Eu, Travesti: Memórias de Luísa Marilac
Por: José Thiago Vasconcelos • 26/1/2022 • Resenha • 495 Palavras (2 Páginas) • 127 Visualizações
Eu, travesti: Memórias de Luísa Marilac
José Thiago Vasconcelos¹
Luísa Marilac da Silva é uma youtuber, comunicadora e ativista que atingiu notoriedade em todo o Brasil após se tornar viral com um vídeo postado no YouTube em 2010. Nasceu em 1978 no município de Além Paraíba, MG, e, desde muito nova, se tornou garota de programa por causa das necessidades e do preconceito que sofria por ser travesti. Em 2019, Luísa anunciou que estava trabalhando em conjunto de Nana Queiroz, jornalista e autora de Presos que menstruam (2015), para lançar um livro de memórias. Nana então assumiu, como elas gostam de falar, o dever de trazer para o papel os pensamentos e lembranças de Luísa e assim, juntas, construírem uma “primeira-terceira pessoa”, ou, como descrito pelas autoras, uma Luísa que seria filha de ambas.
Nana e Marilac não possuem filtro ao falarem sobre tudo que Luísa Marilac passou em sua vida. O livro trata de todas as questões de gênero, sexualidade e as dificuldades que ser uma mulher travesti no Brasil (e pelo mundo) trouxe para a vida de Luísa. O livro expõe abusos sofridos por ela em toda a sua história como mulher e antes mesmo de se entender como tal. Luísa sofreu abusos sexuais e morais, foi vítima de estupros, tráfico sexual, crimes de ódio, relacionamentos abusivos e perseguição policial. Tudo porque tentava sobreviver em um mundo que não dá chance para mulheres trans e travestis, que são, por diversas vezes, excluídas até dentro de movimentos LGBTQIA+.
Travestis são mulheres apagadas pela sociedade, que, muitas vezes, as resumem em números e trabalhos acadêmicos que se fecham nos muros das universidades pelo Brasil. Nana e Luísa trazem nessa obra o olhar da travesti; da mulher que foi silenciada. Ao começo do livro nos parece que Luísa não tinha uma voz, porém, ao decorrer, percebemos que ela tinha uma voz, mas que essa havia sido calada por nós como sociedade. Toda vez em que negamos dignidade, justiça e igualdade as travestis, que, por causa do preconceito que temos, são expulsas de escolas por bullying, retiradas de banheiros que as pertencem e sequer chegam ao mercado de trabalho habitual, sendo relegadas à prostituição e à uma vida de riscos. Nós roubamos as vozes de Thalya, Jesse, Micaela, Lizandra e Adrielly. Nós roubamos a voz de Luísa.
Eu, travesti: Memorias de Luísa Marilac não é só um livro para pessoas desconstruídas. Diria até que é exatamente para desconstruir aqueles que mais reproduzem um discurso preconceituoso contra as travestis e mulheres trans. É um livro que na mesma página em que te arranca uma risada, aperta seu coração e te faz chorar. Luísa se coloca aqui como uma professora da vida disposta a ensinar a todos que querem ouvir o que ela tem a dizer. Luísa foi derrubada e se levantou diversas vezes durante sua vida e, como ela gosta de dizer, esse livro não é somente a sua voz sendo ouvida, mas seu grito. O seu grito que por nós foi sufocado.
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