A Leitura Filológica de Romances Brasileiros.
Por: nerine • 4/6/2015 • Resenha • 2.862 Palavras (12 Páginas) • 211 Visualizações
Universidade Federal Rural de Pernambuco[pic 1]
Departamento de Letras
Licenciatura em Letras
Disciplina: Leitura Filológica de Romances Brasileiros.
Professor: Antony Cardoso Bezerra.
Alunas: Nereida Neri, Pamella Soares e Raquel Gomes
RESENHA
Verrisimo, Erico. Música ao longe. Ilustrações Rodrigo Andrade; prefácio Antonio Hohlfeldt – 3ª Ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Erico Veríssimo é um escritor brasileiro, nascido na cidade de Cruz Alta – RS, em 1905. Foi na década de 30 que Erico se tornou um dos grandes escritores brasileiros. Em 1932 ele publicou o primeiro livro de contos fantoches. Em 1933 publicou seu primeiro romance Clarissa, com esse romance Verrisimo inaugurou um grupo de personagens que apareceriam depois nas obras Música ao Longe (1934), Caminhos Cruzados (1935), Um Lugar ao Sol (1936) e Saga (1940). Erico Verissimo teve seu primeiro sucesso em 1938 com o livro Olhai os Lírios do Campo, este livro o tornou conhecido não só no Brasil, como internacionalmente.
Erico Veríssimo também escreveu livros infantis, como uma serie de livros de viagens. Em 1947 começou a escrever a trilogia O Tempo e o Vento que o lançou ao estrelato. Essa trilogia só terminou de ser escrita em 1962. Em 1973 Erico escreveu seu primeiro livro de memórias Solo de Clarineta. O segundo foi publicado postumamente, pois o escritor faleceu em 1975 enquanto o escrevia.
Música ao Longe foi publicado em 1935. É uma narrativa singela, realista e romântica. Segundo o próprio autor conta em um dos seus prefácios, foi um livro escrito sem cuidados, em apenas 45 dias, para concorrer ao prêmio Machado de Assis. Apesar da autocrítica, a qualidade da escrita é excelente. O texto se trata de um romance homônimo, é a continuação do livro Clarissa, que depois deste continua sua história em Um lugar ao Sol e a Saga.
O autor conta a história da falência econômica e moral da família Albuquerque, através do ponto de vista de Clarissa, uma jovem professora, que retorna para sua cidade natal, Jacarecanga, cidade fictícia, para lecionar. Nesta etapa, Clarissa, uma jovem de aproximadamente 17 anos também convive, com as incertezas, emoções e conflitos desta etapa da vida rumo à maturidade.
A personagem relata, de maneira crítica, embora muito sutil e romântica, todos os acontecimentos urbanos, sociais e econômicos dos moradores de sua cidade, através de um diário. Nele, ela também registra o seu carinho e as inquietudes interior do amor que vai se revelando aos poucos pelo seu primo Vasco. Através das palavras do seu poeta preferido, Clarissa encontra a definição do seu amor por Vasco:
“O amor que ainda não se definiu é como uma melodia de desenho incerto. Deixa o coração a um tempo alegre e perturbado e tem o encanto fugido e misterioso de uma música ao longe” (P.35)
Vasco é o personagem coadjuvante da narrativa. É com ele que a crítica de Erico Veríssimo toma forma clara, coesa e objetiva. Sua personalidade, arisca, rebelde, agressiva, questionadora e misteriosa mostram claramente a oposição a sua família, embora o foco principal do autor seja o olhar critico de Clarissa.
A obra se encerra como descrita logo em seu prefácio: uma promessa. Música ao Longe consegue alcançar o objetivo de mostrar os primeiros traços de mudança, amadurecimento da personagem, principalmente pela sua e conduta junto aos outros personagens. Mas o livro se encerra com um final em aberto, preparando o terreno para a sua continuação, Um lugar ao Sol, poder explorar ainda mais a relação de Clarissa com o mundo a sua volta.
Ao escrever Música ao Longe, Érico Veríssimo tinha como principal objetivo trazer os aspectos sociais e humanos, principalmente na relação entre os seus personagens. Essa perspectiva faz com que os romances se intercalem — alguns personagens não estão presentes em apenas uma obra, mas fazem participações em outras, como se todo o universo escrito nessa primeira “fase” do Veríssimo fosse, na verdade, um universo só.
Outro ponto observável é de que o homem descrito age conforme a dinâmica social em que vive, mostrando assim como se dá essa interação social e de como esse discernimento acaba influenciando o psicológico do personagem. Ele é, e age como tal, por causa dos fatores externos, da sua interação com as outras figuras. Pode-se obervar isso principalmente quando Clarissa, no trilhar da sua história, vai-se moldando graças às interações e convivência com o primo Vasco.
Antônio Cândido identificou bem esse traço ao afirmar:
“Como os outros, este romance tem uma grande riqueza em extensão, mas avança pouco em profundidade. Erico Veríssimo é, de fato, um romancista horizontal, cujo valor reside na capacidade de organizar um feixe complexo de destinos humanos no sentido da sua inter-relação, da sua projeção grupal – se me permitem. Porque a sua meta é, sem dúvida, apresentar as relações humanas (Candido, 2004, p. 69 apud SANTOS, Donizeth, 2013).”
E ainda pontuou que essa escolha mais social da obra não é por acaso, mas que sofreu influência pelo fato de Veríssimo ter vivido num período onde as lutas armadas eram constantes — Revolução de 30 e Segunda Guerra — e quando, não só o país, mas o mundo, passava por uma série de questionamentos a cerca de oposições como o capitalismo e o comunismo, por exemplo. Em Música ao Longe identificamos todos esses aspectos e outros, como a crítica à sociedade brasileira no governo Vargas.
Érico Veríssimo, é o primeiro escritor a fazer literatura urbana no Brasil. Na época o regionalismo e o positivismo eram as correntes do período pré-modernistas. A representação da vida na cidade é característica marcante em sua obra. Embora o texto ficcional se passe no interior do Rio Grande do Sul, são os aspectos ligados aos problemas da vida urbana, de ordens sociais e humanos que são avaliados de maneira suave pelo autor no romance. Importante citar que esse período compreende também como o inicio do modernismo e suas decorrentes mudanças, onde a partir daí a figura feminina passa ser transformada dentro do universo cultural brasileiro.
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