Uma Análise das obras de Jean de La Fontaine
Por: Alcir Witcoski • 2/12/2017 • Trabalho acadêmico • 2.375 Palavras (10 Páginas) • 364 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
ALCIR DE LIMA
LES FABLES
Uma análise das obras de Jean de La Fontaine.
CORONEL VIVIDA
16 de Novembro de 2016
ALCIR DE LIMA
LES FABLES
Uma análise das obras de Jean de La Fontaine.
Análise da Obra “Les Fables”, de Jean de La Fontaine, através dos textos: Filosofia da História, escrito por Voltaire; e Humano, demasiado humano, de Friedrich Nietzsche, como parte da obtenção da nota semestral da disciplina Teoria da História I.
Professor (a): Paulo Rodrigo Andrade Haiduke
CORONEL VIVIDA
16 de Novembro de 2016
LES FABLES
Acredita-se que as fábulas sejam tão antigas quanto à oralidade. Isso porque se tornou um gênero amplamente difundido entre as culturas ao longo da história, tendo em vista que “esse caráter universal da fábula se deve, sem dúvida, a sua ligação muito íntima com a sabedoria popular”[1].
Quando se trabalha com fábulas como gênero literário, o mérito da sua criação é atribuído à Esopo[2], por ser a figura documentada como difusor de tal gênero até onde alcançam os limites da história, mas acredita-se que esse gênero já vinha sendo utilizado pelos povos orientais muito antes:
A Fábula, em si, é uma alegoria, uma prosopopeia. É um produto espontâneo da imaginação humana. A origem da fábula se perde no tempo, tornando difícil fixa-la. Acredita-se que a fábula tenha sido documentada desde o tempo de Buda, e consta que muitas fábulas, atribuídas a Esopo, já haviam sido divulgadas no Egito, quase 1000 anos antes de sua época[3].
Como citado, mesmo com as incertezas, é a Esopo a quem atribuímos o mérito de criação das fábulas. Fábulas essas que passaram pelo período estoico romano e se afloraram na idade média, sendo revividas durante o período que caracterizamos como Renascimento, por Jean de La Fontaine.
Segundo Alves, a fábula é “uma das espécies literárias mais resistentes ao desgaste do tempo”[4] e ainda afirma que esta “teve sua forma definitiva na literatura ocidental, graças a Jean La Fontaine”[5].
Jean de La Fontaine viveu em uma época de grandes eventos históricos, um período de intensos conflitos políticos e morais. Num contexto de transição entre o Renascentismo e o Iluminismo, sendo o cenário perfeito para notar os problemas da sociedade europeia. Um exemplo dos escritos criado por La Fontaine em que podemos perceber as características clássicas das fábulas é o Grande congresso dos ratos:
O GRANDE CONGRESSO DOS RATOS
Miciful, gato astuto, havia feito tal matança entre os ratos, que apenas se via um ou outro: a maior parte jazia morta. Os poucos que ousavam a sair de seu esconderijo passavam mil apuros: para aqueles desaventurados, Miciful não era um gato, mas o próprio diabo.
Certa noite, o inimigo dos ratos deu uma trégua, resolveu passear pelos telhados atrás de uma gata, com a qual ficou entretido em um longo colóquio; os ratos sobreviventes aproveitaram para se encontrar em um congresso, para discutir a grande questão daquele momento: o que fazer contra os ataques de Miciful.
O grande líder dos ratos, fazendo jus à sua posição, opinou antes de todos: “Por motivo de cautela, julgo ser preciso prender, sem demora, um guizo no pescoço de Miciful; assim, quando ele sair à caça, todos nós vamos ouvir e fugir do perigo!”.
Todos concordaram com a ideia; a todos a medida pareceu excelente... porém, surgiu uma única dificuldade: saber quem iria amarrar o guizo no pescoço do gato. Um rato disse: “Não vou arriscar a pele, não sou assim tão tolo”. Outro: “Pois eu tão pouco me atrevo”. E assim, um a um os ratos foram desistindo da empreitada e o congresso foi dissolvido.
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Assim sempre acontece nos conselhos e reuniões! Se precisar discutir e deliberar, os conselheiros aparecem aos montes, assim como os planos e projetos. Porém, se algo precisa ser feito, aí não dá para se contar com ninguém![6]
Assim, na fábula citada, fica nítida a proximidade com os ditos populares e a “moral” a serem passadas, e sua crítica à postura humana diante das atitudes a serem desempenhadas.
Como dito por Alves, a maioria das fábulas têm como personagem animais ou criaturas imaginárias que representam de forma alegórica, os traços de caráter dos seres humanos e que se encerra com uma lição moral[7]. Desta forma podemos dizer que La Fontaine se vale da captação de retratos da sua época, na tentativa de mostrar e moralizar a sociedade enfraquecida de princípios éticos do século XVII.
No que ficou conhecido como a “Querela dos Antigos e Modernos”, numa discussão que exaltava a modernidade vivida pelos franceses e partidários dos Antigos, La Fontaine, Boileau, Racine e outros, buscavam demonstrar superioridade da língua e da cultura francesa em relação aos “antigos” latinos e deixava claro que as suas escrituras estavam longe de ser apenas literatura para as crianças, pois sua intenção se voltava na moral que, como dito por Coelho, “era útil para o espírito”[8]. Numa época marcada pelo confronto entre o Racionalismo e o Imaginário[9] e por uma afirmação da língua, cultura e literatura francesa sobre a herança clássica que se preservava e se imitava até aquele momento. Esse aforismo presente na escrita de La Fontaine é o que, posteriormente se caracterizou, juntamente com outros pensadores e críticos, como os Moralistas Franceses.
NIETZSCHE E OS MORALISTAS FRANCESES
Nietzsche se encontra altamente ligado com alguns pensadores franceses do século XVII e XVIII: os assim chamados moralistas franceses, tendo em vista que cada um desses pensadores possuía uma forma distinta de pensar o homem e o mundo, e uma forma peculiar de escrita, expressando suas sentenças e aforismos. Como descritos por Wagner França, esses moralistas são considerados os “primeiros psicólogos” ou “psicólogos franceses”, como são comumente chamados[10]. Essa maneira como os moralistas entendem os homens é um dos fatores que atraíram Nietzsche, como o próprio afirma: “No fundo, é a um pequeno número de velhos franceses que estou sempre a regressar: creio só na cultura francesa”[11].
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