As concepções religiosas no conto de Eça de Queirós
Por: Thiago Maciel • 25/8/2016 • Dissertação • 727 Palavras (3 Páginas) • 312 Visualizações
Este ensaio terá por objetivo principal realizar um paralelo existente na intertextualidade do conto “A Aia” de Eça de Queirós com algumas questões de caráter religioso.
A crítica religiosa e alguns costumes da burguesia sempre fizeram parte do momento romântico da literatura portuguesa, e foi marcante em algumas obras escritas por Eça de Queirós.
Desde as cantigas até os contos atuais, a literatura em Portugal veiculava em seus discursos críticas as doutrinas do cristianismo em forma de narrativas ficcionais a fim de propagá-las e disseminá-las. No conto A Aia, somos apresentados à uma história de sofrimento e sacrifício pelas quais as atitudes da personagem principal serão analisadas do ponto de vista religioso.
Ou seja, o sacrifício e a fidelidade da Aia, podem ser comparados a determinados momentos da Bíblia onde o homem, testado por Deus realiza as suas vontades sem nenhum tipo de questionamento.
Uma passagem bíblica que podemos tomar como exemplo é aquela referente a Abraão. No qual Deus promete a Abraão um filho que até então parecia algo impossível, haja vista a idade avançada do patriarca. Dadas as circunstâncias o filho que há tempos era esperado vem e num dado momento, Deus ordena que Abraão o sacrifique como prova de amor e devoção.
No conto A Aia ocorre quase que a mesma coisa, diferenciando-se apenas que no conto de Eça, a ama realiza o ato por livre e espontânea vontade. Existe então uma situação no conto que é o grande diferencial entre a trama eciana e a passagem bíblica: a interrupção do sacrifício.
Ao provar obediência à Deus, Abraão é poupado do sacrifício e consegue ter seu filho em seus braços. Para a pobre aia, ocorre o contrário, o sacrifício é iminente e não é interrompido por ninguém, seu filho não foi substituído por nenhuma oferenda. Porém mesmo assim e com a mesma devoção e lealdade ela realiza o seu sacrifício em prol do outro.
Portanto, ao longo do conto vários princípios do cristianismo podem ser identificados que nos permitem compreender as peculiaridades entre o texto literário e sua intertextualidade com as passagens bíblicas. Como podemos notar neste fragmento:
[...] Apenas os seus olhos, brilhantes e secos, se tinham erguido para aquele céu que, além das grades, se tingia de rosa e de ouro. Era lá, nesse céu fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava lá, e já o Sol se erguia, e era tarde, e o seu menino chorava
decerto, e procurava o seu peito!... Então a ama sorriu e estendeu a mão. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua mão aberta. Que joia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis, ia ela escolher? A ama estendia a mão - e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal.
Era um punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma província.
Percebe-se aí que é possível verificar que a crença religiosa da ama faz com que ela coloque o dever de escrava acima de tudo e que faria tudo o que pudesse para demonstrar a sua atitude leal para com a rainha. Na perspectiva cristã, essa fidelidade é a submissão à Deus e é nesse sentido que o conto de Eça se adequa perfeitamente ao contexto: a aia prova aos seus senhores lealdade, fidelidade e obediência.
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