas considerações a respeito do trabalho com o gênero poesia no ensino médio. Para tanto, apresentaremos algumas reflexões acerca do ensino de literatura, tratando mais especificamente sobre o lugar do texto literário na escola, centrando-nos, sobretudo, na escolarização da poesia. Os resultados a que chegamos apontam para a importância de um trabalho sistematizado com esse gênero para o desenvolvimento pessoal e intelectual dos alunos, o que permite concluir que a tarefa da escola é de fundamental importância no sentido de aguçar o interesse dos alunos pela leitura de poemas.

PALAVRAS-CHAVE: Escolarização; Poesia; Ensino Médio.

INTRODUÇÃO

Uma das mais pertinentes reflexões acerca da presença da leitura em sala de aula está no texto de Marisa Lajolo publicado em 1982.  Já no título “O texto não é pretexto”, a autora sinalizava para aspectos que, de uma forma ou de outra, têm embasado até hoje as discussões acerca do texto literário em sala de aula. Para ela, “[...] a presença do texto no contexto escolar é artificial [...]” (LAJOLO, 1982, p. 53). Nesta acepção, ela alertava quanto ao fato do texto servir apenas como “pretexto” para o ensino da gramática, ou para comprovar as características dos períodos literários, ou, ainda, para tentar passar valores morais e éticos.

Entretanto, em 2008, num ensaio intitulado “O texto não é pretexto. Será que não é mesmo?” Lajolo revisitou o seu texto publicado na década de 80 para chegar a outra importante consideração sobre leitura na escola: a de que o texto deve ser considerado no seu contexto, ou seja, em sua produção, em sua circulação e pelas diferentes situações de leituras, tudo isso, sem prejuízos de apagamentos da rede de relações “quase infinitas”, que o permeia. A autora sinaliza, ainda, que “o contexto de um texto é, pois, um emaranhado de fios que se tecem e se soltam, amarrando-se e desamarrando-se uns nos outros” (LAJOLO, 2009, p. 108).

Além da pesquisadora levar em conta o uso de diferentes recursos tecnológicos, considera também as multidimensões a que um texto está sujeito e que a escola deva recuperar e privilegiar atividades que reconheça esta pluralidade contextual. Deste modo, tem contribuído há mais de 30 anos com discussões que apontam problemáticas e/ou outras questões ligadas às atividades escolares com textos literários, em sala de aula, desde o Ensino Fundamental ao Ensino Médio.

Mais uma situação complexa em relação ao ensino da literatura no Ensino Médio foi retratada por Rildo Cosson (2012), quando pondera que nessa fase de escolaridade o ensino dessa disciplina limita-se tão somente à história da literatura brasileira, isso na sua forma mais “indigente”. Segundo o autor, “[...] os textos literários, quando comparecem, são fragmentos” (COSSON, 2012, p. 21). Mas, o que acontece quando se oferece apenas fragmentados aos alunos? Um grande comprometimento da compreensão do modo como se organiza estruturalmente o que foi lido, pois, muitas vezes, só percebemos a pluralidade textual quando lemos o todo. Além disso, oportunizar a vivência de um texto literário é também priorizar a presença não fragmentária.  

No que diz respeito ao gênero textual “poema”, percebemos, cada vez mais, que este se encontra numa “crise”, no sentido de que esta expressão cultural tem sido posta de lado, por alunos, e até mesmo por professores, diante de outras manifestações culturais contemporâneas consideradas mais atrativas, em especial para os adolescentes, por exemplo, filmes, jogos (em diferentes mídias), TV, entre outros. Sobre essa crise anunciada, Marcos Siscar (2010, p. 20), no faz refletir que a dimensão dessa situação crítica “não é apenas da ordem dos acontecimentos presentes, não é apenas um ‘estado’ de coisas, mas inclui também um percurso histórico e um sentido cultural a serem levados em consideração”.

O que o autor quer dizer é que, provavelmente, seja a própria poesia que se alimente desta crise, como se brotasse dela ou nela estivesse. Tanto que, frequentemente, são os poetas e escritores os primeiros a considerar esse declínio, mesmo que perpasse por eles a própria existência da poesia, bem como sua decadência e até a possibilidade de seu fim. Independente da crise evidenciada, entendemos, assim como Alfredo Bosi (1990, p. 196) que a poesia traz “aquela realidade pela qual, ou contra a qual, vale a pena lutar”. Percebe-se, exatamente, por esse motivo, que as escolas devem investir para que a poesia permaneça em nossas vidas.

Há, por conseguinte, a emergência de um trabalho sistematizado com a poesia na aula de Língua Portuguesa no Ensino Médio, por desvelar, acima de tudo, a dimensão poética da existência humana, conforme defende Morin. Por esse viés, torna-se, de extrema importância, que os professores selecionem e busquem poemas que possam contribuir para a formação de leitores proficientes e competentes, pois o trabalho com a poesia realizado nas salas de aula de Ensino Médio, pode, com certeza, fazer o aluno apropriar-se da linguagem literária, mas para, além disso, compreender a si próprio e aos outros.

2. LITERATURA NO ENSINO MÉDIO

O trabalho com a literatura tem sido cada vez mais discutido por um grande número de pensadores. Dentro e fora do Brasil, muitos autores têm contribuído contundentemente com questões importantes de letramento poético. É importante que a poesia deixe de ser apenas um “apêndice” na educação e que não haja um privilégio do ensino de gramática e da produção de textos, como é de se notar atualmente. Um dos aspectos relevantes a ser considerado é sobre a dimensão humanizadora do texto literário, não no sentido de uma redenção total dos sujeitos, antes, ela pode levar-nos a uma compreensão mais profunda do que há de contraditório na existência.

Poderíamos, assim, diante dos conflitos humanos, nos situarmos melhor com a literatura, pois, como arte da palavra, ela é capaz de contribuir para a formação do indivíduo, mas, ao contrário, o que vemos com o afastamento dessa arte na vida das pessoas é uma ‘deformação’. Retomando uma questão fulcral discutida por Antônio Candido (1995), também acreditamos em um ensino de literatura em que os objetivos propostos vão ao encontro da formação de um leitor literário, a partir de um letramento que consiste na apropriação da experiência estética, para que o aluno aproprie-se daquilo que tem direito.  

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