O Conto Que Dá Nome Ao Livro, “Olhos d’Água”

CONTO: OLHOS D’ÁGUA – CONCEIÇÃO EVARISTO

EVARISTO, Conceição. Olhos d’Água: 2° ed. Rio de Janeiro: Pallas Míni, 2018.

FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas; tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

O conto que dá nome ao livro, “Olhos d’Água”, retrata as dificuldades, dores e lutas diárias enfrentadas por mulheres negas em um contexto de desigualdades sociais e de gênero. Evaristo aborda questões como a pobreza, a violência doméstica, a solidão e a força interior dessas mulheres, apresentando suas histórias de maneira sensível, porém mascarar as adversidades que enfrentam.

A narrativa é rica em detalhes e emoções, mergulhando nas vidas dessas personagens marginalizadas pela sociedade. Evaristo utiliza uma linguagem poética e ao mesmo tempo direta, o que intensifica a conexão do leitor com as experiências dessas mulheres.

A água é um elemento recorrente no conto, simbolizando não apenas a fonte da vida, mas também a fluidez das emoções, das lágrimas derramadas em meio à dor e, por vezes, da esperança que surge mesmo nos momentos mais difíceis.

Através de “Olhos d’Água”, Conceição Evaristo não apenas oferece uma leitura impactante, mas também dá voz e visibilidade a histórias que frequentemente são negligenciadas pela literatura e pela sociedade em geral, oferecendo uma reflexão profunda sobre as complexidades da identidade, da discriminação e da resiliência feminina.

“No caso do negro, nada é parecido. Ele não tem cultura, não tem civilização, nem “um longo passado histórico”.

Provavelmente aqui está a origem dos esforços dos negros contemporâneos em provar ao mundo branco, custe o que custar, a existência de uma civilização negra.” (FANON, 2008, p. 46).

Fanon relata as dificuldades que o negro encontra em sempre ter que provar a sua existência e lutar pelo seu espaço, a relação do negro na sociedade, a dificuldade de sempre ter que provar suas origens e cobrar por algo nem deveria ser cobrado.

Relacionando a fala de Fanon com a de Evaristo, vemos as dificuldades encontradas por mulheres negras, que lutam todos os dias contra o sistema e contra a sociedade que querem as calar. Nesse conto a autora mostra o sofrimento de uma mãe que cria suas filhas só, uma mãe negra, que enfrentava a pobreza, a solidão e as dificuldades relatadas no conto, por outro lado vemos uma filha que percebe o sofrimento da mãe ao se encontrar em um lugar sem espaço, tendo que retornar as suas origens e culturas para relembrar a sua ancestralidade, ela só consegue se lembrar e se encontrar ao voltar ao seu local de origem.

“A preta se sente inferior, por isso aspira a ser admitida no mundo branco.” (FANON, 2008, p. 66).

Relacionando a fala de Fanon, a dificuldade em se encontrar no mundo branco, as relações ao mundo branco fez que com que a filha esquecesse a cor dos olhos da mãe e a necessidade de retornar as origens nos mostra que há uma inferioridade no mundo branco, existe a dificuldade de existir, de ser compreendida e de viver sua cultura.