Análise crítica de um conto – Morangos Mofados
Por: Elvis Clayton • 4/3/2018 • Resenha • 677 Palavras (3 Páginas) • 1.874 Visualizações
UNIVERSIDADE DO ESTADO RIO GRANDE DO NORTE[pic 1]
FACULDADE DE LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS
CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS A DISTÂNCIA
DISCIPLINA: LITERATURA BRASILEIRA IV
PROFESSOR: ANTONIA MARLY MOURA DA SIILVA
TUTORA: LIDIANE MORAIS FERNANDES
ALUNO: ELVIS CLAYTON DA SILVA e
MAURÍLIO DE SOUZA LOPES
PÓLO: CARAÚBAS
E-mail: elvis.clayton.22@hotmail.com maurilioslopes@yahoo.com
Análise crítica de um conto – Morangos Mofados (Caio Fernando Abreu)
O livro “Morangos Mofados” de Caio Fernando de Abreu foi publicado em 1982, tendo como pano de fundo um período conturbado para o Brasil, o fim da ditadura militar e o inicio do processo de democratização, a obra nos apresenta 18 contos com em que o autor aborda seus temas prediletos, o estranhamento, a solidão, a dor, os sentimentos e a marginalização. Terça feira gorda é um conto do livro morango mofado que narra à sexualidade envolvendo dois jovens que se sente atraído um pelo outro, época marcada pelo militarismo dominado por uma sociedade conservadora e machista.
O conto é narrado em primeira pessoa, tendo como destaque a voz do personagem narrando sua experiência homoerótica. Os acontecimentos se passam em um baile de carnaval próximo de uma praia, os rapazes se olham de longe e paqueram com olhares explícitos.
“Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga tensa entre as sobrancelhas, pedindo confirmação. Confirmei, quase sorrindo também, a boca gosmenta de tanta cerveja morna, vodca com coca-cola, uísque nacional, gostos que eu nem identificava mais, passando de mão em mão dentro dos copos de plástico”.
Percebe-se através da postura dos personagens que eles não imprimem preconceito um para com o outro, no que diz respeito ao envolvimento sexual de pessoas do mesmo sexo, contrariando totalmente a sociedade da época que era conservadora ao estremo, ao ponto de impor regras de conduta moral baseadas na relação homem/mulher como modelo legítimo de relacionamento sexual. As vozes que se manifestam irônicas e maldosas é um exemplo claro de preconceito e também de incapacidade de aceita uma quebra nos preceitos conservadores e repressivos, fazendo uma festa que é tida como a maior manifestação de liberdade seja suprimida. O carnaval, neste conto, alegoriza a própria organização de violência sombria misturada a explosões circunstanciais de euforia e aparente desregramento que caracterizam um modo de ser ‘alegre’, irresponsável e brutal.
O clímax da narrativa se da quando os personagens estão à beira da praia explorando sua sexualidade quando aparece um grupo que não tolera a relação homo afetiva e começa a espancá-los, como fica claro no trecho: “Quis tomá-lo pela mão, protegê-lo com meu corpo, mas sem querer estava sozinho e nu correndo pela areia molhada, os outros todos em volta, muito próximos. Fechando os olhos então, como um filme contra as pálpebras, eu consegui ver três imagens se sobrepondo. Primeiro o corpo suado dele, sambando, vindo em minha direção. Depois as Plêiades, feito uma raquete de tênis suspensa no céu lá em cima. E finalmente a queda lenta de um figo muito maduro, até esborrachar-se contra o chão em mil pedaços sangrentos. (Abreu 1995: p53).” Há possibilidade ou garantia de liberdade sexual? O conto mostra que não e, por isso, percebemos uma perspectiva melancólica na narrativa. Uma leitura do conto indica que há motivos para se projetar uma tristeza, só que neste caso não são motivos de crise existencial, mas razões de cunho moral, social, ideológico.
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