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RELATO DE EXPERIÊNCIA COM CÍRCULOS DE LEITURA LITERÁRIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Por:   •  17/11/2021  •  Artigo  •  5.303 Palavras (22 Páginas)  •  179 Visualizações

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SARAU LITERÁRIO: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM CÍRCULOS DE LEITURA LITERÁRIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

David Ferreira Severo (david.severo@ifpr.edu.br) ¹ Marta Ferreira da Silva Severo (david.severo@ifpr.edu.br)² Verinalda Maria de Lima (valentina_veri@hotmail.com)³

1 Instituto Federal do Paraná, câmpus Palmas. 2 Instituto Federal do Paraná, câmpus Palmas. 3,Secretaria Municipal de Educação, Pilar/AL

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo descrever um relato de experiência didática com círculos de leitura no contexto da educação profissional. Apresentaremos uma proposta com saraus literário desenvolvidos no Instituto Federal de Santa Catarina, câmpus Caçador, a partir de um trabalho de iniciação científica com Projeto integrador (PI), baseando-nos na metodologia de Cosson (2008; 2014), no apoio da literatura no processo de humanização dos sujeitos (CANDIDO, 2004; CEREJA; 2005) e no ensino de poesia (PINHEIRO, 2007). Os

resultados apontam para a necessidade de se inserir na educação profissional o permanente contato com a arte poética.

Palavras-chave: Educação profissional. Círculos de leitura. Poesia

Abstract: This paper aims to describe a didactic experience report with reading circles in the context of professional education. We will present a proposal with literary soirees developed at the Federal Institute of Santa Catarina, Caçador campus, from a scientific initiation work with an integrative project (PI), based on the methodology of Cosson (2008; 2014), in support of literature in the process of humanization of subjects (CANDIDO, 2004; CEREJA; 2005) and in the teaching of poetry (PINHEIRO, 2007). The results point to the need to include in professional education a permanent contact with poetic art.

Keywords: Professional education. Reading circles. Poetry

1 Introdução

O objetivo deste trabalho é descrever e explicar o resultado de uma pesquisa de iniciação científica com Projeto integrador (PI), realizado com um grupo de estudantes do curso técnico integrado em Plástico do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), câmpus Caçador.

Além de cursar as disciplinas específicas para atuação como técnico na indústria de plásticos, o aluno do curso técnico integrado em Plásticos também participa de componentes da matriz comum do ensino médio. É nesse contexto que

o PI se desenvolveu, sob a orientação do professor de Língua portuguesa, embora de forma interdisciplinar, a partir de uma proposta de pesquisa com a formação de círculos de leitura por meio da poesia.

O PI inicia-se, conforme o PPC, já no primeiro ano do curso e está alicerçado em elementos que incentivem aos concluintes a compreensão da realidade social, econômica, política e cultural do contexto em que se inserem, de forma a possibilitar uma atuação social crítica. A metodologia do PI possibilita uma estratégia de ensino- aprendizagem que “proporciona a interdisciplinaridade dos temas abordados nos semestres. É um instrumento de integração entre ensino, pesquisa e extensão na medida em que permitirá contato com as demandas da sociedade” (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2019, p. 23).

Em 2019, o tema do PI foi “Sustentabilidade” e estivemos à frente na orientação de um grupo de estudantes que desenvolveram uma pesquisa intitulada “Sustentabilidade poética”, cujo objetivo foi a produção de papéis reciclados pelas próprias estudantes para, por meio deles, veicular poemas de forma criativa sobre temas variados, mas de relevância social, tais como, a prevenção do suicídio, a consciência negra e o amor.

Inicialmente, apresentaremos a base teórica sobre o ensino de poesia e formação de círculos de leitura literária. Em seguida,

  1. A literatura como processo de humanização

Uma das principais funções da literatura, segundo teóricos e especialistas dessa área de estudo, é a sua capacidade de provocar emoções e reflexão no leitor. Para os gregos, a arte tinha também as funções hedonística e catártica.

Segundo a perspectiva hedonística (hedon = prazer), a arte literária devia proporcionar prazer, na expressão do belo. E para eles, o belo na arte consistia na semelhança entre a obra de arte e a verdade ou a natureza (CEREJA, 2010. p. 18). Já a concepção catártica no papel das tragédias gregas, as quais desempenhavam a representação da realidade do mundo ocidental. Aristóteles, o primeiro teórico a conceituar a tragédia, define esse tipo de texto a partir de dois conceitos: a mimese, ou a imitação da palavra e do gesto, que para ser eficaz deve despertar no público os sentimentos de terror e piedade; a catarse, efeito moral e purificador que proporciona o alívio desses sentimentos. “Com finais que normalmente culminam em

envenenamento, assassinatos e suicídio, as tragédias aliviavam as tensões e conflitos no mundo grego” (CEREJA, 2010. p. 19). Hoje essas características ainda estão presentes, mas com a ampliação de outros gêneros literários (o romance e a crônica, por exemplo) e os recursos tecnológicos de nossa era (o cinema, as novelas televisivas, dentre outras mídias).

Mais recentemente um grande estudioso brasileiro atualizou os conceitos desenvolvidos por Aristóteles ao discutir sobre o papel que a literatura desempenha no mundo em que vivemos. Para Antonio Candido, o texto literário opera um processo de humanização dos sujeitos

Um certo tipo de função psicológica é talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura. A produção e fruição desta se baseiam numa espécie de necessidade universal de ficção e de fantasia, que de certo é coextensiva ao homem, pois aparece invariavelmente em sua vida, como indivíduo e como grupo, ao lado da satisfação das necessidades mais elementares. E isto ocorre no primitivo e no civilizado, na criança e no adulto, no instruído e no analfabeto. [...] (CANDIDO, 1972, p. 805)

Entende-se, por esse fragmento, que, de acordo com Candido, a literatura satisfaz uma necessidade essencial do ser humano que é apelo ao universo ficcional. Evidentemente, o perfil das pessoas que têm essa necessidade independe de ser criança, adolescente ou adulo; se são pessoas com ou sem escolaridade.

Em outro livro, Candido diz ainda que “A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza”, ou como ele diria em outros termos, “nos liberta do caos e portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade” (CANDIDO, 2004, p. 184).

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