O FICHAMENTO LINGUAGEM NA HISTORIA
Por: Paulo Sergio • 15/5/2019 • Resenha • 4.247 Palavras (17 Páginas) • 197 Visualizações
Desde os mitos até ás mais elaboradas especulações filosóficas, levantou-se sempre o problema das origens da linguagem – o seu aparecimento, os seus primeiros passos.
As crenças e as religiões atribuem essa origem a uma força divina, aos animais e a seres fantásticos que o homem teria imitado. (pag. 71)
Tentou-se descobrir as leis primordiais da língua observando os hábitos locutórios das pessoas bilíngues e poliglotas, na hipótese do poliglotismo ser um momento histórico anterior ao monoglotismo.
Revelam-nos apenas o processo através do qual uma língua já constituída é aprendida pelos sujeitos de uma determinada sociedade.
Para uma reconstrução do passado linguístico, destacam-se sobretudo a decifração dos hieróglifos egípcios das inscrições cuneiformes.
A partir destes testemunhos escritos podem-se fazer deduções referentes não apenas à vida linguística, mas à vida social, em geral, das diversas populações. (pag. 72)
As epigrafes, os nomes dos deuses, dos lugares, das pessoas, etc., cuja constância e duração na história são um índice seguro que permite o acesso ao passado distante da língua. (pag.73)
Poderemos considerar que a linguagem teve um tempo de desenvolvimento, de progressão lenta e laboriosa no decorrer da qual se transformou no sistema complexo de significação e de comunicação que é hoje. (pag. 75)
Lévi-Strauss, independentemente do momento e das circunstâncias do seu aparecimento, a linguagem só pôde nascer subitamente.
No entanto, Lévi-Strauss faz uma distinção rigorosa entre este aparecimento brusco da significação e a lenta tomada de conhecimento de que isso significa. As duas categorias de do significante e do significado constituíram-se simultânea e solidariamente, como dois blocos complementares; mas o conhecimento, isto é, o processo inteligível que permite identificar certos aspectos do significante e certos aspectos do significado uns em relação aos outros... só apareceu a pouco e pouco.
O universo significou muito antes de se começar a saber que ele significava.
Em favor da questão da estrutura especifica do sistema linguístico e de cada sistema significante, propôs-se uma teoria da relatividade linguística. Consiste na hipótese de que cada língua, possuindo uma organização particular e diferente das outras, significa o real de um modo diferente; portanto há tantos tipos de organizações significantes do universo quantos os tipos de estruturas linguísticas. (pag.76)
Noutras línguas as mesmas particularidades podem ser obtidas por meios linguísticos diferentes (uma voz pode ser indicada e substituída por um adverbio, uma preposição, etc.) e que, por outro lado, o conjunto dos sistemas significantes numa sociedade é uma estrutura complexa e complementar, em que a língua falada, categorizada por uma certa teoria, não consegue esgotar a diversidade das práticas significantes.
Dizer apenas que é demasiado arriscado deduzir as características mentais de uma sociedade a partir das considerações histórica e ideologicamente limitadas, que se podem fazer sobre a própria língua. (pag. 77)
Ao procurar um objeto susceptível de ser estudado cientificamente e que permitisse, em princípio, o acesso à cultura de uma sociedade primitiva, a antropologia descobriu a linguagem. Analisando as diferentes sob as quais ela se apresenta, as suas regras internas.
A antropologia fundamenta e alarga o seu conhecimento sobre as sociedades ditas selvagens. (pag. 79)
Boas afirma que o estudo puramente linguístico é uma parte da verdadeira investigação da psicologia dos povos do mundo.
A língua pode ser moldada pelo estado da cultura, mas não na medida em que um certo estado da cultura é condicionado pelos traços morfológicos da língua.
Estudando a linguagem primitiva num contexto social e cultural, tendo em vista esse contexto e em relação a ele, a antropologia opõe-se muitas vezes a uma abordagem puramente formal, dedutiva e abstracta, dos fatos linguísticos. (pag. 80)
Essa visão da linguagem relaciona-se e junta-se à que é proposta pela linguagem sociológica. Com I. R. Firth, esta ciência verifica que as categorias linguísticas elaboradas pela fonética, pela morfologia, pela sintaxe, etc.
A multiplicidade das funções sociais que temos de desempenhar como membros de uma raça, de uma nação, de uma classe.
A sociolinguística estuda justamente estas funções sociais da linguagem, tal como se apresentam na própria estrutura da língua, para delas extrair dados suplementares que esclareçam o mecanismo inconsciente dessas mesmas funções sociais.
Enquanto linguistas, antropólogos e sociólogos, a partir dos dados linguísticos dos povos primitivos.
Esses mesmos povos elaboraram representações e teorias, ritos e práticas mágicas ligados à sua linguagem.
E da função que a linguagem teve em civilizações tão diferentes da nossa. (pag. 81)
Nas sociedade primitivas, ou como se costuma dizer sem história, pré-históricas, a linguagem é uma substância e uma força material. Embora fale, simbolize, comunique, isto é, estabeleça uma distância entre si mesmo (como sujeito) e o exterior (o real) para o significar num sistema de diferenças (a linguagem) o homem primitivo não reconhece esse acto como um acto de idealização ou de abstracção, mas pelo contrário como uma participação do universo que o rodeia.
O homem primitivo não consegue conceber uma dicotomia nítida entre matéria e espirito, real e linguagem, nem por conseguinte entre referente e signo linguístico, e ainda menos entre significante e significado para ele, todos estes participam igualmente em um mundo diferenciado. (pag. 82)
Há vários tipos, práticas e crenças que revelam esta visão da linguagem nos primitivos. Frazer verifica que em várias tribos primitivas o nome, por exemplo, considerado como uma realidade e não como um convenção artificial, pode servir de intermediário, tal como os cabelos, as unhas ou qualquer outra parte da pessoa física para fazer actuar a magia sobre essa pessoa. Para o índio da América do Norte, o nome não é uma etiqueta, mas uma parte distinta do seu corpo, e por conseguinte o mau tratamento do seu nome atinge-o como um ferimento físico. Não deve ser pronunciado, pois pode revelar as propriedades reais da pessoa que o usa, e torná-la assim vulnerável aos olhos dos seus inimigos. (pag. 83)
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