A Resenha Crítica - Miranda July
Por: Nathalia Silva • 28/1/2024 • Trabalho acadêmico • 1.075 Palavras (5 Páginas) • 78 Visualizações
“No one belongs here more than you”, de Miranda July, é uma coletânea de contos curtos em que a autora, através de suas personagens comuns, condescendentes e, de certa forma, resignantes, dialoga, direta ou indiretamente, com o leitor. Especificamente no conto “This person”, objeto de análise desse texto, a escrita de Miranda, que demonstra sua excêntrica e singular perspectiva de mundo, desafia as categorizações de gênero textual. Mistura a exoticidade da personagem a tópicos tratados metaforicamente, como o isolamento e a solidão. A forma como as sensações são descritas pela voz desconhecida concede a inquietante e desagradável impressão de que o leitor estará sozinho e infeliz por toda a vida. Há, a todo momento, uma visão autodestrutiva e deprimente de um todo vazio de significado e afeto, o trecho: “This person mourns the fact that she has ruined her one chance to be loved by everyone” (p. 56), no fim do conto, atesta essa afirmação. O enredo, embora focado na tristeza e na solidão, é repleto de detalhes explorados para serem parte de um significado amplo.
O piquenique ao qual se refere, por exemplo, faz parte de uma gama de detalhes e informações simbólicas que a personagem narra com perplexidade e admiração quase infantis, inocentes, com o desejo de pertencer a algo ou algum lugar, buscando conexão com pessoas que de alguma forma lhe fizeram mal e, desse modo, criando um lugar próprio existente apenas em sua imaginação. O fragmento “You have passed the test, it was all just a test, we were only kidding, real life is so much better than that” (p. 56) é uma demonstração da criação de um mundo e uma vida ideais em seu imaginário. Entretanto, ainda que o conto seja, evidentemente, destrinchado de forma minuciosa para que o leitor possa lhe conferir significações individuais, há uma lacuna deixada pela autora, de tal maneira que a obra como um todo aparenta ser um esboço de suas aflições.
Nesse seguimento, embora qualquer particularidade da vida do autor seja tão somente externa e o leitor, em parcial conformidade com o antiintencionalismo de Barthes (1968), precise buscar no texto o que ele próprio diz, é indubitável que as intenções de July são restabelecidas por meio do texto e, ainda que o leitor seja um critério para a verificação de múltiplas significações durante o ato da leitura, é inviável não se atentar às intenções e à influência da autora, posto que o autor é, em todo o caso e em algum nível, parte da obra. A exemplo disso, Umberto Eco (1962), em suas concepções de leitor modelo e obra aberta, atribui importância não somente ao leitor ou ao autor, mas à relação entre eles, intermediada pela obra. O que é relevante no estabelecimento dessa relação é o processo em que o autor imagina uma forma para a sua obra, que, apesar de ser aberta para as múltiplas compreensões dadas pelo leitor de acordo com suas perspectivas, ainda assim, quando acabada, pretende que seja interpretada em seu sentido original, como foi constituída pelo autor. Logo, o leitor, apesar de ser construtor de sentidos e significações, é influenciado a levar em conta as possibilidades concedidas pelo autor.
Além disso, fragmentos da personalidade de Miranda estão notavelmente presentes em seus escritos, tendo em vista que há uma performidade na obra como um todo. O fato de que o conto é inteiramente narrado em primeira pessoa atesta a indissociabilidade da autora de suas obras. Ela se torna uma presença tangível no texto, quase como se a história fosse sobre ela, apesar de desestruturada. Diante disso, se o leitor tiver, em algum momento, contato com outras obras de July, certamente os sentidos que ele empregará à sua leitura serão influenciados pela arte performática da autora. De modo igual que, se é o primeiro contato do leitor, ainda assim o sentido que a autora quis dar ao texto permanece intrínseco aos que possivelmente poderão ser verificados à obra. Dessa
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