RESENHA CRÍTICA LIVRO PRECONCEITO LINGUÍSTICO POR PAOLA FONSECA
Por: PaolaFonseca • 25/1/2017 • Resenha • 1.604 Palavras (7 Páginas) • 2.026 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
LINGUÍSTICA II - AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E SOCIOLINGUÍSTICA
PROFESSOR: EDUARDO KENEDY
ALUNA: PAOLA FONSECA DOS SANTOS
RESENHA CRÍTICA
PRECONCEITO LINGUÍSTICO
O autor do livro Preconceito Linguístico é Marcos Bagno, tradutor, escritor e linguista, Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), professor no Instituto de Letras da Universidade de Brasília, possui diversas obras publicadas e vários prêmios, dentre eles o Prêmio Nestlé de Literatura em 1988 e o Prêmio Carlos Drummond de Andrade de Poesia, além de traduzir História concisa da linguística, de Bárbara Weedwood (Parábola Editora, 2002) e outras obras de autores como Balzac, Voltaire, H. G. Wells, Sartre, Oscar Wilde, etc. E recentemente, se tornou membro da Universidade Federal Fluminense (UFF), atuando como professor de mestrado e doutorado.
Em 2015, decidiu fazer uma nova edição de seu livro Preconceito Linguístico, agora na Parábola Editorial, afim de comemorar os 15 anos de sua última edição, e aproveitou para acrescentar em sua obra, artigos referentes ao nosso contexto histórico atual.
O professor Bagno já inicia sua obra com duas citações: uma da Revista Nova Escola, maio de 1999; e outra do Professor Gregory Guy, professor de linguística da Universidade de York, Canadá e ambas concordam com seu ponto de vista elogiando essa grande obra que contesta e comprova certos “mitos” relacionados à fala e à gramática normativa existente no Brasil, como pode ser visto nos trechos abaixo:
Diz-se que o “brasileiro não sabe Português” e que “Português é
muito difícil”. [...]
Tudo por causa da confusão que se faz entre língua e gramática
normativa (que não é a língua, mas só uma descrição parcial
dela). Separe uma coisa da outra com este livro, que é um
achado.
Revista Nova Escola, maio de 1999.
“Eu gostaria que alguém já tivesse escrito um livro como este
sobre a língua inglesa”.
Prof. Gregory Guy, Universidade de York (Canadá).
Seu livro é dividido por capítulos e subcapítulos onde: o primeiro fala sobre a mitologia do preconceito linguístico e é constituído por 8 subcapítulos, que na verdade descreve e explica cada mito referente a língua portuguesa; o segundo fala sobre o círculo vicioso do preconceito linguístico onde ele explica o trio formado pela gramática tradicional, ensino tradicional e os livros didáticos; no terceiro capítulo, ele fala sobre como reconhecer esse preconceito, mudar de atitude, etc.; o quarto capítulo é constituído por críticas à gramática tradicional; e por último, um anexo que é uma carta à revista Veja, criticando em peso, a publicação de um texto assinado pelo João Gabriel de Lima chamado “Falar bem e Escrever bem, eis a questão” que veremos mais a frente alguns trechos.
Para falar um pouco sobre os mitos citados em seu livro, em sua palestra, o mais novo integrante da UFF, nos mostrou e explicou todo o processo de ascensão da língua portuguesa no Brasil, desde os primórdios (“descoberta” do país). Explicou que o preconceito não é somente linguístico, mas também social, em que aqueles que possuem um poder aquisitivo maior, discriminam o pobre pela sua forma de falar, de se comportar, de se vestir, entre outros.
E com isso, essa classe dominante vive numa “corrida em busca por palavras rebuscadas” (referência à “corrida do ouro” que ocorreu no século XVII no Brasil) que por muitas das vezes, não existem ou não condizem com a realidade da fala, ou seja, essa classe prefere inventar “normas” que acabam por se tornar verdade, a falar como o restante do povão (atenção para o uso correto da regência do verbo preferir). E pessoas “renomadas” como o Professor Pasquale Cipro Neto, colunista da Folha de S. Paulo, contribuem e muito para que isso ocorra.
Em sua carta à revista Veja, Bagno retira o seguinte trecho da Gramática da Língua Portuguesa, Editora Scipione, SP, 1998, uma obra desse professor, referente a uma explicação para o uso “correto” do verbo custar:
Custar, no sentido de “ser custoso”, “ser penoso”, “ser difícil” tem como sujeito
uma oração subordinada substantiva reduzida. Observe:
Ainda me custa aceitar sua ausência.
Custou-nos encontrar sua casa.
Custou-lhe entender a regência do verbo custar.
Ao compararmos o modo de utilização do verbo atualmente com alguns trechos de autores conceituados e muito mais antigos que o próprio Professor Pasquale, veremos:
(1) “Seixas custou a conter-se” (José de Alencar)
(2) “... as moças custavam a se separar” (Clarice Lispector)
(3) “Renato custou a acordar” (Carlos Drummond de
Andrade)
(4) “Felicidade, custas a vir e, quando vens, não te
demoras” (Cecília Meireles)
Percebemos que o uso do verbo custar com sujeito são utilizados em abundância desde sempre se é assim que posso dizer, e por grandes nomes da literatura brasileira, que fizeram sucesso internacional.
Tentarei então, descrever como Marcus Bagno trata de exemplificar e explicar alguns dos mitos que são criados por nós mesmos, brasileiros. E quando digo nós, incluo a mim mesmo, pois eu só passei a compreender o que acontece com a língua português brasileiro e a distinguir utilizando o “brasileiro” agora, depois de fazer parte da Universidade Federal Fluminense e aprender tanto em somente dois períodos.
O primeiro dos mitos é “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”. Aqui, devemos focalizar na palavra unidade, pois é quando deixamos de reconhecer a variedade dos falantes do português brasileiro, não somente em pronúncia de palavras mas também na quantidade de palavras diferentes para a mesma coisa, pois se formos pensar na palavra tangerina, vemos que no Espírito Santo por exemplo, é chamada de mexerica, já em Pernambuco, é chamada de laranja-cravo. Ou então, se pensarmos na grande disputa entre cariocas e paulistas para saber se é bolacha ou biscoito, que por sinal, deveriam ler um pouco do Preconceito Linguístico e talvez desta forma, parar de discutir sobre quem está certo e quem está errado.
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